Você vai andando com uma caneca de café na mão e, de repente, alguém lhe dá um esbarrão derramando café pra todo lado. Por que o café derramou da caneca?
– Ora, porque alguém esbarrou em mim!
– você responde.Resposta errada!
O café derramou da caneca porque você tinha café na caneca. Se tivesse chá você teria derramado chá. O que estiver na sua caneca é o que vai se derramar. Café, chá, suco, refrigerante, água ou veneno.
Da mesma forma, quando a vida te der um esbarrão o que você estiver levando dentro do coração, da alma, da mente, é o que vai derramar.
Às vezes nos assustamos com a reação desproporcionalmente irada de uma pessoa por causa de uma aparente bobagem. É que a bobagem foi só a gota d’água…
Tem gente que aparenta ter sua caneca sempre cheia de sabores deliciosos, qualidades e virtudes (no Instagram, então…), mas quando a vida dá um tranco acaba derramando o que na verdade existe no seu interior. E é cada susto!
Então, antes que o esbarrão aconteça (e ele acontece) é bom se perguntar: o que levo/ tenho na minha caneca/coração? Quando a vida entrar em desequilíbrio, fugindo ao meu controle, tirando minha estabilidade, o que vou derramar sobre as coisas e pessoas que estão ao meu redor? O que vou derramar sobre a pessoa mais próxima de mim, ou seja, EU mesmo?…
Parafraseando Jesus de Nazaré (Mateus 12,34), “a caneca transborda aquilo de que está cheio o coração”…
Em momentos de dificuldade, fracasso, perda, decepção, há pessoas que derramam tristeza, sim, mas também compreensão, bondade e humildade. Não é fatalismo, mas consciência dos limites que a vida impõe. São pessoas rebeldes. Não se conformam com o que está trazendo sofrimento e buscam saídas e formas de superação. Por outro lado, ao dar uma topada, há quem espalhe raiva, revolta, amargura, agressividade, palavras e atitudes negativas e destrutivas. São pessoas revoltadas que só pioram o que já estava ruim.
Agora pare e pense…
Sua caneca não se enche num dia, de uma vez. É aos poucos, nas escolhas que vamos fazendo no cotidiano mais banal, até que pingue aquela “gota que falta pru desfecho da festa”…
Não posso evitar os trancos e barrancos, escolher o que a vida, na sua gratuidade de bem e mal vai me oferecer, mas posso escolher o que permito que permaneça em mim. A vida traz de tudo, oferece de tudo; sabores doces e amargos, aromas que me atraem e outros que rejeito, o que me agrada e o que me faz mal, o que me alimenta e o que me envenena. Há, é claro, as grandes e imprevisíveis trombadas. Uma doença, uma perda irreparável, uma grande dificuldade financeira, mas, em geral, os esbarros vêm em doses homeopáticas. Aos poucos. Todo dia. De repente, a caneca está cheia e eu nem percebi. Até que vem o esbarrão, a topada, o tropeção.
Cultive seu equilíbrio. Ordene seus afetos. Faça um discernimento, pacifique suas emoções e coloque seus sentimentos no lugar em que eles devem ficar. Eu sei que não é fácil, ao contrário, às vezes é muito difícil, mas é muito mais sofrido andar aos tropeções, espalhando mágoa e raiva pelo caminho. Mágoas e raivas que vão se transformar em mais pedras e buracos que vão gerar mais tropeções.
Pra você e pra quem caminha com você…
Eduardo Machado
03/09/2020
Sobre o autor:
Eduardo Machado é educador e escritor apaixonado pelo ser humano. Considera-se um católico que tenta, cada dia mais, tornar-se cristão. É colaborador do Observatório da Evangelização PUC Minas.