“A Igreja Católica não faz barganhas”, responde CNBB aos participantes da reunião entre Bolsonaro e TVs “católicas”

Brasil tem se tornado um exemplo mundial daquilo que não deve ser feito diante de uma pandemia. Até seu grande aliado, o adorado Donald Trump, tem colocado o governo Bolsonaro como exemplo negativo de gestão diante do coronavírus. Os despropósitos, inclusive a má vontade, se tornaram notícia cotidiana, que o atual presidente tenta esconder, custe o que custar.

O dinheiro público está sendo usado para buscar apoio no Congresso e na mídia, inclusive entre alguns meios de comunicação católicos. A publicação, neste sábado, dia 6/06/2020, no Jornal Estado de São Paulo, do conteúdo de uma reunião por videoconferência, acontecida no dia 21 de maio, entre o Presidente da República, Jair Bolsonaro, representantes de diferentes meios de comunicação católicos e alguns deputados, que se dizem parte da frente parlamentar católica, tem provocado inúmeras críticas, inclusive entre alguns bispos, que tem se posicionado, qualificando o conteúdo da reunião como algo vergonhoso.

Num país onde o número oficial de contagiados ultrapassa os 650 mil e os falecidos já são mais de 35 mil, mesmo com a suspeita de uma alta subnotificação, o governo se empenha em ocultar uma realidade que já colocou o Brasil como o segundo país com mais contágios e o terceiro em número de óbitos. Os números a cada dia são publicados mais tarde, para assim evitar, como já reconheceu o próprio presidente Bolsonaro, que apareçam nos telejornais do horário nobre, principal fonte de informação para a maioria do povo brasileiro. Junto com isso, o país, que trocou o ministro de saúde duas vezes em menos de um mês, se encontra desde 15 de maio, em plena pandemia sem alguém a frente desse ministério de particular importância no momento atual.

Cada vez mais enfrentado com a grande mídia, o presidente Bolsonaro pretende ganhar adeptos entre grupos de católicos conservadores, assíduos espectadores desses veículos de comunicação. O que o presidente oferece é dinheiro público através de propaganda governamental, em troca pode receber “mídia positiva”, segundo afirmam publicamente os representantes desses veículos de comunicação.

As palavras de alguns dos presentes na reunião, como o padre e cantor Reginaldo Manzotti, mostram a disposição desses meios de comunicação para entrar numa troca de favores, afirmando que “Nós somos uma potência, queremos estar nos lares e ajudar a construir esse Brasil. E, mais do que nunca, o senhor sabe o peso que isso tem, quando se tem uma mídia negativa. E nós queremos estar juntos”.

Sua disposição para ajudar a construir esse Brasil, dando a entender seu apoio às políticas promovidas pelo atual governo, pode ser considerado claramente contrário àquilo que é defendido pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil – CNBB, que não podemos esquecer já foi denominada pelo presidente como “a parte podre da Igreja católica”. A mesma coisa pode se dizer em referência ao papa Francisco, alguém que não goza da simpatia do grupo mais fiel ao atual presidente.

A mesma postura de Manzotti se fez presente nas palavras do padre Welinton Silva, da TV Pai Eterno, e do empresário João Monteiro de Barros Neto, da Rede Vida, que definiu Bolsonaro como “uma grande esperança”. O primeiro, reconhecendo as dificuldades financeiras da emissora, pedia explicitamente ajuda, “estamos precisando mesmo de um apoio maior por parte do governo para que possamos continuar comunicando a boa notícia”, e em troca oferecia estar “levando ao conhecimento da população católica, ampla maioria desse país, aquilo de bom que o governo pode estar realizando e fazendo pelo nosso povo”.

A reportagem tem provocado “estranheza e indignação” na Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), que se pronunciou por meio da Comissão Episcopal Pastoral para a Comunicação, juntamente com a SIGNIS Brasil e a Rede Católica de Rádio (RCR), associações que reúnem as TVs de inspiração católica e as rádios católicas no Brasil. No comunicado emitido neste mesmo dia 6, “esclarecem que não organizaram e não tiveram qualquer envolvimento com a reunião entre o presidente da República, Jair Bolsonaro, representantes de algumas emissoras de TV de inspiração católica e alguns parlamentares, e nem ao menos foram informadas sobre tal encontro”.

