Simplesmente, amor

Quando comecei minha experiência de navegante neste fascinante e traiçoeiro mundo do Facebook fui seguindo as instruções para elaborar o meu ‘perfil’, ou seja, as informações sobre minha pessoa que iriam me identificar para a legião de ‘amigos’ que, muitos deles, nunca tinha visto na minha vida. Um dos itens perguntava sobre meus interesses, especificando “homens ou mulheres”? Achei aquilo muito restrito. Tenho interesse por tanta coisa. Sou um curioso obsessivo. Mas, vamos lá, sapequei um duplo X na questão e segui em frente. Afinal, pessoas me interessam.

Pra quê…Logo comecei a receber umas propostas de amizade estranhas, comentários de triplo sentido, postagens de fazer corar o frade no confessionário. Até que um amigo de verdade me avisou: – “Eduardo, conserta isso, você não é bissexual”… O Facebook devia ter uma seção chamada “Aviso aos Navegantes”… É perigoso o mundo das Redes. Tem de tudo. E, antes que já comecem a imaginar em mim impulsos hétero/homofóbicos típicos dos amigos do Capitão, já previno: não tenho nenhum. Sou daqueles que, de verdade, consideram justa toda forma de amor, contando que seja simplesmente amor. Vivo a minha, respeito as dos demais.

“Simplesmente, amor”… Lembrei-me do filme. Uma típica comédia romântica inglesa (adoro!), refresco cinematográfico em meio à avalanche de desastres e violência que costuma ser despejada nas telinhas e telonas pelo cinema americano. Aliás, bem adequadamente, a história se passa na época do Natal. Em meio a muitos clichês, sacados com bom gosto e humor, são várias histórias, todas com alguma ligação entre si, ainda que sutil. Nelas o amor (seria mais adequado falar em paixão) é apresentado sob diversas formas e situações e uma das diversões de quem está no sofá é escolher qual gosta mais. Uma das minhas preferidas é a de um casal de atores de filmes eróticos que, entre uma cena e outra vão iniciando um romance puro, tímido e comportado.

Em cada história o filme, a seu modo, ressalta algo que o cristianismo nos diz desde sempre: fomos feitos para o amor. Nele nos realizamos. Mas o amor cristão, como diz Paulo em sua Carta aos Coríntios, convida a um mergulho mais profundo. O amor, como desejo de bem para o outro, de sua felicidade, de sua realização como pessoa humana em sua plena dignidade, esse amor tem muitas expressões.

  • Na família, berço do amor primeiro, amamos sempre, apesar de tantos limites e contradições.
  • O que dizer do amor entre amigos, amor que fala de cumplicidade e confiança?
  • E o amor que está presente na profissão exercida com carinho, dedicação, competência e respeito?
  • Há o amor muitas vezes anônimo e silencioso de quem se dedica a uma causa, a um ideal e nele ‘gasta’ uma vida. É o amor que sublima e integra, fazendo-se plena doação. Nessa categoria podemos encontrar de guerrilheiros a religiosos(as), de Madres Terezas a anônimas donas de casa…
  • E há, é claro, o amor ressaltado no filme, o sentimento que abraça tudo no Eros, estabelecendo comunhão entre corpo, mente e coração. Sem preconceitos.

Assim, um filme leve, sem maiores compromissos a não ser divertir, me convida como cristão, “aquele que vê o que todo mundo vê, mas de um modo diferente…” a perceber o que pode estar por trás de personagens e situações as mais banais.

E, me perdoem, mas vou dar um spoiler da cena final: simplesmente uma câmera colocada no saguão de desembarque de um aeroporto, registrando cenas de encontros humanos. Pessoas que chegam, pessoas que recebem os que estão chegando. Abraços, sorrisos, beijos, afeto, ternura.

Pobre reducionismo do Facebook. Ele não sabe a maravilha de podermos nos interessar por familiares, amigos, trabalho, ideais, sonhos e desejos. Simplesmente, com amor…

Eduardo Machado

16/12/2020

Sobre o autor:

Prof. Eduardo Machado

Eduardo Machado é educador e escritor apaixonado pelo ser humano. Considera-se um católico que tenta, cada dia mais, tornar-se cristão. É colaborador do Observatório da Evangelização – PUC Minas.