Reunidos durante a 59ª assembleia geral da CNBB, encerrada na sexta-feira passada (02/09), os bispos do Brasil refletiram sobre “Pentecostalismo e Evangelização” através de uma análise de conjuntura eclesial elaborada pelos membros da INAPAZ (Instituto Nacional de Pastoral Padre Alberto Antoniazzi) e sistematizada pelo teólogo pe. Geraldo De Mori, SJ (FAJE).
A reflexão, apresentada em três etapas (diagnóstico, análise e prospecção), foi introduzida por uma nota prévia de autoria do pe. Marcial Maçaneiro (PUCPR) em que se explicitou, com maior detalhamento, o que se entende por pentecostalismo e quais suas manifestações eclesiais, seja em comunidades de tradição protestante, seja dentro da própria Igreja Católica, como é o caso do movimento da Renovação Carismática Católica (RCC).
Para um diagnóstico mais sistêmico, o INAPAZ tomou, além da RCC, também as igrejas do Evangelho Quadrangular e Assembleias de Deus como referências para a análise dos principais aspectos positivos e dificuldades, desafios e oportunidades do pentecostalismo católico e evangélico no Brasil. Foram levados em conta nestas leituras os atores de cada instituição, suas metodologias, subsídios e dinâmicas pastorais, bem como os aspectos sociais, econômicos, culturais, políticos, ambientais e tecnológicos que as constituem e afetam.
Dentre os pontos fortes mencionados, merecem destaque três características que se verificam, mesmo que com particularidades locais, em todas as expressões analisadas: a marcante autonomia e presença do laicato nos processos de evangelização, o dinamismo e simplicidade na comunicação da fé (especialmente nas redes sociais) e os fortes laços entre os fiéis, resultantes de processos de suporte mútuo e de relacionamentos interpessoais contínuos. Quanto aos pontos fracos, podem-se resumir em: fundamentalismos e frágil formação teológica; religiosidade alienante das questões sociopolíticas e, mais frequentemente, filiada a grupos políticos ultraconservadores e da extrema direita. O próprio documento, no entanto, ressalta que “o fenômeno pentecostal é muito diverso e complexo” e que o diagnóstico não chegou a abarcar as igrejas “da terceira onda, identificadas como neopentecostais, que tiveram grande expansão nas últimas décadas”.
Do ponto de vista dos desafios do pentecostalismo para a evangelização na Igreja católica, o documento destaca tendências de “fragmentação no tecido eclesial” atestada pela “proliferação de alguns grupos e comunidades que, ao invés da lógica da comunhão e da busca de unidade dada pelo Espírito, segue a dos interesses pessoais dos fundadores, tornados novos gurus ou vendilhões do templo a explorar a fé simples dos mais pobres.” Além disso, nota-se em tendências do neopentecostalismo uma certa “afinidade eletiva com os princípios do neoliberalismo” que abre espaço para as teologias da prosperidade e do domínio e que facilmente descambam para religiosidades de tipo “mágico e devocional, e a da autoajuda, utilizando-se da linguagem do coaching, ambas com forte tendência individualista”. Essas concepções favorecem uma cosmovisão em que “os problemas da sociedade são de ordem espiritual, sem nenhuma origem social econômica ou política.” Tendo em vista a presença massiva dos grupos pentecostais e neopentecostais nos meios populares, essas tendências preocupam, especialmente, por não favorecem entre as comunidades uma consciência crítica que as ajude a lutar por direitos e cidadania, papel social também importante da religião.
Particularmente, no mundo pentecostal católico, o documento destaca com preocupação o crescimento do uso das mídias sociais e da ação de influenciadores na difusão de ideologias neotradicionalistas que, não raramente, se opõem frontalmente às orientações da CNBB e do Papa Francisco, no que muitos teólogos tem chamado de verdadeiro “cisma”, que, “embora não seja de fato e de direito declarado, o é nos sentimentos e na ruptura real com as orientações do conjunto do magistério”.
A análise, no entanto, não teve como escopo a demonização do pentecostalismo (como em outros momentos históricos), ao contrário, apontou valores e perspectivas fundamentais dessas manifestações tais quais a “capacidade de tocar o afeto do indivíduo pós-moderno, fragmentado, fortemente marcado pelo mundo tecnológico”, “a resposta comunitária à tendência individualista” e a expertise no uso das mídias sociais no processo evangelizador. Sobretudo, apontou-se para o provocador chamado à conversão que o movimento pentecostal sugere às estruturas hierárquicas e institucionais da Igreja católica no que diz respeito à uma maior abertura ao protagonismo laical e uma renovada aproximação das periferias urbanas, onde a expressão evangélica do pentecostalismo é decididamente presente.
O documento salientou ainda os avanços observados no diálogo ecumênico entre o pentecostalismo e o catolicismo, alimentando um importante horizonte de contribuição no “discernimento das leituras conflitantes que hoje permeiam a sociedade e a Igreja do Brasil, como também o movimento carismático católico”.
Para ler o estudo na íntegra, clique aqui: Pentecostalismo e Evangelização.
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Matheus Cedric Godinho
É professor de Filosofia e Ensino Religioso e autor de material didático para Educação Básica nas mesmas áreas. Leigo católico, cofundador da Oficina de Nazaré e membro do Conselho Editorial da Revista de Pastoral da ANEC. Atualmente coordena o Observatório da Evangelização PUC Minas.
Gostei muito da análise, “trás à baila” questões que precisam ser visibilizadas e problematizadas.