A realidade nos desafia constantemente e nos leva a enfrentar situações que meses atrás eram inimagináveis para nós. Se há um ano, no final da Assembleia Sinodal, nos tivessem dito que este 26 e 27 de outubro de 2020 seria a primeira assembleia plenária do novo organismo episcopal que o Documento Final propunha para trazer de volta ao território as decisões do Sínodo, isso nos soaria como algo quase impossível.
Mas com a ajuda da tecnologia e a boa disposição dos participantes, a Conferência Eclesial da Amazônia tem conseguido se reunir. No final, cerca de 250 participantes, com uma grande participação feminina, estiveram presentes nesta assembleia, que é eclesial, não episcopal, como proposto pelo papa Francisco. De fato, como afirmou o cardeal Claudio Hummes, presidente da CEAMA, o Papa sabe da realização desta assembleia, já que o próprio Cardeal lhe escreveu informando-o de sua celebração e de seus objetivos: reunir a Igreja da Pan-Amazônia, escutar uns aos outros e iniciar a formulação de um Plano Pastoral de Conjunto.
O Papa está muito feliz que o processo pós-sinodal amazônico continue, como fez ver ao cardeal Hummes em resposta à sua carta, e que ele acompanha e se sente próximo de tudo o que está acontecendo. O presidente da CEAMA lembrou os passos dados, um caminho que começou na Conferência de Aparecida em 2007, continuou no encontro do papa Francisco com os bispos no Rio de Janeiro em 2013, a criação da REPAM em 2014, a convocação do Sínodo, que nas palavras de Hummes, “foi o ponto alto deste processo, que agora deve continuar com a aplicação do Sínodo no território”.
Não podemos esquecer que “a principal missão da CEAMA é ajudar a delinear ‘uma Igreja com rostos amazônicos’“, algo em que o cardeal Michael Czerny, delegado do papa Francisco na CEAMA, insistiu, seguindo o chamado do Concílio Vaticano II de “inserir-se nas culturas dos povos ‘à maneira da economia da Encarnação'”. Para Czerny, estamos diante de um instrumento “para dinamizar a evangelização em todo o território”. Ele enfatizou a diversidade de componentes dentro da CEAMA, que “trará riqueza de espírito, conhecimento e experiência para delinear juntos o primeiro Plano pastoral da Igreja em toda a região”.
No caso da CEAMA, estamos diante da “primeira conferência eclesial de dimensão regional e estilo sinodal”, sublinhou Czerny. Ele vê a CEAMA como “uma expressão alegre do ‘transbordamento’ do Espírito Santo e da eterna novidade de Jesus Cristo que ‘nos surpreende com sua constante criatividade divina'”. Trata-se de “uma planta ainda recém-plantada” que, com esta assembleia, “começa a crescer em toda sua beleza”. A partir daí o Cardeal encorajou os participantes “para que a fé e as culturas de todos os povos originários e amazônicos se abram a um futuro cheio de esperança, no marco de uma ecologia integral que defenda seu precioso território, suas águas, suas terras e seus ares”.
A CEAMA pretende tornar realidade o tempo da sinodalidade, de caminhar juntos. Estamos diante de uma nova realidade, uma canoa que foi construída e está pronta para entrar na água e começar a navegar, que é caracterizada pelo princípio da inclusão e pluralidade. É a expressão de uma Igreja que deseja se irmanar com a realidade vivida pelos diferentes povos em seu território, uma Igreja que está descobrindo que o Espírito sopra sobre o poliedro da diversidade cultural que acompanha as comunidades.
A Conferência Eclesial da Amazônia retoma as orientações do papa Francisco para ajudar na inculturação plural e intercultural da região e para configurar os rostos amazônicos do Povo de Deus, algo que tem como exemplo a criação de um rito amazônico. Estamos diante de uma nova casa de acolhida no território amazônico, que sonha em tecer relações sociais e territoriais que são o capital que faz a diferença. Estamos na hora do diálogo dos saberes, de propósitos coletivos, de novos círculos que dão vida a uma nova ordem social e eclesial.
Somos chamados a descobrir as sementes de esperança presentes na Igreja da Amazônia, algo que Liliana Franco, presidente da CLAR, destacou. Recordando as palavras de Pedro Casaldáliga, ela afirmou a necessidade de uma Igreja vestida apenas com o Evangelho e sandálias, e enfatizou a Querida Amazônia como um sinal de esperança, que traduz os clamores em um itinerário de conversão que nos impele a sonhar. Outras sementes de esperança são a reforma do CELAM, que, com base numa ampla participação, visa determinar as prioridades da Igreja no continente. Também o fortalecimento da Igreja doméstica, algo promovido neste tempo de pandemia, que tornou presente uma nova maneira de construir a comunidade, de celebrar, de gerar encontro e compromisso.
