Tornou-se comum ouvir e também repetir: a vida atual é estressante, doentia e infernal! Até quando irei aguentar, meu Deus do céu? Tal constatação levanta uma série de questionamentos. Elenquemos na primeira pessoa do plural: somos nós que configuramos a vida nesse ritmo alucinado e insuportável? Estamos submetidos, de modo incontornável e inevitável, a essa conformação da vida, ainda que constatada como realidade abominável? Temos ou não temos escolhas? Que preço nós pagaremos se continuarmos a viver assim? E se decidirmos mudar, andar na contramão e assumir outra direção, a conta é mais cara?
Alguns dizem que gostariam de ter coragem de mudar de vida. Outros que até pensam, em algum dia, “chutar o pau da barraca” e dizer: “basta, não quero mais viver assim”. Mas na hora do “vamos ver”, ficam paralisados diante do medo. Muitos reconhecem o peso que brota da insegurança. Surge, imediatamente, a sedutora tentação do “deixo a vida me levar”. Resultado: tornam-se pusilânimes e titubeantes diante de qualquer decisão! Mas será que realmente tais pessoas já sabem o que querem?
Penso que, no fundo, o problema seja outro. Não vivemos em uma aporia ou em uma espécie de “beco sem saída”. Acontece que, geralmente, nós não temos o hábito para tirar tempo para nós. Tempo para a interiorização, reflexão e discernimento. Essas se revelam experiências humanas fundamentais na conquista do autoconhecimento. É claro que um bom livro ajuda ou, dentre outras experiências, uma viagem, palestra, filme, fracasso. Mas nenhuma substitui a do “tirar um tempo para si mesmo”. Quem para interiorizar, refletir e discernir, não tende a tornar-se escravo de “Kronos”, o tempo marcado pelo relógio (cronômetro), determinado pelo calendário ou agenda? Trata-se daquilo que mensura, organiza e determina a vida cotidiana. O tempo cronológico cria a rotina necessária para a vida em sociedade.
Acontece que o ser humano é, intrinsecamente, liberdade, autonomia, indeterminação, criatividade, originalidade, singularidade… Poderíamos continuar a lista de vocábulos para traduzir a nossa condição. Por isso precisamos de “Kairós”. Somos insaciavelmente famintos de tempo livre, de ócio, de gratuidade. Protestamos contra o total controle, robotização, massificação e automatismo da vida. Caso contrário, ficamos doentes ou nos suicidamos, ainda que às prestações!
O que desejo a você que me acompanhou até aqui? Que o tempo do Advento-Natal-Ano Novo seja, de fato, um tempo rico de experiências humanizantes, propício para favorecer experiências de interiorização, reflexão e discernimento. Que seja um tempo de profunda humanização, pois, o mundo que sonho e que procuro diariamente ajudar a construir só existirá com pessoas melhores!
Edward Neves Monteiro de Barros Guimarães