O diálogo do Evangelho com as culturas continua, ainda, um dos grandes desafios para ação evangelizadora da Igreja em nosso contexto atual. Na perspectiva do diálogo, a boa notícia do evangelho pode prestar um grande serviço ao projeto de vida dos vários grupos humanos expresso na diversidade de identidades culturais. “Muito longe de ameaçá-las ou de empobrecê-las, o Evangelho oferece às culturas um acréscimo de alegria e beleza, de liberdade e de sentido, de verdade e de bondade” (João Paulo II. Discurso no Conselho Pontifício para a Cultura, n. 5, 14 de março de 1997).
A Pastoral da Cultura deseja concretizar essa ação da Igreja que, de forma particular e especial, enfrente este desafio, tendo como foco as identidades culturais dos vários grupos humanos e comunidades, materializadas nos seus valores, seu patrimônio (material e imaterial), seus símbolos, seus rituais e outras formas de expressão.
O Conselho Pontifício da Cultura abre seu documento “Para uma Pastoral da Cultura”, reconhecendo a importância da identidade cultural para uma autêntica vivência da fé cristã e realização da pessoa humana:
“(…) é próprio da pessoa humana necessitar da cultura para chegar a uma autêntica e plena realização” (Gaudium et Spes, n. 53). Também a Boa nova que é o Evangelho de Cristo para todo homem e para o homem todo, o qual “é simultaneamente filho e pai da cultura onde está inserido” (Fides etRatio, n. 71), chega até ele na sua própria cultura, que impregna a sua maneira de viver a fé e ao mesmo tempo é progressivamente por ela modelada” (Para uma Pastoral da Cultura, n° 1).
A Pastoral da Cultura visa concretizar a aspiração e o esforço da Igreja em atuar de forma inculturada, em dialogar, de forma orgânica, com as diversas expressões da Cultura, tal como indicado em muitos de seus documentos.[1]
O Papa Francisco, na Evangelii Gaudium, ao tratar dos Desafios da inculturação da fé, observa:
“(…) Um olhar de fé sobre a realidade não pode deixar de reconhecer o que semeia o Espírito Santo. Significaria não ter confiança na sua ação livre e generosa pensar que não existem autênticos valores cristãos, onde uma grande parte da população recebeu o Batismo e exprime de variadas maneiras a sua fé e solidariedade fraterna. Aqui há que reconhecer muito mais que «sementes do Verbo», visto que se trata de uma autêntica fé católica com modalidades próprias de expressão e de pertença à Igreja. Não convém ignorar a enorme importância que tem uma cultura marcada pela fé, porque, não obstante os seus limites, esta cultura evangelizada tem, contra os ataques do secularismo atual, muito mais recursos do que a mera soma dos crentes. Uma cultura popular evangelizada contém valores de fé e solidariedade que podem provocar o desenvolvimento duma sociedade mais justa e crente, e possui uma sabedoria peculiar que devemos saber reconhecer com olhar agradecido” (EG, n. 68).
A Pastoral da Cultura é um chamado do Espírito Santo, uma exigência autêntica da fé cristã e da identidade católica, uma sabedoria que pode contribuir com a construção de uma sociedade mais justa e solidária.
A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil – CNBB, através da Comissão Episcopal Pastoral para a Educação e a Cultura – Setor Cultura, ao orientar as Dioceses e Arquidioceses a elaborarem seu plano de atividades da Pastoral da Cultura, apresenta os seguintes objetivos (CNBB, Igreja e sociedade em diálogo, p. 17-18, 2013):
Testemunhar o interesse da Igreja pelo diálogo fecundo com as expressões da cultura local, assim como por seu encontro com o Evangelho;
Estimular iniciativas que permitam à Igreja local uma presença ativa no próprio ambiente cultural, colaborando com setores da sociedade civil em ações que valorizem a importância cultural da cidade, como a criação e manutenção de bibliotecas, videotecas, encontros temáticos ou outras atividades que ajudem na formação de uma consciência de cidadania e valorização de suas próprias expressões culturais;
Valorizar as artes e os esportes como expressões culturais, apoiando e promovendo atividades que testemunhem sua importância;
Colaborar com as organizações católicas universitárias, artísticas e intelectuais, promovendo a cooperação recíproca entre elas;
Despertar o sentimento da comunidade para a valorização de sua memória e preservação de seu patrimônio histórico-cultural, de natureza material e imaterial.
A Pastoral da Cultura está profundamente relacionada com a Pastoral do Turismo, pois é a cultura, nas suas múltiplas dimensões e expressões, que oferece as riquezas, os sentidos existenciais significativos que estão no horizonte do “homo viator”, do turista, do romeiro ou do peregrino. Nesta perspectiva, na Arquidiocese de Belo Horizonte, a Pastoral do Turismo vai ser um capítulo especial da Pastoral da Cultura.
A Pastoral da Cultura, na Arquidiocese de Belo Horizonte, vai atuar em sintonia com as orientações da Igreja, presentes em seus documentos, e em sinergia com seus organismos, particularmente, o Setor Cultura da CNBB, o Núcleo de Estudos e Pesquisas em Pastoral da Cultura – NEPAC PUC Minas, a Rede Catedral de Cultura, o Colegiado de Leigos da Arquidiocese de Belo Horizonte, entre outros, formando redes de cooperação, na criação e execução dos projetos, buscando a unidade, na diversidade de interesses, e fomentando a comunhão entre pessoas, grupos e comunidades.
[1] Constituição Pastoral Gaudium et Spes, do Concílio Vaticano II – 1965; Documento de Santo Domingo – 1992; Carta do Papa João Paulo II aos Artistas – 1999; Para uma Pastoral da Cultura, do Pontifício Conselho para a Cultura – 1999; capítulo IV das Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil – DGAE, aprovadas na 37ª Assembléia Geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil – CNBB – 1999; Um Roteiro Para a Ação Cultural. Pastoral da Cultura, do Setor Cultura da CNBB – 2002