As CEBs estão sendo um sinal de uma ação comprometida e solidária, que em torno da Palavra e fazendo uso da tecnologia estão empenhadas em celebrar e viver a solidariedade. Os encontros de formação são um sinal de esperança, procurando sempre ser melhores testemunhas, redes e trabalho interinstitucional, para gerar força e tornar possível a mudança. O mesmo pode ser dito de uma Igreja itinerante, intercongregacional, que une forças para responder a realidades que não poderiam ser feitas sozinhas. Liliana Franco vê o Fratelli Tutti como um presente e uma contribuição para a reflexão que temos feito, do ponto de vista da fraternidade, do sororal e a amizade social.
A Assembleia da CEAMA, como lembrou dom David Martínez de Aguirre, que falou sobre os sonhos do papa Francisco na Querida Amazônia, é um momento “para passar à ação, para energizar esses sonhos”. Por esta razão, o vice-presidente da CEAMA insistiu na importância de se conectar com o acima exposto, de compartilhar o que está sendo vivido na Igreja da Amazônia, algo que foi realizado nos trabalhos dos 10 grupos nos quais os participantes foram divididos, seguindo os sonhos de Querida Amazônia e mostrando como esta nova conferência está sendo acolhida nas Igrejas locais. Tudo isso na tentativa de dar forma e continuar a viver o Sínodo, promovendo os sonhos. Estamos diante da oportunidade, nas palavras do cardeal Barreto, de que “esta semente pode germinar, confiando na graça de Deus que faz esta semente germinar em todos nós”.
Sobre o autor:
Luis Miguel Modino – Padre diocesano de Madri, missionário fidei donum na Amazônia, residindo atualmente em Manaus – AM. Faz parte da Equipe de Comunicação da REPAM. Correspondente no Brasil de Religión Digital e colaborador do Observatório da Evangelização e em diferentes sites e revistas.
(Os grifos são nossos)
Asamblea plenaria de la CEAMA, expresión de una Iglesia que desea hermanarse con los pueblos amazónicos
La realidad nos desafía constantemente y nos lleva a enfrentar situaciones que meses atrás nos resultaban inimaginables. Si hace un año, cuando acababa la Asamblea Sinodal, nos hubiesen dicho que este 26 y 27 de octubre se llevaría a cabo la primera asamblea plenaria del nuevo organismo episcopal que el Documento Final proponía para llevar de vuelta al territorio las decisiones del Sínodo, nos sonaría como algo casi imposible.
Pero con la ayuda de la tecnología y la buena disposición de los participantes se ha conseguido que la Conferencia Eclesial de la Amazonía se haya encontrado. Finalmente han sido unos 250 participantes, con una amplia participación femenina, quienes se han hecho presentes en esta asamblea, que es eclesial, y no episcopal, siguiendo la propuesta del papa Francisco. De hecho, como afirmaba el cardenal Claudio Hummes, presidente de la CEAMA, el Papa sabe de la realización de esta asamblea, pues el propio purpurado le escribió informándole sobre su celebración y objetivos: reunir a la Iglesia de la Panamazonía, escucharse unos a los otros e iniciar la formulación de un Plano Pastoral de Conjunto.
El Papa está muy contento de que el proceso postsinodal amazónico siga adelante, como le hizo ver al cardenal Hummes en una respuesta a su carta, y que acompaña y se siente próximo de todo lo que se está llevando a cabo. El presidente de la CEAMA ha hecho una lectura de los pasos dados, una andadura que comenzó en la Conferencia de Aparecida, en 2007, que continuó en el encuentro del papa Francisco con los obispos en Rio de Janeiro, en 2013, la creación de la REPAM, en 2014, la convocatoria del Sínodo, que en palabras de Hummes, “fue el punto alto de este proceso, que ahora debe continuar con la aplicación del Sínodo en el territorio”.
No podemos olvidar que “la misión principal de la CEAMA es ayudar a delinear ‘una Iglesia con rostros amazónicos’”, algo en lo que insistía el cardenal Michael Czerny, delegado del Papa Francisco en la CEAMA, siguiendo la llamada del Vaticano II “a insertarse en las culturas de los pueblos ‘a semejanza de la economía de la Encarnación’”. Estamos ante un instrumento “para dinamizar la Evangelización en todo el territorio”, destacando Czerny la diversidad de componentes dentro de la CEAMA, lo que “aportará riqueza de espíritu, conocimiento y experiencia para delinear juntos el primer plan pastoral de la Iglesia en toda la región”.
