Acabou de nascer a Conferência Eclesial da Amazônia, algo novo, diferente, como todo o processo que levou a esse momento, o Sínodo para a Amazônia, pudendo dizer que é uma continuidade. Isso é expresso pelo vice-presidente dessa nova instituição eclesial poucas horas após seu nascimento, dom David Martínez de Aguirre Guiné, bispo de Puerto Maldonado, um lugar que o papa Francisco colocou para sempre no mapa da Igreja da Amazônia.
Torna-se realidade o que “é o espírito eclesial, onde os bispos, os pastores estão com o povo”, destaca o dominicano, que afirma que a Conferência Eclesial da Amazônia é um banco de provas, “uma conexão com esse sonho programático do papa Francisco marcado na Alegria do Evangelho”, e, ao mesmo tempo, uma concretização do Concílio Vaticano II. É algo que traz novidades importantes, como a presença de mulheres e as vozes do território.
Trata-se de uma conferência “que queremos mostrar os rostos da Amazônia”, que afirma que “o rosto da mulher como sujeito eclesial na Amazônia é um rosto muito claramente definido”. De fato, “uma Conferência Eclesial da Amazônia, onde as mulheres não têm um papel importante, não seria da Amazônia”, uma afirmação que mostra qual pode ser o futuro de uma Igreja, onde esse papel feminino deve ser cada vez mais reconhecido. Por fim, trata-se de “mostrar o que já está acontecendo na base, diariamente, em nossas comunidades”.
O mesmo pode ser dito dos povos indígenas, que “querem se organizar como Igreja e querem dar uma contribuição à humanidade e ao resto da Igreja universal como parte desses rostos da Igreja Amazônica”, de acordo com Martínez de Aguirre, que insiste nisso “é muito importante que, na Igreja, paremos de ver os povos indígenas como objetos de evangelização, mas eles mesmos como sujeitos ativos”. Essa opção da Igreja pelos povos indígenas é muito clara há muito tempo, mas, de acordo com o bispo de Puerto Maldonado, é algo em que a figura do Papa Francisco teve um papel fundamental para se tornar visível. Agora é a hora de ir fazendo nosso caminho, sabendo que “temos muito trabalho pela frente”.
Confira a entrevista:
1. O que é a Conferência Eclesial da Amazônia?
É um organismo criado na Amazônia para tentar responder aos desafios que a Igreja Amazônica, nos últimos anos, vem descobrindo e estabelecendo prioridades, especificadas nos documentos pré-sinodais, no próprio Sínodo, com seu Documento Final, e nos sonhos que o Papa estabelece na Querida Amazônia. Pode-se dizer que a Conferência Eclesial da Amazônia surge de todo esse processo, que será o organismo que deverá coordenar, promover, todos esses sonhos e toda essa renovação pastoral e evangelizadora da Amazônia.
2. A primeira coisa que surpreende é que não se trata de uma conferência episcopal, mas de uma conferência eclesial que, segundo seu presidente, cardeal Hummes, como ele disse na assembleia, ser eclesial foi uma sugestão do papa Francisco. Podemos dizer que esta conferência pode ser considerada um experimento, não sei se é a palavra mais apropriada, de uma nova maneira de ser Igreja, baseada na sinodalidade, em que o bispo não é mais alguém que lidera a Igreja exclusivamente, mas alguém que faz parte de toda a caminhada eclesial?
O Sínodo para a Amazônia, como bem me lembro quando participei como secretário, já era algo diferente dentro do processo sinodal da Igreja, e esta Conferência Eclesial da Amazônia é uma continuidade. Quando li os documentos, vi que isso é totalmente consistente com o Sínodo, é o que vivemos no Sínodo, é o espírito eclesial, onde os bispos, os pastores estão com o povo. Como o papa Francisco disse na exortação Evangelii Gaudium (A alegria do Evangelho), às vezes na frente, às vezes no meio, às vezes atrás, os pastores estão lá.
