O grande desafio que a humanidade tem enfrentado ao longo da história é o de adaptar-se ao que está surgindo como novo, procurando instrumentos que ajudem a superar as dificuldades. Estamos fechando um ano diferente, muito diferente, marcado por uma pandemia que provocou mudanças radicais em nosso modo de entender a vida e de nos relacionarmos com os outros. Poderíamos dizer que o distanciamento social se tornou algo que resume este 2020.
Nesta nova situação, fomos desafiados a aprender novas maneiras de estarmos próximos uns dos outros, de promover a cultura do cuidado, como proposto pelo papa Francisco em sua mensagem para o Dia Mundial da Paz, que se celebra a cada 1° de janeiro. Não podemos esquecer que a proximidade e o cuidado são demonstrados de muitas maneiras.
A Igreja também enfrentou estes mesmos desafios, sendo provocada a dar respostas que foram pouco ou nada exploradas até o momento. Podemos dizer que, em certas áreas eclesiásticas, qualquer coisa que transcenda o espaço concreto e o controle direto sempre provocou desconfiança. Também é verdade que existem pessoas que fazem coisas extraordinárias e conseguem ser uma presença eclesial no mundo virtual, pessoas concretas que neste tempo de pandemia foram uma luz de esperança e uma fonte de vida e cuidado do outro lado da tela.
Este 2020 nos fez perceber de repente que estar na rede é uma missão fundamental na vida da Igreja. Lembro que em 2018, durante a 71ª Semana Espanhola de Missiologia, que é celebrada todo mês de julho, e cujo tema era “Missão e Redes”, alguns desses especialistas do mundo virtual ofereceram reflexões que naquela época foram vislumbradas a longo prazo, mas que a pandemia avançou a um ritmo vertiginoso.
Nos últimos meses, eu fui descobrindo muitas experiências, mas também as vivi pessoalmente. As muitas reuniões, algo que já acontecia antes da pandemia, embora talvez com muito menos qualidade e frequência, foram acompanhadas por uma experiência pastoral na qual os meios digitais nos permitiram acompanhar a vida do povo. Houve muitos dias em que, de casa, celebrei e continuo a celebrar a Eucaristia através das redes sociais, com um grupo de pessoas mais ou menos fiéis, que são gratas por esta presença em suas vidas, que dizem que é um momento importante que os ajuda, de uma forma nova e desconhecida, a rezar e a se sentir comunidade.
Nesta segunda-feira, um dos participantes mais assíduos de nossa Eucaristia morreu, e outra pessoa, que também faz parte do grupo mais habitual, disse que parecia conhecê-lo, quando na verdade eles nunca se tinham encontrado fisicamente. Para dizer a verdade, não conheço pessoalmente, de acordo com o conceito tradicional, um bom número daqueles que participam, mesmo alguns dos que estão lá quase todos os dias, mas isso não me impediu de estabelecer uma relação de cuidado mútuo, que, neste caso, se baseia na mesma fé.
Além dessas celebrações, que poderíamos dizer mais constantes, também houve bodas de ouro, neste caso de meus pais, funerais com famílias diferentes, celebrações jubilares… Reconheço que os primeiros dias foram um pouco estranhos, mas com o tempo consegui interagir e tornar possível essa proximidade e cuidado à distância, o que sem dúvida abre possibilidades para o futuro. Não podemos negar que muitas dessas coisas vieram para ficar e que devemos usá-las na medida em que ajudam a cuidar das pessoas.
Durante este tempo refleti sobre a vida da primeira Igreja, como os primeiros apóstolos realizaram a primeira missão, as diferentes visões que existiam a esse respeito e a força e o desejo com que eles, e aqui devemos destacar a figura de Paulo, conseguiram entrar num mundo desconhecido para anunciar o que era o fundamento de sua vida. Ao longo dos séculos, a mensagem do Evangelho teve diferentes formas de se tornar conhecida, penetrou em culturas e realidades que muitas vezes eram novas, e quase sempre soube responder a essas situações.
