Breve relatório da grande assembleia arquidiocesana da 6ª APD
Sábado, dia 23/11/20019, em assembleia arquidiocesana pela VI APD, com delegados e delegadas vindos das cinco regiões episcopais e com representantes de todas as instâncias, a Arquidiocese de Belo Horizonte, com quase unanimidade em cada uma das votações, atualizou e aprovou as novas diretrizes que impulsionarão os planos de pastoral e ações evangelizadoras no próximo quadriênio 2020-2023.
Reflexão de Dom Walmor de Oliveira Azevedo deu o tom da grande assembleia arquidiocesana
Segundo o arcebispo, a Igreja se reune em assembleia não simplesmente para cumprir uma formalidade, mas porque ela é essencialmente de tradição sinodal. Mesmo reconhecendo que nem sempre, ao longo de sua história, ela tenha conseguido concretizar a sua sinodalidade, esta é a sua verdadeira natureza evangélica.
Depois de recordar a todos trechos paradigmáticos da Palavra de Deus, lembrou as sábias palavra de Jesus aos seus discípulos e discípulas, quando constatou entre eles disputas de poder. O Mestre fez memória da violência das relações de dominação encetadas pelos chefes das nações e pelos poderosos de seu tempo e disse aos seus seguidores e seguidoras: “Entre vós não deve ser assim!”. Jesus mostra a importância do poder que é exercido pela lógica do serviço e que dá importância a igualdade fundamental dos filhos e filhas de Deus.
A Igreja, desse modo, precisa valorizar e criar, concretamente, instâncias de escuta e dinâmicas de participação de todos os batizados. Lembrou a todos o sentido dos diversos conselhos nos níveis comunitário, paroquial, forâneo, regional e arquidiocesano. Que precisamos valorizar esses espaços e preparar os seus membros para a corresponsabilidade na vida da Igreja.
Padre Joel Maria dos Santos resgatou a caminhada concretizada pela Arquidiocese com as APDs
Segundo padre Joel, esta Igreja particular, ao longo de sua caminhada, vem aperfeiçoando suas instâncias e dinâmicas participativas. A APD é um desses momentos privilegiados para, abertos aos sinais do Espírito Santo, discernir os rumos da ação evangelizadora.
Explicitou, então, o rico processo participativo que foi concretizado na Arquidiocese desde a aprovação no Conselho pastoral arquidiocesano, Conselho episcopal e presbiteral da 6ª APD, logo após a aprovação das DGAE da CNBB, e de sua convocação por Dom Walmor, no mês de agosto.
Agradeceu a equipe que preparou o importante Instrumento de trabalho. Enfatizou, da primeira etapa da 6ª APD, a grande adesão e participação das paróquias. Disse que das 280 paróquias da Arquidiocese, 261 fizeram as suas assembleias paroquiais e enviaram seus relatórios para as Regiões episcopais dentro do prazo estabelecido Recordou também do envolvimento de diversas instâncias que fizeram as suas assembleias: Conselho pastoral arquidiocesano, os quatro vicariatos episcopais (Veap, Veasp, Vecc e Veam), diáconos, escolas, juventudes… e das mais de 400 respostas alcançadas pelo questionário de participação on line, disponibilizado no site da Arquidiocese e no blog do Observatório da Evangelização. Destacou ainda a seriedade do trabalho de síntese e a concretização das assembleias regionais, na segunda etapa da 6ª APD.
Em seguida, passou dois vídeos com cenas diversas coletadas ao longo das reuniões e das assembleias feitas nas duas primeiras etapas da 6ª APD. E finalizou a sua palavra explicitando a importância de, pela primeira vez na história das APDs de Arquidiocese de Belo Horizonte, da elaboração de um Objetivo geral gerador de lucidez a partir das quatros perguntas: O que?, Quem?, Como? e Para que?
Explicitação dos quatro pilares da casa com as três diretrizes correspondentes
a) Casa da Palavra
Lucimara Trevizan, da equipe organizadora da 6ª APD e membro do Conselho pastoral arquidiocesano, apresentou a Casa da Palavra, deixando claro a importância da Centralidade da Palavra e do acesso de todos à Palavra de Deus. Ela mostrou que as três diretrizes mais bem avaliadas foram:
- 1. Investir para que os fieis, em todas as comunidades, que não tenham acesso à celebração eucarística semanal, tenham a celebração da Palavra, com comunhão eucarística, feita por ministros leigos devidamente preparados;
- 2. Investir na criação, ampliação e acompanhamento dos chamados grupos de reflexão bíblica – Círculos Bíblicos, Encontros Bíblicos, Leitura Orante da Palavra de Deus e outros possíveis na cultura digital -, para que todos os fieis possam cultivar intimidade e conhecimento da Palavra de Deus e fomentem o espírito comunitário em rede de pequenas comunidades;
- 3. Promover uma catequese atenta à cultura urbana por meio de metodologias e linguagens adequadas e criativas a serviço da educação da fé.