Este é um organismo misto, onde estão os bispos, mas também há a presença do Povo de Deus. O papa Francisco, já em 2013, quando esteve no Brasil, disse aos bispos brasileiros que a Amazônia é o banco de provas da Igreja Brasileira. O papa Francisco quer que isso se aplique a toda a Igreja universal, ele também pensa que a Amazônia, esta Conferência Episcopal da Amazônia, é um banco de provas. Quem leu a exortação Evangelii Gaudium, descobre trechos nesta Conferência, vê que há uma conexão com o sonho programático do Papa Francisco marcado na Alegria do Evangelho.
O Papa também declarou que a sinodalidade deve ser o tema do sínodo da Igreja do século 21, e, de fato, esta Conferência Episcopal da Amazônia tem uma nuance muito nova que tem a ver com sinodalidade e com a participação de todo o Povo de Deus, uma concretização do Concílio Vaticano II neste modo de ser Igreja.
3. Se afirma no comunicado que apresenta a nova Conferência que ela é uma resposta oportuna ao clamor dos pobres e da Irmã Mãe Terra. Poderíamos dizer que a sinodalidade, os pobres e o cuidado da Irmã Mãe Terra, da casa comum, são os elementos fundamentais do pontificado do papa Francisco e que esta Conferência quer promover tudo isso?
A sinodalidade, os pobres, o cuidado da casa comum e a parresia do anúncio do Evangelho, realmente acreditar que o Evangelho, a Boa Nova de Jesus, é um renovador da pessoa, um renovador da humanidade. Há uma paixão pelo Evangelho e esta Conferência Eclesial da Amazônia nasce com essa paixão pelo Evangelho de Jesus e acreditando que o Evangelho de Jesus é uma Boa Notícia para a Amazônia e uma Boa Notícia da Amazônia para o mundo. A esses elementos que você disse, eu também acrescentaria a paixão pela Boa Nova de Jesus.
4. Uma Conferência eclesial em que há mulheres, a presidente da Conferência Latino-Americana de Religiosos – CLAR e duas das representantes dos povos indígenas. Que papel as mulheres terão nesta Conferência?
É o rosto da Igreja. Uma das coisas que foi dita, e que o Papa também disse em Puerto Maldonado, é que queremos uma Igreja com rosto amazônico, queremos uma Igreja que mostre os rostos da Amazônia. Essa Conferência Eclesial da Amazônia quer se encarnar naqueles rostos, e o rosto da mulher como sujeito eclesial na Amazônia é um rosto muito claramente definido. Uma Conferência Eclesial da Amazônia, onde as mulheres não têm um papel importante, não seria amazônica, não pertenceria a essa Igreja amazônica.
O papel que as mulheres terão nesta conferência será o que elas já desempenham nas bases, nas paróquias, nos vicariatos, nas dioceses. Está refletindo a estrutura da Igreja, em um nível organizacional mais universal, mais regional neste caso, mostrando o que já está acontecendo na base, diariamente, em nossas comunidades. É para quebrar a dicotomia em que a mulher participa até certo ponto, mas, em alguns níveis de decisão, ela não tem participação. Esta Conferência Eclesial da Amazônia é uma amostra do que é a Igreja na Amazônia e, é claro, a mulher tem que participar. A mulher na Igreja amazônica está presente com uma voz muito clara, muito necessária e muito válida.
5. Também a presença de representantes dos povos indígenas. Essa presença das vozes do território, que exigem uma aplicação prática do Sínodo, em que sentido elas podem ajudar no dia a dia desta Conferência?
Dom Gerardo Zerdín costuma dizer que precisamos parar de falar sobre eles e nós em relação aos povos indígenas, no sentido de que eles são objeto de evangelização e nós somos os sujeitos, os evangelizadores. É entender que os povos indígenas, que existem comunidades, que existem povos indígenas que receberam a mensagem de Cristo e leram o acontecimento de Cristo, e querem se organizar como Igreja, querem fazer uma contribuição para a humanidade e para o resto da Igreja Universal como parte desses rostos da Igreja amazônica.