O mundo moderno, onde as telas são elementos cotidianos, quase indispensáveis e inseparáveis para as gerações mais jovens e, consequentemente, para o futuro da humanidade e da Igreja, nos desafia, e a pandemia nos fez acelerar o ritmo, a entrar em um mundo que também tem seu potencial, o qual somos desafiados a enfrentar, também como Igreja. A tecnologia, de certa forma, nos oferece a possibilidade de nos aproximarmos do outro, embora eu reconheça que existem opiniões diferentes sobre isso. Este mundo virtual é visto por cada vez mais pessoas como algo cotidiano, parte do dia-a-dia, que deve nos levar a fazer o que pudermos para que o Evangelho também esteja presente neste espaço.
A Igreja de saída, da qual o papa Francisco tanto fala, uma Igreja que sai ao encontro, que se preocupa com o cuidado do outro, tem na tecnologia um instrumento que pode ajudar a se fazer presente na vida das pessoas, na vida daqueles que estão distantes da Igreja, que, se conseguirmos oferecer toda a riqueza que o Evangelho da misericórdia contém, pode fazer com que essas pessoas sintam novamente a necessidade de encontrar um Deus pelo qual se sentem cuidadas através daqueles que Ele envia. É hora de olhar em frente, com esperança, sentindo o cuidado daquele Deus que está sempre conosco.
Sobre o autor:
Luis Miguel Modino – Padre diocesano de Madri, missionário fidei donum na Amazônia, residindo atualmente em Manaus – AM. Faz parte da Equipe de Comunicação da REPAM. Correspondente no Brasil de Religión Digital e colaborador do Observatório da Evangelização e em diferentes sites e revistas.
A seguir, a versão do texto em espanhol:
2020: el año en que aprendimos a cuidar desde el otro lado de la pantalla
El gran desafío que la humanidad ha enfrentado a lo largo de la historia es el de adaptarse a aquello que va surgiendo como novedad, buscando instrumentos que ayuden a superar las dificultades. Estamos encerrando un año diferente, muy diferente, marcado por una pandemia que ha provocado cambios radicales en nuestra forma de entender la vida y de relacionarnos con los otros. Podríamos decir que el distanciamiento social se ha convertido en algo que resume este 2020.
En esa nueva coyuntura, hemos sido desafiados a aprender nuevas formas de estar próximos unos de otros, de promover la cultura del cuidado, como nos propone el Papa Francisco en su mensaje para la Jornada Mundial de la Paz, que se celebra todo 1 de enero. No podemos olvidar que la cercanía y el cuidado se demuestran de muchas formas.
La Iglesia también ha enfrentado esos mismos desafíos, siendo provocada a dar respuestas hasta ahora poco o nada exploradas. Podemos decir que, en ciertos ámbitos eclesiásticos, todo aquello que trasciende el espacio concreto y el control directo siempre ha provocado recelo. También es verdad que hay gente que hace verdaderas virguerías y realmente consigue ser una presencia eclesial en el mundo virtual, personas concretas que en este tiempo de pandemia han sido una luz de esperanza y una fuente de vida y cuidado desde el otro lado de la pantalla.
Este 2020 nos ha hecho asumir de sopetón que estar en las redes es una misión fundamental en la vida de la Iglesia. Recuerdo que, en 2018, durante la 71 Semana Española de Misionología, que cada mes de julio se celebra en Burgos, que tuvo como tema “Misión y Redes”, algunos de estos expertos en el mundo virtual ofrecían reflexiones que en aquel momento se vislumbraban a más largo plazo, pero que la pandemia ha adelantado vertiginosamente.
