Você conhece a Pastoral do Surdo da Arquidiocese de Belo Horizonte?

“Ora João Batista, estando no prisão, ouviu falar das obras do Cristo e mandou alguns discípulos para lhe perguntar: ‘És tu, aquele que há de vir ou devemos esperar outro?’ Jesus respondeu-lhes: ‘Ide contar a João o que estais ouvindo e vendo: cegos recuperam a vista, paralíticos andam, leprosos são curados, surdos ouvem, mortos ressuscitam e aos pobres se anuncia a Boa Notícia.'”

Mateus 11, 2-5

“Depois, Jesus olhou o céu, suspirou e disse: ‘ÉFETA!’ que quer dizer: ‘ABRA-SE!’ imediatamente os ouvidos do surdo se abriram, sua língua se soltou e ele começou a falar sim dificuldade”.

Mc 7, 34-36

O jeito de Jesus anunciar e testemunhar a presença do Reino de Deus atuante no meio de nós despertou e provocou nova experiência de Deus e de seu agir gratuito e amoroso em nossas vidas. Jesus revelou o rosto paternal-maternal, acolhedor e misericordioso, de Deus. Além de nos amar como filhos e filhas, nos interpela a, também nós, cultivarmos a centralidade do amor ao próximo, da solidariedade inclusiva e da partilha de tudo que somos e temos a partir dos mais pobres e vulneráveis. Jesus nos ensinou o verdadeiro sentido dos mandamentos da lei divina: sermos humanos e generosos uns com os outros, procurando agir como o próprio Deus age conosco, ou seja, com solicitude, atenção, respeito, cuidado e afeto.

No tempo de Jesus, predominava uma interpretação deturpada do Código da Aliança, dos mandamentos da lei divina, que provocava o absurdo da exclusão do convívio social dos que mais precisavam: os enfermos, os portadores de deficiências físicas ou psíquicas, os empobrecidos, as mulheres, os estrangeiros e todos os que fossem considerados pecadores e impuros. Rompendo com esse processo de exclusão, Jesus saiu ao encontro dos marginalizados, anunciou a eles o amor de Deus e os acolheu, humanizando-os e reinserindo-os na dinâmica da sociedade.

O papa Francisco, de forma recorrente e insistente, tem nos chamado a que, enquanto Igreja de Cristo, nos empenhemos todos, para juntos superarmos a cultura do egoísmo e da exclusão, com sua perversa globalização da indiferença, sendo uma Igreja em saída, samaritana, que irradia pelo testemunho o fermento de uma cultura do encontro[1] e do acolhimento[2]. Isso porque, infelizmente, em nossas sociedades – por inúmeros mecanismos de exclusão social e por falta de políticas públicas garantidoras da dignidade humana – muitos filhos e filhas de Deus continuam a ser excluídos.

Você sabia que esta foi durante muito tempo a realidade das pessoas surdas? No decorrer dos séculos elas foram recorrentemente estigmatizadas por líderes religiosos e políticos, médicos e cientistas como sendo doentes, retardadas mentais e/ ou vítimas de possessão demoníaca. Apenas recentemente, já no século XX, após várias tragédias humanas envoltas em malfadados rituais de exorcismo e “tratamentos” manicomiais desumanos, depois de muitas lutas, que a comunidade das pessoas surdas conseguiu afirmar a surdez não como uma desgraça ou uma patologia mas sim como uma cultura com linguagem, modos de vida e lógicas próprias. Tal mudança proporcionou uma crescente conquista de direitos civis e sociais e uma maior visibilidade positiva da referida comunidade, das suas lutas e das especificidades de sua realidade. Apesar dos avanços que merecem ser celebrados, ainda há muito por lutar, conquistar e superar nos âmbitos social, político, religioso, econômico etc. É o que podemos constatar, por exemplo, a partir da bela caminhada missionária e evangelizadora da Pastoral do Surdo da Arquidiocese de Belo Horizonte.

A Pastoral do Surdo da Arquidiocese de Belo Horizonte

As pessoas surdas estão presentes por toda a arquidiocese de Belo Horizonte. Embora não se saiba com exatidão o tamanho desta população, calcula-se aproximadamente 15.000 pessoas. Tal realidade nos possibilita conhecer as diversas experiências paroquiais de nossa Igreja particular, em especial as da Pastoral do Surdo do Curato Nossa Senhora do Silêncio.

A história desta pastoral iniciou-se em meados 1992 quando duas mulheres surdas, Maria Regina e Isabel Leão lideraram um expressivo movimento de pessoas surdas para promoverem a sua acessibilidade social, dentre tantas outras formas, a partir da celebração de missas rezadas em língua de sinais, na Arquidiocese de Belo Horizonte.

As atividades do grupo pastoral iniciaram-se a 23 de novembro daquele ano com a anuência do então arcebispo metropolitano de Belo Horizonte dom Serafim Fernandes de Araújo. A celebração contou com a colaboração, dentre vários importantes apoiadores e intérpretes, do seminarista Mauro, que futuramente se tornou um padre bilíngue (português/LIBRAS).

Desde então, a pastoral vivenciou vários avanços promovidos em torno da busca da inclusão e acessibilidade da pessoa surda nas atividades eclesiais da Capelania da Pastoral do Surdo, dentre eles:

  • a formação de catequistas surdos;
  • a organização de encontro para casais surdos;
  • a articulação dos vários ministérios da Palavra e da Comunhão;
  • as ações sociais;
  • as celebrações litúrgicas;
  • e os sacramentos.
Reportagem no marco celebrativo dos 25 anos da Pastoral do Surdo em BH, em 2018.

