Como compreender que no Brasil, onde mais de 80% da população se diz cristã, haja tanta desigualdade e exclusão da mesa da cidadania? Não é uma contradição direta com o Evangelho de Jesus e com o amor de Deus que a todos irmana e iguala em dignidade?
A experiência pastoral das Campanhas da Fraternidade é um tempo forte de reflexão, conversão e ação pastoral na caminhada dos cristãos. A Campanha é intensificada no período da quaresma, mas muitas iniciativas concretas passam a fazer parte da ação das pastorais, movimentos sociais, grupos e movimentos das Igrejas cristãs.
Este ano a Campanha da Fraternidade tem como tema; “Casa comum, nossa responsabilidade”. Há estudos que mostram que estamos diante de um desafio ético que tem afetado tragicamente a vida dos seres vivos e o meio ambiente. Precisamos ter consciência de que: “A questão do saneamento afeta não apenas católicos, mas todas as pessoas, independente da fé que professem ou deixam de professar. O abastecimento de água potável, o esgoto sanitário, a limpeza urbana, o manejo de resíduos sólidos, o controle de meios transmissores de doenças e a drenagem de águas pluviais são medidas necessárias para que todas as pessoas possam ter saúde e vida dignas. Por isso, há que se ter em mente que justiça ambiental é parte integrante da justiça social.” Por isso, o objetivo geral da Campanha é ambicioso: “Assegurar o direito ao saneamento básico para todas as pessoas e empenharmo-nos, à luz da fé, por políticas públicas e atitudes responsáveis que garantam a integridade e o futuro de nossa Casa Comum”. O tema deste ano está em sintonia com a consciência ecológica e também com a Laudato Si’, do Papa Francisco. Somos desafiados a buscar “outra maneira possível de desenvolvimento e de relação com a Criação”. O lema é um trecho do livro do profeta Amós, esse homem de Deus que denunciou o culto vazio, repleto de louvores e oferendas a Deus, mas que não provocava conversão fazendo com que as pessoas pratiquem o direito e a justiça. Para esse profeta, não são grandes oferendas que agradam a Deus, mas sim a prática do direito e da justiça (cf. Amós 5,21-25).
Esta é a quarta vez que a Campanha realiza-se de forma ecumênica. Mas ainda são poucas as igrejas e organizações cristãs que se dão as mãos para participar da Comissão Organizadora da Campanha da Fraternidade. Precisamos, com carinho, superar muros e somar forças para concretizar ações em vista do bem comum. O que fazer para que outras Igrejas abracem a Campanha? Que você e eu abracemos juntos o compromisso de melhor cuidar da Casa Comum e exigir políticas públicas de saúde para todos. Lembre-se somos todos irmãos e irmãs!
Edward Neves M. B. Guimarães, teólogo leigo, casado, professor de Teologia e Cultura Religiosa do Departamento de Ciências da Religião da PUC Minas, trabalha com formação de catequistas, é membro do Conselho Arquidiocesano de Pastoral, assessor do Vicariato Episcopal para Ação Pastoral e secretário executivo do Observatório da Evangelização PUC Minas.