Uno ha ido conociendo muchas experiencias a lo largo de los últimos meses, pero también las ha vivido personalmente. A las múltiples reuniones, algo que ya se tenía antes de la pandemia, aunque tal vez con mucha menos calidad y frecuencia, se ha unido una experiencia pastoral en la que los medios digitales nos han permitido acompañar la vida de la gente. Han sido muchos los días en los que desde casa he celebrado, y continúo celebrando, la Eucaristía a través de las redes sociales, con un grupo de personas más o menos fiel, que agradecen esta presencia en sus vidas, que dicen ser un momento importante que las ayuda, de una forma nueva y desconocida a rezar y sentirse comunidad.
Este lunes, uno de los más asiduos participantes de nuestras Eucaristías ha fallecido, y otra persona, que también forma parte del grupo más habitual, decía que parecía que le conocía, cuando en verdad nunca se habían encontrado físicamente. A decir verdad, yo no conozco personalmente, según el concepto tradicional, a buena parte de quienes participan, incluso a algunos de los que están casi todos los días, pero eso no me ha impedido ir estableciendo una relación de cuidado mutuo, que, en este caso, se fundamenta en una misma fe.
Además de esas celebraciones, que podríamos decir que han sido más constantes, también ha habido bodas de oro, en este caso de mis padres, funerales con diferentes familias, celebraciones jubilares… Reconozco que los primeros días resultó un poco extraño, pero con el tiempo uno ha ido consiguiendo interactuar y hacer posible esa cercanía y ese cuidado en la distancia, que sin duda nos abre posibilidades para el futuro. No podemos negar que muchas de estas cosas han llegado para quedarse, y que debemos usarlas en la medida en que ayudan a cuidar de la gente.
En este tiempo he reflexionado sobre la vida de la primera Iglesia, como los primeros apóstoles llevaron a cabo la primera misión, las diferentes visiones que había al respecto y la fuerza y las ganas con las que ellos, y aquí habría que destacar la figura de Pablo, consiguieron adentrarse en un mundo desconocido para anunciar aquello que fundamentaba su vida. El mensaje del Evangelio ha tenido a lo largo de los siglos diferentes modos de ser dado a conocer, ha ido penetrando en culturas y realidades muchas veces novedosas y casi siempre ha sabido dar una respuesta ante esas situaciones.
El mundo moderno, donde las pantallas son elementos cotidianos, casi imprescindibles e inseparables para las generaciones más jóvenes, y en consecuencia para el futuro de la humanidad y de la Iglesia, nos desafía, y la pandemia nos ha hecho acelerar el paso, a adentrarnos en un mundo que también tiene sus potencialidades, que somos desafiados a enfrentar, también como Iglesia. La tecnología, en cierto modo nos ofrece la posibilidad de acercarnos al otro, aunque reconozco que sobre eso hay opiniones diferentes. Ese mundo virtual es visto cada vez por más gente como algo cotidiano, que forma parte del día a día, lo que nos tiene que llevar a hacer lo posible para que el Evangelio también se haga presente en ese espacio.
La Iglesia en salida, de la que tanto habla el Papa Francisco, una Iglesia que va al encuentro, que cuida, tiene en la tecnología un instrumento que puede ayudar a hacerse presente en la vida de la gente, en la vida de los alejados, que, si conseguimos ofrecer toda la riqueza que el Evangelio de la misericordia encierra, puede hacer con que esas personas puedan volver a sentir la necesidad de encontrarse con un Dios por el que se sienten cuidados a través de aquellos que Él envía. Es tiempo de mirar hacia adelante, con esperanza, sintiendo el cuidado de ese Dios que siempre está con nosotros.
Excelente artigo. Toca em pelo menos três pontos essenciais:
1 – A necessidade de que alguma iniciativas da Igreja sema melhor divulgadas e trabalhadas.
2 – O potencial que pode ser explorado para o trabalho em rede.
3 – A oportunidade que o alcance da tecnologia de comunicação nos oferece. Vivi isto, pessoalmente, este ano, quando dei aulas ou palestras. Ao invés de alcance local, tivemos pessoas de todas as regiões do país.