“Fidelidade e compromisso”, com a palavra Chico Machado

Primeiro sábado do mês de novembro. Geralmente aos sábados, a Igreja tem por costume dedica-lo à devoção a Maria, Mãe de Jesus. A razão que se deve a essa devoção está relacionado ao momento histórico da Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus, em vez que foi no Sábado, depois da Sexta-Feira Santa, que a Mãe foi a única pessoa que permaneceu firme de pé, em sua fé, esperando pela Ressurreição anunciada por Jesus de Nazaré. Para a Igreja, os sábados são estes momentos de solidão, de deserto, de morte e de luto. Uma morte com prenúncio de esperança e de luta para fazer prevalecer o Projeto de Deus.

Maria sempre teve uma presença significativa em minha vida. Ela sempre caminhou comigo, principalmente nos momentos mais difíceis desta minha jornada. Entretanto, sempre tive dificuldades de me relacionar com ela, como uma pessoa distante e fora da realidade concreta do chão da vida. Assim, a “castíssima”, a “puríssima”, a santíssima, não fazem parte de meu itinerário de devoção/oração à Mãe. A minha relação com ela vem de outras fontes mais concretas, por se tratar da mulher pobre, companheira, solidária, guerreira das causas dos pequenos e marginalizados.

Meu maior alívio foi quando passei a conviver com Pedro e perceber que ele tinha uma forma muito original de se relacionar com a Mãe de Jesus. Para ele, Maria era simplesmente a “Comadre de Nazaré”, afastando de mim a concepção de um herege, uma vez que vinha de encontro ao pensamento de um bispo. A mulher pobre e simples do meio do povo, escolhida a dedo para fazer parte do projeto salvífico de Deus para a humanidade, justamente por ela ser que era e fazer parte dos “ninguém”. Pensando nela, vem-me à mente um dos cânticos que sempre animavam as nossas comunidades: “Eu canto louvando Maria, minha Mãe, a ela um eterno obrigado eu direi. Maria foi quem me ensinou a viver, Maria foi quem me ensinou a sofrer”.


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Maria a mulher fiel! A serva fiel nas pequenas e grandes coisas. Abraçou o projeto de Deus e fez de si a serva fiel às causas dos pequenos. Servidora em todas as circunstancias e lugares: “Eis aqui a serva do Senhor; faça-se em mim segundo a tua palavra!”. (Lc 1,38). A ela pode ser aplicada a expressão em latim que é utilizada como título oficial ao Papa: “Servus Servorum Dei”, que quer dizer Servo dos Servos de Deus. A serva fiel, digna representante da comunidade dos pobres que esperam pela libertação. Acreditou e foi até o fim, fazendo parte do discipulado de Jesus, dando um toque de feminilidade, de amorosidade e generosidade, desde os primórdios do cristianismo.

Maria, a testemunha fiel das pequenas coisas do Reino. Ela encarna em si aquilo que Jesus está nos dizendo no Evangelho de hoje: “Quem é fiel nas pequenas coisas também é fiel nas grandes, e quem é injusto nas pequenas também é injusto nas grandes” (Lc 16,10). Aos poucos, vamos aprendendo que o segredo da vida consiste exatamente em ser fiel em tudo aquilo que fazemos. O desafio maior é ser fiel nas mínimas coisas da vida. Ser o que se é, sendo você mesmo, com as suas convicções e princípios, norteados pela fidelidade às causas de Jesus, com vistas a construção do Reino. As pequenas coisas que se tornam essenciais no nosso dia a dia, em nossos gestos e ações concretas.

Fidelidade e compromisso às causas como fez a serva fiel. Em Maria, Deus se faz presente na nossa história. Na história da humanidade. Um Deus que se faz Deus conosco. Não um Deus que necessita de um templo para se dar aos seus. “O Deus Altíssimo não habita em templos feitos por mãos de homens”. (Atos 7, 48). Maria, útero que se fez berço do Filho amado do Pai. A simplicidade de Maria, a “Comadre de Nazaré”, nos faz crer que o Deus de Jesus está no meio de nós. “O Reino de Deus está no meio de vocês”. (Lc 17, 21) Maria foi aquela que acreditou, mesmo sem compreender inicialmente o que iria acontecer na sua vida. Que saibamos também, fazer da nossa vida um sim dado a cada dia, para que o Reino possa se fazer presente através da fidelidade das nossas pequenas ações. Deus que é fiel na sua promessa, se dá como presente numa criança. Que sejamos também este presente às pessoas que conosco convivem, sendo fieis nas pequenas coisas e pequenos gestos!

Sobre o autor:

Chico Machado

Francisco Carlos Machado Alves é mineiro de Montes Claros, mas, desde 1992, a convite de Pedro Casaldáliga, vive e é agente de pastoral em São Félix do Araguaia. Fez das causas indígenas a grande causa de sua vida. Chico Machado, como é conhecido, trabalha com formação continuada de professores indígenas nas escolas das aldeias do Mato Grosso. Sua atividade pastoral é junto aos povos indígenas da região: Xavante, Kayabi, Iny (Karajá), dentre outros. Ele foi redentorista, tem mestrado em educação indígena, ele é graduado em filosofia, história e teologia. Chico Machado é colaborador do Observatório da Evangelização – PUC Minas.