Ponderações sobre Dulce dos Pobres: Semente em Terra Boa – Izabella Faria de Carvalho

Segregação ou valorização?

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A leitura do texto sobre a Paróquia Bem-Aventurada Dulce dos Pobres nos chama a atenção em alguns aspectos. Dentre estes podemos destacar o se descobrir como povo capaz de caminhar com os próprios pés e de buscar a sua autonomia em relação às paróquias que lhe deram origem. O interessante nesse processo foi a transição de uma rede de comunidades de distintas paróquias em direção à formação de uma nova paróquia.

Essa transição nos faz lembrar uma mãe que incentiva o filho (ou seriam os filhos?) a caminhar, a princípio amparando-o, alimentando-o para que possa crescer, e, com o passar do tempo, deixando-o livre para entregá-lo ao mundo, ciente de que este filho é capaz de se manter e que possui a capacidade de se desenvolver ainda mais.

Um segundo aspecto interessante a ser salientado é a criação do vínculo afetivo criado entre os padres e a paróquia. O povo brasileiro gosta da afetividade e da presença de seu pastor. A visita de um padre a um doente, por exemplo, é um ato significativo e bastante valorizado pelas pessoas.  Além disso, os padres moram no aglomerado e, sobretudo, em casas semelhantes às dos paroquianos. Tais particularidades demonstram uma identificação com o lugar, denotam um pertencimento à vida do local no qual está localizada a paróquia.

Outra particularidade observada foi que, apesar da paróquia ser formada por uma população de um perfil específico, esta enfrenta um problema comum a outras paróquias de diferentes realidades: poucos jovens e também poucos homens estão envolvidos na vida paroquial. Em sua grande maioria, são as mulheres que participam da vida comunitária.

Além dos aspectos observados, lançamos um questionamento. Sabe-se que, de maneira geral, nas áreas onde estão localizadas as vilas e favelas, a presença daqueles que se declaram católicos é inferior a outras áreas que apresentam um melhor perfil socioeconômico. Por sua vez, nessas mesmas áreas, outras religiões se destacam, especialmente, os evangélicos das mais variadas denominações. Atribuir ao percentual de católicos o indicador de sucesso ou de fracasso na ação evangelizadora de um lugar seria reducionismo. Entretanto, esse percentual indica que, nessas áreas, a igreja deveria lançar um olhar especial.  Seria, então, a criação de paróquias que agreguem somente áreas de aglomerados, uma solução para esta necessidade de um cuidar específico? E ainda, essa criação de paróquias em vilas e favelas seria segregação ou valorização daquele lugar?

(Izabella Faria de Carvalho: Geógrafa e analista de sistemas, doutora em Geografia e coordenadora do Cegipar/PUC Minas – Centro de Geoprocessamento de Informações e Pesquisas Pastorais e Religiosas.)