A fé no mundo atual

Prof. René Dentz
É
 católico leigo, professor do departamento de Filosofia, curso de Psicologia-Praça da Liberdade na PUC-Minas, onde também atua como membro da equipe executiva do Observatório da Evangelização. Psicanalista, doutor em Teologia pela FAJE, com pós-doutorado pelas Université de Fribourg/Suíça, Universidade Católica Portuguesa e PUC-Rio. É comentarista da TV Horizonte e da Rádio Itatiaia. Autor de 8 livros, dentre os quais “Horizontes de Perdão” (Ideias e Letras, 2020) e “Vulnerabilidade” (Ideias e Letras, 2022). Pesquisador do Grupo de Pesquisa CAPES “Mundo do trabalho, ética e teologia”, na FAJE-BH.

Um questionamento frequente em nossos tempos é como a fé deve ser vivida. Será que ela pode ser entendida como “muleta” às nossas vulnerabilidades? Ou talvez esteja mais próxima à função de fornecimento de sentido à existência. Sem dúvida, pode ser vivida em sua dimensão existencial, como uma forma de estar no mundo. Nessa hipótese, é preciso então que possa conciliar com aquilo que, na estrutura da existência, constitui as condições de possibilidade de sua recepção. A questão, nos tempos atuais, não é tanto saber como, no interior da existência humana, a fé em Deus pode se harmonizar com o cuidado das realidades terrestres, mas sim, compreender qual é o sentido e o papel do trabalho cultural terrestre no conjunto do plano divino de criação e de salvação. É um problema mais existencial e menos racional, por vezes, pelo menos em se tratando de uma razão absoluta. O filósofo cristão belga, Jean Ladrière, nos mostra que, em relação ao destino da razão, a fé deve tornar-se uma instância justificadora, isto é, capaz de dar uma base à esperança que sustenta a experiência da razão; em outras palavras, capaz de fundamentá-la ou de dar sentido ao empreendimento da razão. E, em relação ao desamparo, a fé deve tornar-se portadora dessa condição sendo capaz de fazê-la suportável, o que só é possível se for promessa de libertação (LADRIÈRE, 169, 2008).

O teólogo suíço, professor da Universidade de Friburgo, na Suíça, Pe François Xavier Amherdt, alerta que a multiplicação de células de solidariedade e intercâmbio se coloca como um dos principais desafios da evangelização em nossa era pós-moderna de indiferença, globalização liberal desenfreada e ansiedade pelo futuro. É na base que se pode discernir o chamado de cada um, que se podem estabelecer métodos de apoio às vocações, em articulação com as autoridades e os responsáveis eclesiais. “É somente através de uma Igreja de proximidade “tecida” (do latim textus) segundo uma espiritualidade de rede (teia) que cada pessoa pode se deixar gerar pelo Espírito em sua identidade humana e espiritual”.

A temporalidade humana se articula por dupla via: pela dimensão privada, no sentido em que uma vida se desenrola com uma história temporal própria; e pela dimensão pública, enquanto individualidade se faz presença na história, entendendo por “presença na história” o reflexo da vida do outro na vida particular de um indivíduo. Sem supormos uma perda de identidade nesse fato, constatamos que, no entanto, esta interrrelação, se verdadeira, acabaria por inviabilizar o absoluto da transcendência do Ego, já que o indivíduo só se torna temporal, e, portanto, histórico, pela inscrição em si da historio da outro.

O Papa Francisco recordou que o Evangelho nos diz que Jesus não é um “fantasma”, mas uma Pessoa viva, que Jesus quando se aproxima de nós nos enche de alegria até ao ponto de não acreditarmos e nos deixa atônitos com aquele estupor que somente a presença de Deus nos dá, porque Jesus é uma pessoa viva. Ser cristãos – continuou o Santo Padre – não é antes de tudo uma doutrina ou um ideal moral, é uma relação viva com Ele, com o Senhor Ressuscitado: “olhamos para Ele, tocamos n’Ele, nos alimentamos d’Ele e, transformados por Seu Amor, olhamos, tocamos e alimentamos os outros como irmãos e irmãs. Que a Virgem Maria – concluiu – nos ajude a viver esta experiência de graça”.

1 Comentário

  1. . “É somente através de uma Igreja de proximidade “tecida” (do latim textus) segundo uma espiritualidade de rede (teia) que cada pessoa pode se deixar gerar pelo Espírito em sua identidade humana e espiritual”.

    Pe François Xavier Amherdt.

    Perfeito.

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