“A humanidade precisa mudar. É fundamental mudar a economia. O sistema mundial em sua vertente capitalista neoliberal financeirizada é insustentável. A desigualdade é o mal estrutural maior do planeta. Especulação e idolatria do dinheiro: os pecados do nosso tempo. As agressões mais frequentes e cruéis contra a vida e a Criação vêm do poder dinheiro. Essa economia não salva ninguém... As relações econômicas necessitam de uma mudança radical de orientação: da competitividade para a colaboração; da exploração para a sustentabilidade; da acumulação egoísta para a distribuição justa; do consumismo individualista desenfreado ao consumo consciente e solidário. Pensar em um mundo menos desigual. Não há democracia política sem democracia econômica.”
Confira a reflexão do prof. Élio Gasda:
ECONOMIA DE FRANCISCO
Hoje, 19 de novembro, começa o Encontro Economia de Francisco.
Em modalidade virtual, o evento se estenderá até o dia 21 e poderá ser acompanhado no portal francescoeconomy.org. A versão on-line permite que todos os jovens inscritos participem do encontro nas mesmas condições de compartilhar suas experiências, trabalhos, propostas e as reflexões amadurecidas nos últimos meses.
É a primeira vez que um líder mundial de uma instituição global convoca os jovens para pensar uma economia diferente daquela que descarta e “mata” milhões de pessoas e destrói a natureza.
O compromisso de Francisco com a proposta de vida de Jesus, “o Reinado de Deus “, é um convite. A economia que o inspira está baseada no encontro com Jesus de Nazaré.
É preciso escutar os jovens!
O projeto Economia de Francisco se tornou o mais amplo movimento de jovens economistas e empreendedores do mundo. Aconteceram mais de 300 encontros preparatórios on-line envolvendo 3 mil jovens de 120 países. Estão previstas conferências de economistas renomados como Muhammad Yunus, Jeffrey Sachs, Vandana Shiva, Stefano Zamagni, Nelson Barbosa.
As 12 “aldeias” temáticas foram transformadas em sessões de trabalho on-line que os jovens realizaram nos últimos meses:
- trabalho e cuidado;
- gestão e dom;
- finanças e humanidade;
- agricultura e justiça;
- energia e pobreza;
- lucro e vocação;
- políticas para a felicidade;
- CO2 da desigualdade;
- negócios e paz;
- economia e mulher;
- empresas em transição;
- vida e estilos de vida.
Pensar outra economia é uma obrigação moral.
A humanidade precisa mudar. É fundamental mudar a economia. O sistema mundial em sua vertente capitalista neoliberal financeirizada é insustentável. A desigualdade é o mal estrutural maior do planeta. Especulação e idolatria do dinheiro: os pecados do nosso tempo. As agressões mais frequentes e cruéis contra a vida e a Criação vêm do poder dinheiro. Essa economia não salva ninguém.
“As gerações futuras vão herdar um mundo grandemente deteriorado. Nossos filhos e netos não têm de pagar o preço da irresponsabilidade de nossa geração” (Papa Francisco).
É urgente corrigir modelos de crescimento que não respeitem a vida humana, o meio ambiente e a justiça. Devemos redescobrir a essência mais importante da economia. Não se trata apenas do dinheiro, investimentos e finanças. A Igreja, liderada por Francisco, quer contribuir para mudar a economia. Uma economia inclusiva, sem descartar ninguém.
O documento que embasa o movimento Economia de Francisco é a encíclica Laudato si’, sobre o cuidado da casa comum (2015). Ecologia integral significa pensar no bem comum. A ideia é colocar a economia a serviço da sociedade.
O dinheiro deve servir, e não governar! (Evangeli gaudium, 58).
O fim último da economia não está na economia, mas no seu propósito. A economia é uma atividade realizada por pessoas e orientada ao serviço das pessoas. Significa administrar a casa comum para garantir a sobrevivência material. “A dignidade da pessoa humana e o bem comum deveriam estruturar toda a política econômica” (Evangeli gaudium, 203).
A economia é uma prática social relacionada com outras práticas para constituir uma forma de vida racional e ecologicamente sustentável. A casa comum é uma só. Não é possível uma ecologia integral sem uma economia integral. Pensar a economia a partir de questões básicas como: O que produzir? Quanto produzir? Como produzir? Com que impactos ambientais? Como será distribuída a produção?
As relações econômicas necessitam de uma mudança radical.
As relações econômicas necessitam de uma mudança radical de orientação: da competitividade para a colaboração; da exploração para a sustentabilidade; da acumulação egoísta para a distribuição justa; do consumismo individualista desenfreado ao consumo consciente e solidário. Pensar em um mundo menos desigual. Não há democracia política sem democracia econômica.
Uma economia gerada desde a cotidianidade da vida. A vida é o ponto de partida. A vida é a condição absoluta de tudo o que o ser humano faz. Se matamos as condições que permitem a vida se reproduzir, estamos condenados. Não pode haver dúvidas quanto a isso. “Façamos um ‘pacto’ para mudar a atual economia e dar uma alma à economia do amanhã” (Papa Francisco).
(Adaptação e grifos, Edward Guimarães, para o Observatório da Evangelização)
Sobre o autor:
Élio Gasda é jesuíta, doutor em Teologia, professor e pesquisador na Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia – Faje. Sua reflexão teológica sobre os desafios e urgências da contemporaneidade, à luz da Fé, da Ética e dos princípios estruturantes da Doutrina Social da Igreja, vem contribuindo significativamente na caminhada do movimentos populares, as pastorais sociais, grupos diversos e lideranças comprometidas com a transformação das estruturas injustas da sociedade e a cultura da paz fundada na justiça e na fraternidade. Além de inúmeros artigos, dentre seus livros destacamos: Trabalho e capitalismo global: atualidade da Doutrina social da Igreja (Paulinas, 2001); Cristianismo e economia (Paulinas, 2016). O Observatório da Evangelização tem publicado aqui alguns de seus artigos.
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