Parece-me muito importante e, quando dizemos uma Igreja pobre e para os pobres, uma Igreja dos mais vulneráveis, nesta Conferência Eclesial, que inclui povos indígenas, que têm voz ativa e que podem gerar processos, é muito importante para que na Igreja paremos de ver os povos indígenas como objetos de evangelização, mas eles mesmos como sujeitos ativos. A partir daí, surgirão todos os problemas, como territorialidade, tão importante para essas comunidades, cuidado da casa comum, educação, cultura, saúde, interculturalidade, inclusão de todos os povos. Penso que a presença deles é muito importante e que a contribuição será muito significativa, muito enriquecedora.
6. Povos e organizações indígenas, inclusive no mais alto nível, como é o caso da COICA, destacaram nos últimos meses a importância da aliança que foi estabelecida entre a Igreja Católica e os povos indígenas, uma aliança que ainda foi reforçada com o enfrentamento conjunto da pandemia de coronavírus. Poderíamos dizer que esta Conferência Eclesial da Amazônia estabelece definitivamente essa aliança como algo presente e duradouro para o futuro dos povos indígenas e da Igreja Católica na Amazônia?
A Igreja há muito tempo é aliada dos povos indígenas, e eu digo isso com o meu coração, acho que sim. O que aconteceu é que se tornou visível, não era visível, mas não é que a Igreja tenha subitamente percebido que precisa prestar um serviço aos povos indígenas. Há missionários que há anos, e eu ousaria dizer que centenas de anos, pelo menos aqui na Igreja peruana, fizeram uma opção muito clara pelos povos indígenas, de defesa, desde o início. Embora, às vezes, tenha havido críticas a alguns episódios que não foram tão claros, arriscaria dizer que o general, o comum, tem sido uma opção clara e inegável para a defesa dos povos indígenas.
Mas não conseguimos torná-lo visível, não conseguimos alcançá-lo nessas esferas de organizações. O que foi alcançado nos últimos anos é essa visibilidade, isso é ótimo. E isso liderado pelo papa Francisco, uma figura de importância internacional. Que o papa Francisco tenha dado mensagens tão claras e colocado os povos indígenas no centro e no coração da Igreja, e dali para o coração do mundo, os indígenas evidentemente descobriram o que já era. O que acontece é que isso se tornou visível no coração da Igreja, em Roma, e isso foi muito importante.
Esta conferência eclesial deve dar permanência a tudo isso, muito mais com a presença daqueles povos permanentemente nela. É uma opção muito forte da Igreja Católica pelos povos indígenas, e isso deve ser aproveitado.
7. O senhor já sabe como esta Conferência funcionará, quais são as medidas a serem tomadas nos próximos meses, especialmente quando essa pandemia de coronavírus for superada e a Igreja puder voltar a trabalhar em conjunto com os povos da Amazônia?
Estamos em um processo. Após o Sínodo, houve um tempo, que também foi condicionado pela pandemia, em que essa consequência vem se formando, o que também foi importante para a organização. Temos um plano pastoral e quem vai realizar esse plano pastoral estava faltando. Agora, o primeiro passo é tentar preparar os estatutos, que serão apresentados ao Santo Padre, que deverão ser aprovados e valorizados. Um primeiro passo foi dado, um pouco dessa inércia saiu e agora teremos que trabalhar. A partir de agora, será necessário ver como esta Conferência é organizada, como estabelecerá relações com a REPAM, como será integrada a tudo o que é o CELAM.
Será necessário ver como vai se fazendo, mas foi dado um passo muito importante, que é o próprio nascimento da Conferência, que é a coisa mais importante. Não há caminho pronto. Pouco a pouco, o caminho é feito caminhando. Temos muito trabalho pela frente.
Sobre o autor:
Luis Miguel Modino – Padre diocesano de Madri, missionário fidei donum na Amazônia, residindo atualmente em Manaus – AM. Faz parte da Equipe de Comunicação da REPAM. Correspondente no Brasil de Religión Digital e colaborador do Observatório da Evangelização e em diferentes sites e revistas.
Confira, a seguir, a íntegra do texto em espanhol:
David Martínez de Aguirre: “esta Conferencia Eclesial Amazónica es un banco de prueba para la Iglesia universal”
Acaba de nacer la Conferencia Eclesial de la Amazonía, algo nuevo, diferente, como ya fue todo el proceso que provocó este momento, el Sínodo para la Amazonía, del que podemos decir que es una continuidad. Así lo expresa el vicepresidente de esta nueva institución eclesial a las pocas horas de su alumbramiento, Monseñor David Martínez de Aguirre Guinea, obispo de Puerto Maldonado, un lugar que el Papa Francisco ha colocado en el mapa de la Iglesia de la Amazonía para siempre.
