No oitavo capítulo do Evangelho segundo João, nos deparamos com uma cena extremamente impactante: Jesus está no Templo, ensinando, e levam até ele uma mulher “apanhada em flagrante delito de adultério”, infringindo, pois, uma das prescrições do Decálogo que ordena “Não adulterarás” (Ex 20, 14; Dt 5, 18). Interpela-nos a ausência do adúltero, já que ela foi pega em flagrante. E mais ainda o ardor com que fariseus e escribas tentam pôr Jesus à prova, a fim de acusá-lo. O Mestre, no entanto, sabiamente, acusa os acusadores (“quem não tiver pecado…”) e não condena a mulher. Entrando na cena, podemos ver a profundidade do olhar de Jesus tanto sobre a mulher quando sobre aqueles que ameaçavam apedrejá-la. Sua misericórdia e justiça plena que resgata a todos, na medida em que cada qual se percebe partícipe do pecado comum.
Entre nós, no entanto, não cessam de aparecer notícias de mulheres que ainda hoje são acuadas e acusadas. Acusada de matar um homem que intimida, ameaça, violenta, agride, machuca de tantas formas, como se deu com Ana Roberta, de Santa Catarina, que se queixou de abuso e violência doméstica por 21 vezes na Delegacia comum e outras 16 vezes na de Proteção à Mulher, até que por fim assassinou aquele que por anos transformou sua vida em um inferno (http://www.geledes.org.br/com-historico-de-agressoes-mulher-mata-ex-com-nove-tiros-em-sc/#axzz3PHwSJIrJ). Ou, no extremo oposto, acusada de passividade, a mulher anônima do Pará que não ousa denunciar o companheiro que a esmurra diante de todos até que desmaie diante da multidão, psicologicamente incapacitada de lutar contra aquele que a mata, dia a dia, “por depender dele” (http://www.geledes.org.br/agredida-socos-pelo-marido-mulher-desiste-de-denuncia-dependo-dele/#axzz3PHwSJIrJ).
Não se pode ser conivente com nenhum ciclo de opressão e morte, nem na perspectiva humana, nem, muito menos, se quisermos ousar ser chamados de cristãos. Jesus de Nazaré jamais se calaria diante de tanta injustiça contra quem está fragilizado.