b) Casa do Pão
O padre Júnior Vasconcelos do Amaral, da paróquia Nossa Senhora de Guadalupe e professor de teologia do Instituto de Filosofia e de Teologia Dom João Rezende Costa, da PUC Minas, conduziu o segundo pilar, deixando claro a importância do cultivo da memória viva de Jesus como fonte eucarística da vida eclesial. Ele revelou as três diretrizes que foram mais bem avaliadas como resultante do itinerário das duas primeiras etapas das 6ª APD:
- Valorizar a religiosidade popular no processo de evangelização como um caminho para aprofundar a fé, iluminado pela Palavra de Deus, com vistas à pertença e à participação na comunidade eclesial;
- Cuidar para que as orientações do Secretariado arquidiocesano de liturgia sejam valorizadas e reconhecidas pela pastoral litúrgica nas paróquias e comunidades, para que, chegando às bases, os cristãos celebrem, de fato em comunhão, como a Igreja celebra;
- Investir no cultivo da espiritualidade do seguimento de Jesus em todos os processos formativos da Arquidiocese para superarmos as experiências religiosas fechadas em si mesmas, o conservadorismo e o clericalismo.
c) Casa da Caridade
O padre Júlio César Gonçalves Amaral, coordenador do Vicariato episcopal para ação social e política, Veasp, apresentou o terceiro pilar da casa, enfatizando que a experiência do amor de Deus não deixa que fiquemos indiferentes à trágica situação de nossos irmãos mais pobres e vulneráveis. A evangelização, como o papa Francisco deixa claro na Evangelii Gaudium, tem um irrenunciável dimensão social que nos compromete na Igreja e na Sociedade. Ele explicitou as três diretrizes mais bem votadas para esta importante dimensão da vida cristã:
- Praticar a opção preferencial pelos pobres, cuidando para que todas as instâncias da Arquidiocese promovam a dignidade humana dos pobres e excluídos e capacitando os agentes da evangelização, por meio dos Núcleos de Acolhida e Articulação Paroquial (Naasp’s), da Rede de Articulação da Solidariedade Paroquial (Reartisol), das Pastorais Sociais e Movimentos populares, para que nossas comunidades e famílias sejam casas de acolhida, encontro e cuidado solidário e inclusivo, dos mais pobres, sobretudo, com migrantes e refugiados;
- Promover a ecologia integral e a presença pública da Igreja em todos os municípios da Arquidiocese, promovendo uma primavera das pastorais sociais e cuidando da casa comum em todas as comunidades eclesiais, atentas criticamente, de modo especial, às consequências da mineração;
- Investir, profeticamente, na criação e fortalecimento dos grupos de fé e política e outros organismos eclesiais, em vista do compromisso de todos os cristãos com a política e a cidadania na defesa da vida e no empenho por políticas públicas, tendo em vista os irrenunciáveis direitos humanos e sociais.
d) Casa da Missão
O Frei Adilson Corrêa da Silva, vigário episcopal da Região episcopal Nossa Senhora da Esperança, Rense, e pároco da paróquia Santo Antônio, foi o responsável em apresentar o quarto pilar da Casa. Em sua fala, ele destacou os desafios e urgências que o contexto urbano suscita para os cristãos comprometidos com o Reino e o Evangelho da justiça e da fraternidade, na concretização de uma Igreja em saída. Em seguida, explicitou as três diretrizes escolhidas para apreciação da grande assembleia:
- Priorizar a ação missionária nas vilas, favelas, edifícios, condomínios, povoados rurais, criando comunidades alicerçadas na Palavra de Deus, na comunhão fraterna, na fração do pão e na oração;
- Investir na ação evangelizadora com as juventudes, de forma a contemplar sua formação integral, espiritualidade, articulação e missão, por meio de atualizados grupos de jovens e com o apoio do Secretariado arquidiocesano das juventudes (SAL);
- Investir nas redes sociais como lugares de evangelização e profecia, que anunciam os valores do Evangelho, formam opiniões e denunciam a mentira (fake news), a violência e as injustiças, despertando pessoas, famílias, comunidades e a sociedade para a vivência da fraternidade e da comunhão nesses espaços, especialmente, por meio da ampliação e atuação da Pastoral da Comunicação (Pascom) e Rede Catedral..
Atenção: Esta não é a redação oficial das 12 Diretrizes aprovadas, mas procuramos registrar com o máximo de fidelidade possível o texto de cada diretriz aprovada na grande assembleia da 6ª APD. A versão oficial das Diretrizes, com todas as modificações sugeridas para a redação, sairá no mês de dezembro de 2019.
Depois de cada uma das quatro apresentações, dom Joaquim Geovani Mol Guimarães, bispo auxiliar referencial da Região episcopal Nossa Senhora da Esperança (Rense), reitor da PUC Minas e coordenador do Observatório da Evangelização, assumia a palavra, retomava e aprofundava o sentido e para quais desafios da ação evangelizadora da Igreja cada uma das diretrizes eleitas para a nossa caminhada visava responder. Em seguida, conduziu cada um dos processos de votação e, consequentemente, de sua aprovação ou não. Fez isso para cada uma das três diretrizes de cada um dos quatro pilares.