O comunicado deixa claro que “as emissoras intituladas ‘de inspiração católica’ possuem naturezas diferentes”, insistindo em que “nenhuma delas e nenhum de seus membros representa a Igreja Católica, nem fala em seu nome e nem da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil”. De fato, mesmo com o esforço realizado, nas entrelinhas do comunicado pode se deduzir que nem todas as emissoras assumem claramente as Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil.

Diante da oferta de apoio ao governo por parte de emissoras de TV em troca de verbas e solução de problemas afeitos à comunicação, a resposta do comunicado é clara e contundente: “A Igreja Católica não faz barganhas”. Pelo contrário, a Igreja “estabelece relações institucionais com agentes públicos e os poderes constituídos pautada pelos valores do Evangelho e nos valores democráticos, republicanos, éticos e morais”, atitudes que muitos duvidam estejam presentes em alguém que está questionando constantemente a democracia.

Finalmente, deixando claro que “não aprovamos iniciativas como essa, que dificultam a unidade necessária à Igreja, no cumprimento de sua missão evangelizadora”, o comunicado que defende que sejam consideradas “todas as dimensões da vida humana e da Casa Comum”, algo negado reiteradamente pelo governo do presidente Bolsonaro, se mostram partidários de uma verdadeira comunhão, estando sempre abertos ao diálogo, especialmente “nestes tempos difíceis em que vivemos, agravados seriamente pela pandemia do novo coronavírus, que já retirou a vida de dezenas de milhares de pessoas e ainda tirará muito mais”, algo que para o atual presidente também não é importante, pois, como ele mesmo já diz, todos temos que morrer algum dia.

Sobre o autor:

Luiz Miguel Modino

Luis Miguel Modino – Padre diocesano de Madri, missionário fidei donum na Amazônia, residindo atualmente em Manaus – AM. Faz parte da Equipe de Comunicação da REPAM. Correspondente no Brasil de Religión Digital e colaborador do Observatório da Evangelização e em diferentes sites e revistas.

Confira, a seguir, a íntegra do texto em espanhol:

“La Iglesia Católica no hace negocios”, responde la CNBB a los participantes de la reunión entre Bolsonaro y televisiones católicas

Brasil se ha convertido en un ejemplo mundial de lo que no se debe hacer frente a una pandemia. Incluso su gran aliado, el idolatrado Donald Trump, ha puesto al gobierno de Bolsonaro como un ejemplo negativo de gestión frente al coronavirus. Los despropósitos, inclusive la mala fe, se han convertido en noticia habitual, algo que el presidente brasileño trata de ocultar, a cualquier costo.

El dinero público se está utilizando para buscar apoyo en el Congreso y en los medios de comunicación, incluso entre algunos medios católicos. La publicación, este sábado 6, en el periódico Estado de São Paulo, del contenido de una reunión por videoconferencia, que tuvo lugar el 21 de mayo, entre el Presidente de la República, Jair Bolsonaro, representantes de diferentes medios católicos y algunos diputados, quienes afirman ser parte del frente parlamentario católico, ha provocado numerosas críticas, incluso entre algunos obispos, que se han posicionado, calificando el contenido de la reunión como algo vergonzoso.

En un país donde el número oficial de personas infectadas supera los 650 mil y los fallecidos ya son más de 35 mil, incluso con la sospecha de un alto subregistro, el gobierno se esfuerza por ocultar una realidad que ya ha colocado a Brasil como el segundo país con más contagios y el tercero en número de muertes. Los números se publican más tarde cada día, para evitar, como reconoció el propio Bolsonaro, que aparezca en los principales telediarios, fuente de información para la mayoría de los brasileños. Junto con esto, el país, que cambió al ministro de salud dos veces en menos de un mes, está desde el 15 de mayo sin nadie al frente de este ministerio de particular importancia en este momento.

Cada vez más enfrentado a los principales medios de comunicación, Bolsonaro pretende ganar adeptos entre los grupos de católicos conservadores, espectadores asiduos de estos vehículos de comunicación. Lo que el presidente ofrece es dinero público a través de la propaganda gubernamental, a cambio puede recibir “comunicación positiva”, según los representantes de estos medios.