Se está haciendo realidad aquello que “es el espíritu eclesial, donde los obispos, los pastores, están con el pueblo”, destaca el dominico, que afirma que la Conferencia Eclesial de la Amazonía es un banco de prueba, “una conexión con ese sueño programático del Papa Francisco marcado en la Alegría del Evangelio”, y, al mismo tiempo, una concreción del Concilio Vaticano II. Es algo que trae novedades importantes, como es la presencia de las mujeres y de las voces del territorio.
A final de cuentas, es una Conferencia “que queremos que muestre los rostros de la Amazonía”, que afirme que “el rostro de la mujer como sujeto eclesial en la Amazonía, es un rostro que está muy claramente definido”. De hecho, “una Conferencia Eclesial amazónica, donde la mujer no tiene un papel importante, no sería amazónica”, una afirmación que muestra lo que puede ser el futuro de una Iglesia donde ese papel femenino debe ir siendo reconocido cada vez más. Se trata, en definitiva, de “mostrar lo que ya ocurre en la base, en el día a día, en nuestras comunidades”.
Lo mismo se puede decir de los pueblos originarios, que “quieren organizarse como Iglesia, y quieren hacer un aporte a la humanidad y al resto de la Iglesia universal como parte de esos rostros de la Iglesia amazónica”, según Martínez de Aguirre, que insiste en que eso “es muy importante para que en la Iglesia dejemos de ver a los pueblos indígenas como objetos de la evangelización, sino ellos mismos como sujetos activos”. Esa opción de la Iglesia por los pueblos indígenas es muy clara desde hace mucho tiempo, pero no se había visibilizado, según el obispo de Puerto Maldonado, algo en lo que ha tenido un papel fundamental la figura del Papa Francisco. Ahora es tiempo de ir haciendo camino, sabiendo que “tenemos mucho trabajo por delante”.
¿Qué es la Conferencia Eclesial de la Amazonía?
Es un organismo que se crea en la Amazonía para intentar responder a los retos que la Iglesia amazónica, en estos últimos años, ha ido descubriendo y marcando unas prioridades, que se han ido concretando en los documentos presinodales, en el mismo Sínodo, con su Documento Final, y en los sueños que establece el Papa en Querida Amazonía. Se puede decir que fruto de todo este proceso surge esta Conferencia Eclesial de la Amazonía, que va a ser el organismo que tiene que coordinar, que tiene que impulsar, todos estos sueños y toda esta renovación pastoral y evangelizadora de la Amazonía.
La primera cosa que sorprende es que no se trata de una Conferencia Episcopal y sí de una Conferencia Eclesial, que según su presidente, el cardenal Hummes, como ha dicho en la asamblea, el ser eclesial fue una sugerencia del Papa Francisco. ¿Podemos decir que esta conferencia podría ser considerada como un experimento, no sé si es la palabra más adecuada, de una nueva forma de ser Iglesia, basado en la sinodalidad, donde el obispo ya no es alguien que conduce la Iglesia de forma exclusiva, sino alguien que forma parte de todo el caminar eclesial?
El Sínodo para la Amazonía, como bien recuerdo al estar participando como secretario, ya fue algo diferente dentro del proceso sinodal de la Iglesia, y esta Conferencia Eclesial de la Amazonía es una continuidad. Cuando he leído los documentos, he visto que esto es totalmente coherente con el Sínodo, esto es lo que hemos vivido en el Sínodo, es el espíritu eclesial, donde los obispos, los pastores, están con el pueblo. Como decía el Papa Francisco en el exhortación la Alegría del Evangelio, unas veces delante, otras veces en medio, otras veces detrás, los pastores están ahí.
