Papa Francisco reza no túmulo de São Francisco e LANÇA hoje, diretamente de Assis, A sua nova Encíclica sobre a Fraternidade e a amizade SOCIAL: FRATELLI TUTTI

Do mundo inteiro, cristãos e pessoas de boa vontade têm um encontro marcado com o Papa Francisco em Assis, neste sábado, dia 3 de outubro de 2020. A Rádio Vaticano/Vatican News transmitirá a missa presidida pelo Papa junto ao túmulo de São Francisco, na cidade de Assis, ao vivo a partir das 14h55, horário local e 09h55 no horário de Brasília. Será possível acompanhar a cerimônia através do site vaticannews.va/pt e do canal no YouTube e no Facebook, com comentários em português.

Devido à situação sanitária, por responsabilidade social, é desejo do Papa Francisco que a visita a Assis se realize de forma privada, sem a participação dos fiéis. Ao final da cerimônia, o Papa assinará sua nova encíclica, “FRATELLI TUTTI”, sobre a fraternidade e a amizade social. Concluído o evento, o Santo Padre regressará ao Vaticano.

Para ler a Encíclica sobre a fraternidade e a amizade social Fratelli Tutti, em português, clique no título abaixo:

Papa Francisco reza no túmulo de São Francisco de Assis.

O Papa em Assis. A fraternidade no caminho da Igreja em saída

Pela primeira vez, um Papa deixa o Vaticano para assinar uma Encíclica. Trata-se de um gesto bastante simbólico, pois, neste sábado, 3 de outubro de 2020, Francisco dirige-se a cidade de Assis, centro de irradiação de uma espiritualidade que ultrapassa os limites do cristianismo católico, cujo nome escolheu quando foi escolhido para ser o Papa.

O Vaticannews colheu as expectativas para este documento com o bispo auxiliar de Milão dom Paolo Martinelli ofm, ex-reitor do Instituto Franciscano de Espiritualidade da Pontifícia Universidade Antonianum, e com o padre jesuíta Luigi Territo, estudioso de Teologia Fundamental e Teologia Islâmica na Faculdade de Teologia “Italia Meridionale”.

Confira:

A assinatura em Assis é sinal de uma Igreja que se pensa em movimento e em saída

Para destacar o significado deste gesto o dom Paolo Martinelli sublinha que foi o lugar onde Francisco deu origem a uma experiência de vida espiritual, cujo coração fundamental foi justamente o reconhecimento do ser irmãos uns dos outros. Já para o padre Luigi Territo o gesto de Francisco indica o valor de uma Igreja que encontra sua identidade ativamente na dinâmica “em saída”. Como o Papa gosta de repetir: “Ele parece dizer ao mundo que há uma prioridade mística e espiritual da experiência de fé sobre todas as formas institucionais de nossas crenças. Assis representa tudo isso, e não apenas para os cristãos, onde existe a memória histórica de um santo que viveu como os pequenos do Evangelho, totalmente confiado ao Pai e por isso reconhecido como um irmão de todos”.

Papa Francisco reza no túmulo de São Francisco de Assis.

O papa Francisco já vem concretizando um Magistério impregnado de fraternidade

Recordando as encíclicas do papa Francisco, lembra Paolo Martinelli:

Pode-se facilmente rastrear as sementes que de alguma forma prepararam o terreno para o tema da Fratelli tutti. Refiro-me ao texto da Evangelii gaudium, na qual em algumas passagens Francisco fala de uma mística de convivência, de união, de encontro, de tomar um ao outro pela mão, de se apoiar um ao outro e de levar uma relação de fraternidade a todas as pessoas. Vejo uma profunda ligação, pelo menos considerando o título, com esse texto fundamental e programático de seu pontificado“.

O Martinelli sublinha a ideia de estarmos unidos uns aos outros para o reconhecimento misterioso da presença de Deus em cada um de nós. Uma mística que sabe perceber Deus dentro das relações fraternas.

Mas também em Christus Vivit, a exortação dirigida aos jovens após o Sínodo, há a valorização do estilo de abertura a todos, da atenção ao ser humano concreto de cada pessoa, da sinceridade, da coragem, da confiança mútua: os fundamentos de um poderoso sentimento de fraternidade“.

E aqui a citação de Francisco de Assis é apropriada: “Quando ele escreveu seu testamento, ele escreve: ‘O Senhor me deu irmãos…”.