Las palabras de algunos de los presentes en la reunión, como el sacerdote y cantante Reginaldo Manzotti, muestran la voluntad de estos medios de entrar en un intercambio de favores, afirmando que “somos una potencia, queremos estar en los hogares y ayudar a construir este Brasil. Y, más que nunca, usted sabe el peso que eso tiene cuando existe comunicación negativa. Y nosotros queremos estar juntos”.

Su disposición a ayudar a construir este Brasil, dando a entender su apoyo a las políticas promovidas por el gobierno actual, puede considerarse claramente contrario a lo que defiende la Conferencia Nacional de Obispos de Brasil – CNBB, que no podemos olvidar que el presidente ya ha definido como “la parte podrida de la Iglesia Católica”. Lo mismo puede decirse en referencia al Papa Francisco, alguien que no disfruta de la simpatía del grupo más fiel al actual presidente brasileño.

La misma actitud de Manzotti estuvo presente en las palabras del Padre Welinton Silva, de la TV Pai Eterno, y el empresario João Monteiro de Barros Neto, de la Rede Vida, quien definió a Bolsonaro como “una gran esperanza”. El primero, reconociendo las dificultades financieras de la emisora, pidió ayuda explícitamente, “realmente necesitamos un mayor apoyo del gobierno para que podamos seguir comunicando las buenas noticias”, y a cambio se ofreció a “llamar la atención de la población católica en general, la mayoría de ese país, sobre lo bueno que el gobierno puede estar realizando y haciendo por nuestra gente”.

El reportaje ha causado “extrañeza e indignación” en la Conferencia Nacional de Obispos de Brasil (CNBB), que se ha pronunciado a través de la Comisión Pastoral Episcopal para la Comunicación, junto con SIGNIS Brasil y la Red Católica de Radio (RCR), asociaciones que reúnen televisiones de inspiración católica y estaciones de radio católicas en Brasil. En la declaración emitida el mismo día 6, “aclaran que no organizaron y que no participaron en la reunión entre el Presidente de la República, Jair Bolsonaro, representantes de algunas emisoras de televisión de inspiración católica y algunos parlamentarios, y ni siquiera fueron informados sobre tal encuentro”.

La declaración deja claro que “los organismos de radiodifusión titulados ‘de inspiración católica’ son de diferente naturaleza”, insistiendo en que “ninguno de ellos y ninguno de sus miembros representan a la Iglesia Católica, ni hablan en su nombre ni en el de la Conferencia Nacional de Obispos de Brasil”. De hecho, incluso con el esfuerzo realizado, entre líneas de la declaración se puede deducir que no todas las emisoras asumen claramente las Directrices Generales para la Acción Evangelizadora de la Iglesia en Brasil.

Ante la oferta de apoyo al gobierno por parte de las emisoras de televisión a cambio de fondos y la solución de problemas relacionados con la comunicación, la respuesta del comunicado es clara y contundente: “La Iglesia Católica no hace negocios”. Por el contrario, la Iglesia “establece relaciones institucionales con los agentes públicos y los poderes constituidos guiados por los valores del Evangelio y los valores democráticos, republicanos, éticos y morales”, actitudes que muchos dudan estén presentes en alguien que cuestiona constantemente la democracia.

Finalmente, dejando claro que “no aprobamos iniciativas como esta, que obstaculizan la unidad necesaria para la Iglesia, en el cumplimiento de su misión evangelizadora”, la declaración, que defiende “todas las dimensiones de la vida humana y la Casa Común”, algo negado en repetidas ocasiones por el gobierno de Bolsonaro, están a favor de una verdadera comunión, siempre abierta al diálogo, especialmente “en estos tiempos difíciles en los que vivimos, gravemente agravados por la pandemia del nuevo coronavirus, que ya ha cobrado la vida de decenas de miles de personas y todavía cobrará la vida mucho más”, algo que para el actual presidente tampoco es importante, porque como él dice, todos tenemos que morir algún día.

3 Comentários

  1. Muito triste tudo isto. Pessoalmente, apego-me às últimas palavras de D. Helder: “Não deixar cair a profecia”.

  2. A Santa Igreja Católica Apostólica Romana é comprometida com Deus, a Santíssima Trindade, que em Jesus se diz Caminho, Verdade e Vida!”

  3. Este desgoverno eleito pelo neoliberalismo (capetalistas), sim, são adeptos do capeta, endeusaram o dinheiro! Não tem nada a ver com Jesus, que foi pobre, casto e obediente ao Pai!

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