Este es un organismo mixto, donde están los obispos, pero hay también presencia del Pueblo de Dios. El Papa Francisco, ya en el 2013, cuando está en Brasil, a los obispos brasileños les dice que la Amazonía es el banco de prueba de la Iglesia brasileña. Eso el Papa Francisco lo aplica a toda la Iglesia universal, piensa también que la Amazonía, esta Conferencia Episcopal Amazónica, es un banco de prueba. Quien ha leído la exhortación la Alegría del Evangelio, descubre en esta Conferencia retazos de esto, ve que hay una conexión con ese sueño programático del Papa Francisco marcado en la Alegría del Evangelio.
El Papa también ha manifestado que la sinodalidad tiene que ser el sínodo de la Iglesia del siglo XXI, y efectivamente esta Conferencia Episcopal Amazónica tiene un matiz muy novedoso que tiene que ver con la sinodalidad y con la participación de todo el Pueblo de Dios, una concreción del Concilio Vaticano II en esta forma de ser Iglesia.
En el comunicado de presentación de la nueva conferencia, se dice que es una respuesta oportuna al grito de los pobres y de la hermana madre Tierra. ¿Podríamos decir que sinodalidad, pobres y cuidado de la hermana madre Tierra, de la casa común, son los elementos fundamentales del pontificado del Papa Francisco y que esta conferencia quiere impulsar todo esto?
Sinodalidad, pobres, cuidado de la casa común y la parresia del anuncio del Evangelio, el creernos de verdad que el Evangelio, que la Buena Noticia de Jesús, es renovadora de la persona, es renovadora de la humanidad. Hay una pasión por el Evangelio y esta Conferencia Eclesial de la Amazonía nace con ese apasionamiento por el Evangelio de Jesús y de creer que el Evangelio de Jesús es Buena Noticia para la Amazonía y buena noticia desde la Amazonía para el mundo. A esos elementos que has dicho, yo le metería también la pasión por la Buena Noticia de Jesús.
Una conferencia eclesial donde hay mujeres, en este momento la presidenta de la Conferencia Latinoamericana de Religiosos – CLAR, y dos de las representantes de los pueblos originarios. ¿Qué papel pueden tener las mujeres en esta conferencia?
Es que es el rostro de la Iglesia. Una de las cosas que se han dicho, y que también dijo el Papa en Puerto Maldonado, es que queremos una Iglesia con rostro amazónico, queremos una Iglesia que muestre los rostros de la Amazonía. Esta Conferencia Eclesial de la Amazonía quiere encarnarse en esos rostros, y el rostro de la mujer como sujeto eclesial en la Amazonía, es un rostro que está muy claramente definido. Una Conferencia Eclesial amazónica, donde la mujer no tiene un papel importante, no sería amazónica, no sería de esa Iglesia amazónica.
El papel que va a tener la mujer en esta conferencia, va a ser lo que ya tiene en las bases, en las parroquias, en los vicariatos, en las diócesis. Es reflejar en la estructura de la Iglesia, a un nivel organizativo más universal, más regional en este caso, mostrar lo que ya ocurre en la base, en el día a día, en nuestras comunidades. Es romper esa dicotomía en la que la mujer participa hasta un punto, pero luego a unos niveles de decisión no tenía participación. Esta Conferencia Eclesial de la Amazonía es una muestra de lo que es la Iglesia en la Amazonía, y por supuesto la mujer tiene que participar, la mujer en la Iglesia amazónica está presente con una voz muy clara y muy necesaria, muy válida.
También la presencia de los representantes de los pueblos indígenas. Esta presencia de las voces del territorio, que reclaman una aplicación práctica del Sínodo, ¿en que sentido pueden ayudar en el día a día de esta conferencia?
Monseñor Gerardo Zerdín suele decir que tenemos que dejar de hablar de ellos y nosotros en relación a los pueblos indígenas, en el sentido de que ellos son objeto de la evangelización y nosotros somos los sujetos, los evangelizadores. Es entender que los pueblos indígenas, que hay comunidades, que hay pueblos indígenas que han recibido el mensaje de Cristo y han hecho su lectura del acontecimiento de Cristo, y quieren organizarse como Iglesia, quieren hacer un aporte a la humanidad y al resto de la Iglesia universal como parte de esos rostros de la Iglesia amazónica.