En el caso de la CEAMA, estamos ante la “primera conferencia eclesial de dimensión regional y estilo sinodal”, subraya Czerny, que ve la CEAMA como “una alegre expresión del ‘desborde’ del Santo Espíritu y de la eterna novedad de Jesucristo que ‘nos sorprende con su constante creatividad divina’”. Estamos ante “una planta recién sembrada”, que con esta asamblea “comienza a crecer en toda su belleza”. Desde ahí, el cardenal alentaba a los participantes a “que la fe y las culturas de todos los pueblos originarios y amazónicos se puedan abrir a un futuro lleno de esperanza, en el marco de una ecología integral que defienda su precioso territorio, sus aguas, sus tierras y sus aires”.
La CEAMA pretende hacer realidad el tiempo de la sinodalidad, del caminar juntos. Estamos ante una nueva realidad, una canoa que se ha ido construyendo y está lista para entrar en el agua y comenzar a navegar, que se caracteriza por el principio de la inclusión y la pluralidad. Es la expresión de una Iglesia que desea hermanarse con la realidad que viven los distintos pueblos en su territorio, una Iglesia que está descubriendo que el Espíritu sopla sobre el poliedro de la diversidad cultural que acompaña a las comunidades.
La Conferencia Eclesial de la Amazonía asume las orientaciones del papa Francisco para ayudar a la inculturación plural e intercultural en la región y configurar los rostros amazónicos del Pueblo de Dios, algo que tiene como ejemplo la creación de un rito amazónico. Estamos ante una nueva casa de acogida del territorio Amazónico, que sueña con tejer relaciones sociales y territoriales que sean el capital que hace la diferencia. Estamos en la hora del diálogo de saberes, de los propósitos colectivos, de nuevos círculos que dan vida a un nuevo orden social y eclesial.
Somos llamados a descubrir las semillas de esperanza presentes en la Iglesia de la Amazonía, algo que afirmaba Liliana Franco, presidenta de la CLAR. Recordando las palabras de Pedro Casaldáliga, afirmaba la necesidad de una Iglesia vestida solamente de Evangelio y sandalias, y destacaba Querida Amazonía como signo de esperanza, que traduce los clamores en un itinerario de conversión que nos impulsa a soñar. Otras semillas de esperanza son la reforma del CELAM, que, desde una amplia participación, pretende determinar las prioridades de la Iglesia en el continente. También el fortalecimiento de la Iglesia doméstica, algo impulsado en este tiempo de pandemia, que ha hecho presente una nueva manera de construir lo comunitario, de celebrar, de generar encuentro y compromiso.
Las comunidades de base están siendo señal de una acción comprometida y solidaria, que en torno a la Palabra y haciendo uso de la tecnología se empeñan en celebrar y vivir la solidaridad. Son signo de esperanza los encuentros formativos, siempre buscando poder ser mejores testigos, las redes y el trabajo interinstitucional, para generar fortaleza y hacer posible el cambio. Lo mismo se puede decir de una Iglesia itinerante, intercongregacional, que une fuerzas para responder a realidades que solos no se podría. Liliana Franco ve la Fratelli Tutti como un regalo y un aporte a la reflexión que venimos haciendo, desde lo fraterno, lo sororal, la amistad social.
La Asamblea de la CEAMA, como recordaba Mons. David Martínez de Aguirre, que hablaba sobre los sueños del Papa Francisco en Querida Amazonía, es momento “para pasar a la acción, para dinamizar esos sueños”. Por eso, el vicepresidente de la CEAMA insistía en la importancia de conectar con lo anterior, de compartir lo que se está viviendo en la Iglesia de la Amazonía, algo que se ha llevado a cabo en los trabajos en los 10 grupos en los que se han dividido los participantes, siguiendo los sueños de Querida Amazonía y poniendo de manifiesto cómo se está acogiendo en las Iglesias locales esta nueva conferencia. Todo ello en la tentativa de plasmar y continuar viviendo el Sínodo, impulsando los sueños. Estamos ante la oportunidad, en palabras del cardenal Barreto, de que “germine esa semilla, confiarla en la gracia de Dios que hace germinar esa semilla en todos nosotros”.