O processo de aprofundamento e votação de cada diretriz proporcionou uma experiência da presença do Espírito Santo pela alegria em torno do mesmo ideal de fidelidade ao Reino, pela serenidade fraterna no discernimento do caminho a seguir e de celebração da comunhão eclesial e fraterna cientes da importância do que todos ali estavam fazendo.
Depois de aprovadas as três diretrizes de cada pilar da casa – Casa da Palavra, do Pão, da Caridade e da Missão – tivemos momentos celebrativos significativos que expressavam a certeza de sermos animados pela fé e certos da experiência de Deus estradeiro conosco:
Uma vez aprovadas as novas Diretrizes, tivemos uma envolvente Celebração da Palavra, conduzida pelo arcebispo dom Walmor Oliveira de Azevedo, nos enviando para a missão. Isso porque, como nos recordou Pe. Joel Maria dos Santos, com as novas Diretrizes aprovadas, agora é hora de “arregaçar as mangas” e “colocar as mãos na massa”. Em outras palavras, iluminados pelas novas Diretrizes e tendo presente a sua realidade específica, as regiões episcopais, vicariatos, foranias, paróquias, comunidades, conselhos, pastorais, movimentos… todos somos chamados a deixar-se interpelar e, com a luz e a força do Espírito Santo, discernir e elaborar os planos pastorais com ações evangelizadoras concretas capazes de fazer com que as novas Diretrizes se tornem realidade viva na dinâmica da vida cristã na Igreja e na sociedade.
Um primeiro balanço
Quando temos presente o que foi concretizado ao longo do Sínodo para a Amazônia – amplo processo de escuta das bases, do grito dos pobres e excluídos, discernimento dos anseios populares e das ameaças da vida, diversificação dos mecanismos de participação, senso de corresponsabilidade, com profunda sensibilidade dialogal no nível ecumênico e inter-religioso, disposição de inculturação e saída de si – temos muito que avançar na concretização da sinodalidade.
Entretanto, não podemos negar os avanços consignados na VI APD da arquidiocese de Belo Horizonte. Elenquemos alguns deles, sem qualquer pretensão de completude:
- A clareza alcançada com a explicitação do Objetivo Geral e em profunda sintonia com as DGAE da CNBB;
- A boa vontade e ampla adesão e participação das paróquias, vicariatos, lideranças leigas, juventude, diáconos, presbíteros e bispos, mesmo diante da constatação do curto período disponível para realizar e concretizar a 6ª APD;
- O conteúdo do conjunto das novas Diretrizes contempla e desafia a todos a aprofundarmos e aperfeiçoarmos a vida cristã numa Igreja em saída e na concretude de uma sociedade urbana e profundamente injusta e desigual;
- Nas três Diretrizes da Casa da Palavra, observa-se um grande convite para que, de fato, a Palavra de Deus, como alimento espiritual, ocupe o o centro da dinâmica eclesial seja na dimensão celebrativa, seja na leitura-estudo-oração em pequenos grupos, seja na dimensão catequética, atenta à cultura urbana;
- Nas três Diretrizes da Casa do Pão, nota-se a importância central de empreendermos juntos a passagem da devoção para o seguimento de Jesus, passagem que só é possível com outra postura diante da religiosidade popular, outra concepção de liturgia e, sobretudo, outra espiritualidade possível;
- Nas três Diretrizes da Casa da Caridade, reconhece-se avanço ainda maior na explicitação do caráter profético da Igreja, pois, em sintonia com o papa Francisco, elas deixam claro a necessidade de juntos recuperarmos a credibilidade do Evangelho do Reino na dinâmica da vida cristã tanto na Igreja, quanto na sociedade. Isso porque propõe e indica a direção do caminho para praticarmos a opção pelos pobres; para comprometermos em cuidar da nossa casa comum – aqui em Minas Gerais tão ameaçada pela voracidade das mineradoras – por meio do cultivo da ecologia integral, promovendo e investindo na primavera das pastorais sociais e na multiplicação dos grupos de fé e política;
- Nas três Diretrizes da Casa da Missão, explicita-se o caráter missionário da Igreja, enquanto busca de concretização de uma presença ativa e solidária que seja mediação do Reino de Deus, em todas as realidades da Arquidiocese, mas dando atenção prioritária, ao mundo dos excluídos, às juventudes e aos desafios dos processos urbanos e da cultura midiática digital.
Edward Guimarães
Secretário executivo do Observatório da Evangelização
Muito esclarecedor, fico orgulhosa de ter participado da síntese da APD em minha paróquia. Momento histórico,As diretrizes de cada pilar: casa do pão ; casa da palavra; casa da missão e casa da caridade foi muito bem explicitado. Cabe-nos ser guiados Pelo Espírito Santo e ser uma igreja em saída para : O que? Quem? Como ? E Para que? Em nossa comunidade paroquial.
Parabéns