A mí me parece muy importante, y cuando decimos una Iglesia pobre y para los pobres, una Iglesia desde los más vulnerables, en esta Conferencia Eclesial, que formen parte los pueblos indígenas, que tengan su voz activa y que puedan generar procesos, es muy importante para que en la Iglesia dejemos de ver a los pueblos indígenas como objetos de la evangelización, sino ellos mismos como sujetos activos. Desde ahí van a surgir todos los asuntos como la territorialidad, tan importante para estas comunidades, el cuidado de la casa común, la educación, la cultura, la salud, la interculturalidad, la inclusión de todos los pueblos. Creo que es muy importante su presencia y que el aporte va a ser muy significativo, muy enriquecedor.
Los pueblos y organizaciones indígenas, inclusive al más alto nivel, como es el caso de la COICA, destacan en los últimos meses la importancia de la alianza que se ha establecido entre la Iglesia católica y los pueblos originarios, una alianza que se ha reforzado todavía más con el enfrentamiento conjunto a la pandemia del coronavirus. ¿Podríamos decir que esta Conferencia Eclesial de la Amazonía, definitivamente establece esa alianza como algo presente y duradero para el futuro de los pueblos indígenas y de la Iglesia católica en la Amazonía?
La Iglesia lleva mucho tiempo de aliada de los pueblos indígenas, y lo digo con el corazón, de verdad, lo creo así. Lo que ha ocurrido es que se ha visibilizado, no se visibilizaba, pero no es que de repente la Iglesia se haya dado cuenta que tiene que hacer un servicio a los pueblos indígenas. Hay misioneros y misioneras que durante años, y yo me atrevería a decir cientos de años, al menos aquí en la Iglesia peruana, que han hecho una opción muy clara por los pueblos indígenas, de defensa, desde el comienzo. Si bien en algunos momentos ha habido críticas de algunos episodios que no han sido tan claros, yo me atrevería a decir que lo general, lo común, ha sido una opción clara e innegable de defensa de los pueblos indígenas.
Pero no eramos capaces de visibilizarlo, no eramos capaces de hacerlo llegar a estas esferas de las organizaciones. Lo que se ha conseguido en los últimos años es esa visibilización, eso es lo grandisoso. Y esto liderado por el Papa Francisco, una figura de calado internacional. Que el Papa Francisco haya tenido unos mensajes tan claros, y haya puesto a los pueblos indígenas en el centro y en el corazón de la Iglesia, y a partir de ahí en el corazón del mundo, los indígenas evidentemente han descubierto lo que ya era. Lo que pasa es que eso ha sido visibilizado desde el corazón de la Iglesia, desde Roma, y eso ha sido muy importante.
Esta Conferencia Eclesial tiene que darle permanencia a todo eso, y más con la presencia de esos pueblos permanentemente en ella. Es una opción muy fuerte de la Iglesia católica por los pueblos indígenas, y esto hay que aprovecharlo.
¿Ya se sabe cómo va a funcionar esta Conferencia, cuáles son los pasos a ser dados en los próximos meses, sobretodo cuando se supere esta pandemia del coronavirus y la Iglesia pueda volver al trabajo junto a los pueblos de la Amazonía?
Estamos en un proceso. Después del Sínodo ha habido un tiempo, que ha estado también condicionado por la pandemia, donde se ha ido gestando esta consecuencia, que también era importante para la organización. Tenemos un plan de pastoral y faltaba quien va a llevar a cabo este plan de pastoral. Ahora, un primer paso es intentar preparar unos estatutos, que se presentarán al Santo Padre, los tendrán que aprobar y valorarlos. Se ha dado un primer paso, se ha salido un poco de esta inercia y ahora tendremos que ir trabajando. A partir de ahora habrá que ir viendo como se va organizando esta Conferencia, cómo va a establecer las relaciones con la REPAM, cómo se va a integrar en todo lo que es el CELAM.
Va a haber que ir viendo como se va haciendo, pero se ha dado un paso muy importante, que es el nacimiento en sí de la Conferencia, que es lo más importante. Y lo demás, poco a poco, caminante no hay camino, el camino se va haciendo al andar. Tenemos mucho trabajo por delante.