Atualmente a Pastoral do Surdo integra o Vicariato Episcopal para Ação Social, Política e Ambiental (VEASPAM) e concentra as suas atividades no Colégio Santa Maria Minas, bairro Nova Suíça, onde as atividades são promovidas em LIBRAS. Já nas paróquias Cristo Redentor (Barreiro), Nossa Senhora Rainha dos Apóstolos (Contagem) e São Judas Tadeu (Betim), as atividades são de inclusão, oferecidas em português com acessibilidade em LIBRAS.

Em 2018 o arcebispo metropolitano da Arquidiocese de Belo Horizonte dom Walmor de Oliveira Azevedo constituiu a Pastoral do Surdo, a pedido do Pe. Wagner Douglas (assistente eclesiástico da mesma) como Curato Nossa Senhora do Silêncio.

Pe. Wagner Douglas e dom Walmor de Oliveria de Azevedo

Na ocasião a pastoral adquiriu status canônico, acolheu Nossa Senhora do Silêncio como a sua padroeira e reafirmou o seu desejo ardente, enquanto comunidade de fé, de seguir Jesus ‘Bom Pastor’ e levar a sua mensagem libertadora a todos, com uma atenção especial aos surdos e surdas.

Ícone da padroeira da Pastoral do Surdo da Arquidiocese de Belo Horizonte: Nossa Senhora do Silêncio.

Ações da Pastoral do Surdo Curato Nossa Senhora do Silêncio

A Pastoral do Surdo da Arquidiocese de Belo Horizonte é um centro de referência para o acolhimento, a acessibilidade e a participação das pessoas surdas e surdas-cegas nos processos de reivindicação de políticas públicas que ampliem os seus direitos.

A pastoral desenvolve várias atividades, dentre elas destacam-se:

  • Curso de Instrutores de Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS) para surdos;
  • Curso de LIBRAS para surdos, seus familiares e diversos profissionais da área de educação, saúde e justiça;
  • Curso de LIBRAS tátil, com o objetivo de formar intérpretes para acompanhamento dos surdo-cegos em todos suas necessidades de acessibilidade;
  • Formação de intérpretes católicos para acompanhamentos dos surdos em todas as áreas da nossa Igreja, como: celebrações eucarísticas, casamentos, batizados, primeira comunhão, crismas etc.;
  • Curso de formação de catequistas surdos para atuarem com crianças, jovens e adultos;
  • Cursos de batismo, noivos e catequese para surdos;
  • Atendimento ao surdo no prédio do VEASPAM para soluções de problemas cotidianos, como aqueles relacionados a bancos, Cemig, Copasa, operadoras telefônicas etc.;
  • Atendimento para agendamento de médicos, dentistas, exames etc.;
  • Atendimento aos surdos com problemas familiares, psicológicos, jurídicos etc.;
  • Atendimento para marcação de batizados, casamentos, crisma etc.;
  • Fabricação de bolsas para geração de renda destinada ao pagamento das nossas despesas pastorais e missionárias;
  • Disponibilização de intérpretes para celebrações eucarísticas, casamentos, batizados etc.

Ações pastorais e Pandemia da Covid-19

As complicações da pandemia da Covid-19 a partir de março de 2020 no Brasil demandaram das diversas instituições sociais, dentre elas a Igreja Católica, responsabilidade social e compromisso com a manutenção da vida. Destarte, as comunidades em que se faz presente a Pastoral do Surdo puderam experienciar, em consonância com as recomendações da Arquidiocese de Belo Horizonte e da CNBB e com os valores vivificantes do evangelho de Jesus, novas práticas de fé a partir do cumprimento do distanciamento social, da higienização dos espaços sagrados, do uso de máscara e da transmissão das missas e demais atividades religiosas via redes sociais e canais digitais, demonstrando assim o seu compromisso com a vida e a com a nossa casa comum.

Para melhor conhecer o nosso trabalho de evangelização

Os interessados em acompanhar as atividades e participar da Pastoral do Surdo pode encontrar mais informações da pastoral nos seguintes endereços eletrônicos:

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Endereço:

Rua: Lindolfo de Azevedo, 345 – Nova Suíça, Belo Horizonte – MG, 30421-265

  • Você gostaria de conhecer a Pastoral do Surdo da Arquidiocese de Belo Horizonte?
  • Você já pensou em fazer parte de nossa Pastoral?

Crislaine Barbosa Santos

Coordenadora surda das Pastoral do Surdo da Arquidiocese de Belo Horizonte

Cláudia Soares e Pe. Wagner Douglas Gomes de Souza

Representantes da Pastoral do Surdo da Arquidiocese de Belo Horizonte

Glaucon Durães da Silva Santos

Membro da equipe ampliada do Observatório da Evangelização PUC Minas

Edward Neves Monteiro de Barros Guimarães

Secretário Executivo do Observatório da Evangelização e

Coordenador do Projeto de Evangelização “Impulso de fé para uma primavera das pastorais sociais”


[1] “Papa: cultura do encontro, base para um mundo mais unido e reconciliado”. (VATICAN NEWS, 2021). In: https://www.vaticannews.va/pt/papa/news/2021-02/papa-audiencia-instituto-europeu-estudos-internacionais-suecia.html. Acesso: 04/03/2021.

[2] “Francisco: ‘difundir a cultura do acolhimento’”. (VATICAN NEWS, 2018). In:

 https://www.vaticannews.va/pt/papa/news/2018-03/papa-acolhimento-audiencia-trento.html. Acesso: 04/03/2021.