Átrio dos Gentios convida jovens a debater violência contra mulheres

«Peço-vos que rezeis comigo por todas as raparigas e jovens vítimas de violências, de maus-tratos, de exploração e de guerras. Esta é uma chaga, este é um grito abafado que deve ser ouvido por todos nós e que não podemos continuar a fingir que não vemos nem ouvimos».

Papa Francisco

Prepotência e medo. A dignidade da mulher contra a violência” foi o tema da próxima sessão do Átrio dos Gentios, plataforma da Igreja católica para o diálogo entre crentes e não crentes coordenada pelo Conselho Pontifício da Cultura.

O encontro, que aconteceu no início de Abril, em Roma, insere-se no projeto do Átrio dos Estudantes, que se propõe dialogar com jovens dos últimos três anos de escolas superiores.

A sessão, que conta com o apoio institucional da Região do Lazio, inicia-se com a projeção do filme “O amor roubado”, do cineasta italiano Irish Braschi, livremente inspirado no romance homónimo de Dacia Maraini, que cruza as histórias de cinco mulheres que têm em comum um amor violento e doentio.

Após a exibição, cerca de 300 jovens que participaram do encontro, colocaram, a quente, perguntas às personalidades presentes, abrindo um debate livre e vivo, lê-se na página do Átrio dos Gentios.

Entre os debatedores estavam o presidente do Conselho Pontifício da Cultura, cardeal Gianfranco Ravasi, Francesca Corrao, especialista em assuntos do Islão, Giuliano Amato, jurista e ex-primeiro-ministro de Itália, e Consuelo Corradi, presidente da Fundação Átrio dos Gentios.

Para responder às perguntas estavam também Giorgia Abeltino, diretora das relações institucionais da Google, que se pronunciará sobre fenômenos de violência na internet, e Gemma Vecchio, que falou sobre a visão da mulher na cultura africana.

O propósito da iniciativa «com e para os estudantes» visa discutir a «fenomenologia da violência física, sexual e psicológica», bem como a «ausência da espiritualidade e solidariedade na sociedade ocidental», que legitima o consumo como prioridade, tornando a mulher um objeto como outros que se podem adquirir.

«Qual é o papel, neste contexto, da autoridade? Existem modelos de heróis e heroínas em que se inspirar? A sociedade ensina a reconhecê-los? E os meios de comunicação, que mensagem querem veicular? A violência, a posse, são uma questão cultural ou dados naturais?» são algumas das inquietações levantadas no encontro.

O objetivo do debate foi

«estimular uma reflexão sobre temáticas filosóficas e culturais em linha com o Átrio dos Gentios: dialogar para se conhecer a si próprio e os outros, porque ‘os medos nascem quando se deixa de ser capaz de encontrar o olhar do outro’».

A mais recente assembleia plenária do Conselho Pontifício da Cultura, realizada em 2015, centrou-se no tema das culturas femininas, e recentemente o organismo apresentou um grupo de trabalho constituído por mulheres de variadas origens e experiências profissionais.

O presidente do Conselho Pontifício da Cultura mostrou-se hoje convicto de que

«o único verdadeiro instrumento de prevenção da violência, em geral e especificamente contra as mulheres, é a educação, e essa é um grande tarefa para a escola e para a Igreja».

As declarações do cardeal italiano Gianfranco Ravasi foram proferidas na sequência do encontro “Prepotência e medo. A dignidade da mulher contra a violência”, que aconteceu em Roma, co-organizado pelo departamento da Santa Sé que dirige e dirigido a estudantes dos últimos anos do ensino superior. Para o cardeal Ravasi:

«As religiões que no passado foram instrumentos de guerra e oposição, agora, pelo menos na sua alma autêntica, são a única semente depositada neste terreno tão cheio de discórdia. Pensemos no que o papa Francisco está a fazer nessa direção».

O papa, prosseguiu o biblista, «sublinha continuamente a importância de respeitar e valorizar a mulher. Convida a atitudes de misericórdia e compreensão nas relações. Mesmo perante os erros do outro, não se pode irromper contra ele com a violência da reação instintiva».

Essa evolução, todavia, «ainda não se deu integralmente, e alguns homens parecem permanecer no tempo das cavernas», frisou o prelado.

No folheto do encontro sobre a dignidade da mulher contra a violência, realizado no âmbito do Átrio dos Gentios, plataforma da Santa Sé para o diálogo entre crentes e não crentes, encontra-se a oração pelos jovens vítimas de violência que Francisco proferiu em 12 de março: «Peço-vos que rezeis comigo por todas as raparigas e jovens vítimas de violências, de maus-tratos, de exploração e de guerras. Esta é uma chaga, este é um grito abafado que deve ser ouvido por todos nós e que não podemos continuar a fingir que não vemos nem ouvimos».

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