Uma Encíclica que lança definitivamente a Igreja na perspectiva de abertura e acolhida de todos como irmãos e irmãs

Padre Luigi Territo compartilha a referência ao texto da Evangelium Gaudium em que o Papa fala de uma Igreja que sabe dar o primeiro passo, que sabe tomar a iniciativa sem medo, vai em busca dos afastados, na encruzilhada dos caminhos:

Não é tanto a questão da fraternidade da reciprocidade, mas o conceito de uma Igreja que não espera, que se lança em direção a seus irmãos, que marca um caminho. Neste sentido, a Igreja para o Papa é precisamente o fermento da fraternidade. Vejo isso também na Amoris Laetitia, e na Laudato si’: há a ideia do acompanhamento de toda a humanidade, do amor conjugal, dos casais feridos, o acompanhamento dos excluídos, a preocupação com as feridas da Terra. Em resumo, a ideia da Igreja que cuida de toda a humanidade“.

Como a Encíclica Fratelli Tutti concebe a fraternidade?

Um sentimento, um valor, uma disposição mental, um mandamento, um estilo de vida, um presente? Para Luigi Territo:

Do ponto de vista cristão é acima de tudo uma responsabilidade no sentido forte do termo. Uma resposta decisiva e consciente a um modo de vida que Jesus nos mostrou. Um rosto de Deus que Jesus mostrou, fraterno, acolhedor, aberto, não moralista, e também, se quisermos, uma resposta ao chamado original na Gênesis: ‘O que você fez com seu irmão?’ Não é coincidência que o Documento de Abu Dhabi também comece com ‘Em nome de Deus…’. Não em nome da coexistência social, da paz, da solidariedade. Mas em nome de Deus. No sentido cristão, então, é uma resposta a um chamado de fraternidade“.

Dom Paolo Martinelli recorda uma das intuições fundamentais da Laudato si’, na qual se repete que tudo está em relação:

Do ponto de vista vital da estrutura do existente, tudo nos chama a acolhermo-nos uns aos outros. É emblemática a experiência de São Francisco de Assis, que vive uma profunda familiaridade com tudo e todos. No sentido cristão, há o reconhecimento de que o que Cristo vem revelar é o mistério do Pai que nos quer um a um, originais, únicos e irrepetíveis. Isto nos permite recomeçar sempre, em todos os relacionamentos”.

Distinção importante entre fraternidade e pseudo-comunitarismo

O caminho da fraternidade universal não é isento de dificuldades e riscos, pois o inimigo está sempre à espreita. Dom Martinelli adverte que :

Qualquer afirmação ideal que nos impele a uma tensão do bem não pode nos garantir a priori das dificuldades e também dos confrontos que possam acontecer. O interessante é cultivar este estilo e este reconhecimento do bem que o outro é como algo a mais de mim. Jamais poderia dizer, contigo tudo acabou e tenho que matá-lo. Disso nasce o perdão e a misericórdiaSe a fraternidade exclui, significa que já existe o germe da doença. É necessário, portanto, educar-se para reconhecer o bem do outro como uma riqueza inesgotável. Esta foi a experiência de São Francisco, que no início foi muito excludente [e cita a história do leproso, do qual ele fugia] até sentir-se realmente um irmão universal de todos“.

Luigi Territo também adverte:

Há também formas de fraternidade que excluem. Um exemplo são os fundamentalismos. Em vez disso, o sentimento íntimo de fraternidade é o de se tornar próximo. Há formas de incompreensão da fraternidade que são formas erradas de pensar o comunitarismo, formas de pseudo-fraternidade que selecionam e distinguem a humanidade em diferentes classes, que rejeitam, que excluem em nome de uma fraternidade nacional, étnica, religiosa“.

Os líderes religiosos e a expectativa da nova Encíclica

Às vezes as religiões são utilizadas de forma manipuladora. Esta Encíclica poderá marcar a vocação de construir uma coexistência pacífica, vocação própria de toda religião?

Nas palavras Luigi Territo:

Creio que o Papa esteja seguindo um caminho, há um contínuo processo de diálogo e construção de pontes, como ele gosta de dizer. No documento de Abu Dhabi, por exemplo, afirma que não há alternativa no mundo em que vivemos. Por isso acredito que ‘Fratelli tutti’ continuará este processo que é feito, sim, de um magistério de escritos, mas também é feito de um magistério de gestos de fraternidade. Creio que os líderes religiosos estejam esperando por esta Encíclica com curiosidade, interesse e esperança, sabendo que o Papa propõe um caminho comum”.

Nas palavras de Paolo Martinelli:

Somos filhos de uma época em que a relação entre sociedade civil e religião tem sido problemática. Não é que para nos darmos bem com todos, temos que colocar nossa experiência religiosa entre parênteses. Isto não é possível, pois é justamente no reconhecimento da experiência religiosa e da estima mútua que podemos ser enriquecidos“.

(Adaptação e grifos: Edward Guimarães para o Observatório da Evangelização)

Acompanhe a missa e assinatura da Encíclica Fratelli Tutti:

Fonte:

www.vaticannews.va

1 Comentário

  1. Mais uma iniciativa pelo encontro, pela paz e pela solidariedade, da parte do incansável Papa Francisco.

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