Campanha da Fraternidade 2018: violência contra os povos indígenas, uma prática cada vez mais comum no Brasil

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Por Luis Miguel Modino

Neste ano de 2018 em que a Campanha da Fraternidade nos faz um chamado a procurar caminhos que ajudem a superar a violência, somos convidados a refletir sobre as diversas realidades em que essas situações acontecem em nosso Brasil. Os povos originários são vítimas de violência desde que no ano 1500 os portugueses chegaram naquele local que depois foi conhecido como Costa do Descobrimento.

A força das armas serviu para impor uma nova cultura, um novo sistema social e econômico, uma nova religião. A espada se tornou instrumento de domínio e exploração sobre povos e gentes que habitavam essas terras, num processo de conquista que dizimou a população existente. Esse modo de agir, continua presente no Brasil depois de cinco séculos, sendo hoje os donos do capital os novos opressores dos povos originários.

Tanto no século XVI como no século XXI, a tentativa de domínio sempre tem pretendido acabar com a espiritualidade do bem viver, um jeito de entender a existência que tem como um dos seus princípios o lema da Campanha da Fraternidade deste ano, “vós sois todos irmãos”, que fomenta uma visão comunitária da vida, uma preocupação pelo bem estar do outro.

Podemos afirmar que o Brasil sempre foi um país anti-indígena, atitude cada vez mais intensificada, de modo explícito e implícito. Mesmo sendo calado pela grande mídia, cada vez mais ligada ao poder político e econômico, os ataques contra os povos indígenas se repetem de modo constante. Indígenas ameaçados, espancados, feridos de bala, assassinados, tem se tornado realidade comum, uma atitude que também se tem contra os movimentos e pastorais sociais aliados da causa indígena, como acontece com os agentes do Conselho Indigenista Missionário (CIMI).

Junto aos ataques contra as pessoas não podemos esquecer a invasão de suas terras e águas. O agronegócio, as madeireiras, mineradoras, hidroelétricas invadem, com o aval do governo, pressionado pela bancada ruralista, tenta se apropriar daquilo que a própria Constituição Federal, cada dia mais desrespeitada no Brasil, garante aos povos originários.

Os ataques explícitos caminham junto daqueles que aparentemente não acontecem, mas que uma análise mais aprofundada nos leva a descobrir. Visitar as comunidades indígenas nos mostra realidades de abandono em que muitas vezes vivem os povos indígenas. As condições de ensino, atendimento médico, infra-estrutura básica, mostram uma violência implícita contra quem em muitos casos não recebem um trato humano, o que aos poucos vai matando o povo ou no mínimo a possibilidade de um futuro que responda aos seus anseios mais profundos.

O texto Base da Campanha, no número 103, denuncia a perda de direitos dos povos tradicionais:

A Constituição de 1988 reconhece os povos originários e seus direitos. Ao invés de se caminhar para uma solução que vise à construção da paz no campo pelo reconhecimento dos diversos povos e identidades que nele vivem, têm sido priorizadas medidas que beneficiam justamente aqueles que já são social e economicamente mais favorecidos. Assiste-se à adoção de medidas que expandem as fronteiras agrícolas sobre os territórios ocupados por populações tradicionais”.

A postura da Igreja naquilo que diz respeito aos povos indígenas é diversa. Ao longo da história, a Igreja se tornou em alguns momentos instrumento ao serviço do poder para “civilizar os índios”. Os livros de história recolhem testemunhos de indígenas que sofreram em suas carnes métodos que nada tem a ver com aquilo que o Evangelho nos diz. Inclusive hoje, mesmo que a grande maioria apóia as causas indígenas, ainda existem dioceses ou bispos no Brasil, que negam a presença dos agentes do CIMI, que se mostram contrários a qualquer reivindicação indígena, ou que simplesmente se calam diante dos abusos de poder aos que muitas vezes são submetidos os povos originários.

Tempo de quaresma é tempo de conversão, pessoal e comunitária, tempo de olhar com misericórdia para aquele que sofre as conseqüências de um mundo desigual. Busquemos juntos caminhos que ajudem a superar a violência, fiquemos sempre do lado das vítimas, dos nossos irmãos indígenas, que demonstram um jeito de viver que muitas vezes é bem mais cristão do que aquele que tradicionalmente fez parte da nossa vida.

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Luis Miguel Modino é presbítero e missionário católico na Amazônia, Diocese de São Gabriel da Cachoeira. É correspondente no Brasil para o site Religión Digial e organizador do Blog blogs.periodistadigital.com.

Fonte:

www.portaldascebs.org.br