As lágrimas das mulheres dos Evangelhos nos falam da sede de Jesus… José Tolentino

Jesus recolhe todas as lágrimas do mundo

(Síntese da 6.ª meditação de José Tolentino)

 

Na manhã de quarta-feira, 21/02/2018, quarto dia dos exercícios espirituais da Quaresma do papa Francisco e da Cúria Romana, a sexta meditação do P. Tolentino Mendonça centrou-se nas lágrimas das mulheres dos Evangelhos, que evocam a sede de Jesus.

Recorrendo a citações extraídas da Bíblia e de vários autores, sublinhou que as lágrimas manifestam sede de vida e de relação.

Muitas são as mulheres presentes nos Evangelhos, diferentes nas suas condições existenciais, etárias, econômicas. Aquilo que as une é seu estilo, em benefício da evangelização, caracterizado pelo serviço, mas sobretudo são as lágrimas, expressão de emoções, conflitos, alegrias e feridas.

«As lágrimas dizem que Deus encarna-se nas nossas vidas, nos nossos fracassos, nos nossos encontros. Nos Evangelhos inclusive Cristo chora. Jesus encarrega-se da nossa condição, faz-se um de nós, e por isso as nossas lágrimas são englobadas nas suas. Ele leva-as verdadeiramente consigo. Quando chora, recolhe e assume solidariamente todas as lágrimas do mundo».

O desejo de vida

São precisamente as mulheres dos Evangelhos que concedem cidadania às lágrimas, mostrando a importância deste sinal, afirmou José Tolentino, fazendo referência à psicanalista Julis Kristeva.

Esta não crente dizia que quando um paciente deprimido chegava ao ponto de chorar no divã, acontecia uma coisa muito importante: estava a começar a afastar-se da tentação do suicídio, porque as lágrimas não narram o desejo de morrer mas «a nossa sede de vida».

Deus conhece a dor do pranto

Desde criança o pranto indica sede de relação. Muitos santos, como Inácio de Loyola, choravam copiosamente. E o filósofo Emil Cioran (1911-1995) afirmava que no juízo final serão pesadas apenas as lágrimas, que dão um sentido de eternidade ao nosso devir, e que o dom da religião é precisamente o de nos ensinar a chorar: as lágrimas são o que nos pode tornar santos depois de se ser humanos.

«A nossa biografia pode ser contada também através das lágrimas: de alegria, de festa, de comoção luminosa; e de noite escura, de laceração, de abandono, de arrependimento e de contrição… Pensemos nas nossas lágrimas derramadas e naquelas que permaneceram um nó na garganta e cuja falta nos é pesada ou ainda nos pesa. A dor daquelas lágrimas que não foram choradas. Deus conhece-as todas e acolhe-as como uma oração. Portanto tenhamos confiança. Não as ocultemos dele».

Procura de relação

Para Gregório de Nazianzo as lágrimas são, em certo sentido, um quinto batismo. E Nelson Mandela, na prisão, teve os olhos tão atacados que perdeu a capacidade de derramar lágrimas, mas ainda assim não se extinguiu a sua sede de justiça.

Quando se chora, ainda que haja um esforço para não mostrar ao outro que se chora, a verdade é que choramos sempre para que o outro veja. «É a sede do outro que nos faz chorar».

A concluir, o José Tolentino mencionou a mulher que chora e lava os pés de Jesus com as suas lágrimas. Muitas vezes toma-se uma distância crítica face à religiosidade popular, que se exprime com abundância de lágrimas. E por vezes é difícil, para os pastores, perceber a religião dos simples baseada não em ideias mas em gestos.

É precisamente a impressionante qualidade do que a mulher dá a Jesus que permite constatar que Simão, o chefe da casa, não disse nada. «É esta inédita hospitalidade que Jesus pretende exaltar», «esta sede, de que as lágrimas são sinal e que nos toca aprender».

Debora Donnini
In Vatican News
Imagem: sanchairat/Bigstock.com
Publicado em 23.02.2018

Fonte:

“As lágrimas que revelam uma sede que devemos aprender”

José Tolentino Mendonça continuou a série de pregações ao Papa e seus colaboradores. “As lágrimas podem nos tornar santos, depois de humanos“, afirmou.

Cidade do Vaticano

Na manhã desta quarta-feira (21/02/2018), o pregador, Pe. Tolentino Mendonça, propôs uma meditação intitulada “As lágrimas que falam de uma sede”, inspirada na presença feminina no Evangelho.

 

As mulheres nos abrem o Evangelho

José Tolentino ressaltou que as mulheres, na narração evangélica, se expressam quase sempre com gestos. Dedicam-se ao serviço, não competem pela liderança; estão ‘com’ Jesus e fazem de seu destino o próprio. ‘Servem’, que na gramática de Jesus, é o verbo mais nobre.

“Com esta linguagem, evangelizam com o modo dos periféricos, dos simples, dos últimos ”

 

Uma espécie de sede

Curiosamente, no Evangelho de Lucas, um dos elementos que une as personagens femininas são as lágrimas: todas choram, expressando emoções, conflitos, alegrias, solidão ou feridas. Nos Evangelhos, Cristo também chora, assumindo a nossa condição e todas as lágrimas do mundo. Elas explicam a nossa sede de vida, desejo de relação. São a linha divisória que distingue os seres que sabem tudo dos seres que não sabem nada. São aquilo que pode nos tornar santos depois de humanos.

As lágrimas da mulher sem nome

O Evangelho de Lucas apresenta uma mulher que chora e ensina a chorar: uma intrusa, discípula anônima que segue o Mestre confiante que Ele a protegerá. Aparece sem ser convidada, unge e chora aos pés de Jesus. Não teve medo, mas suas lágrimas ‘contavam sua história’, como afirma o escritor Roland Barthes.

Nosso choro não revela apenas a intensidade da nossa dor, mas a natureza de nossa sensibilidade pois chorando, nos dirigimos sempre a alguém. É a sede do próximo que nos leva a chorar. 

“As lágrimas suplicam a presença de um amigo capaz de acolher nossa intimidade sem palavras e abraçar a nossa vida, sem julgar ”

 

Vê esta mulher?

Prosseguindo a meditação, Pe. Tolentino afirmou que o pranto da mulher intrusa era um ‘dilúvio’: ela banhou os pés de Jesus, os enxugou com os cabelos, os beijou e perfumou”. Em uma palavra, ‘tocou’ Jesus.

“Como sacerdotes, muitas vezes tomamos distância da religiosidade popular que se expressa com lágrimas e afetividade, considerando-a uma forma de devoção ‘primitiva’; ou às vezes nem a notamos.”

É difícil perceber a religião dos simples, baseada em gestos e não em ideias. A religião dos pastores pode ser perfeita em termos formais, teologicamente impecável, mas é ascética, impessoal, atuada com eficiência… mas não comove, não chega às lágrimas… vai com o ‘piloto automático”.

“Repete-se conosco – concluiu o pregador – o que aconteceu com o fariseu: convidamos Jesus a entrar em nossa casa, mas não somos disponíveis a celebrar com Ele aquela forma radical de hospitalidade que é o amor”.

 

Fonte:

Vantican News