“As declarações, praticamente todas, não passam de mentiras. Eu estou imensamente revoltado e indignado, quase chorei quando ouvi o discurso do Presidente da República culpando os indígenas e ribeirinhos pelo fogo que se alastra pelo Pantanal e pela Amazônia. É diabólica essa acusação, não podemos mais calar-nos. É uma mentira deslavada, descarada, sem vergonha, mais uma vez os índios são vítimas. Agora são responsabilizados pelas queimadas.“
Dom Erwin kräutler
O discurso do presidente Bolsonaro na 75ª Assembleia Geral da ONU tem provocado múltiplas críticas. Um dos que tem se posicionado contra é dom Erwin Kräutler, que diz estar “imensamente revoltado e indignado“, sobretudo com a acusação lançada contra os povos indígenas, responsabilizando-os pelas queimadas na Amazônia.
O bispo emérito do Xingú denuncia o anti indigenismo do presidente da República, afirmando estar “estarrecido de ouvir de um presidente da República esse tipo de acusação para os povos indígenas e os ribeirinhos“. Na opinião de quem já foi presidente do Conselho Indigenista Missionário – CIMI, em diferentes mandatos, o interesse do atual governo é que “os povos indígenas devem perder, renunciar a sua identidade“, perdendo assim os direitos que a Constituição Federal lhes confere.
Segundo dom Erwin, “não pode ser que eles [os indígenas] sejam considerados pessoas de segunda categoria“, conclamando a que “todas as dioceses do Brasil devem assumir essa causa, a partir também do Sínodo“, até o ponto de que “temos a obrigação, a missão de zelar, de lutar, para que os povos indígenas possam viver, e viver com dignidade“, insiste o Bispo. Isso deveria se concretizar em “que em todas as dioceses e prelazias tenha realmente um organismo que trata dos povos indígenas“, que ajude na “sensibilização, a conscientização, que eles são nossos irmãos e tem direito de viver“.
Confira na íntegra a entrevista concedida a Luis Miguel Modino:
1. Jair Bolsonaro realizou um discurso nesta semana, durante a 75ª Assembleia Geral da ONU, que tem provocado muitas críticas nos últimos dias. O que o senhor pensa sobre as declarações do Presidente do Brasil?
R.: As declarações, praticamente todas, não passam de mentiras. Eu estou imensamente revoltado e indignado, quase chorei quando ouvi o discurso do Presidente da República culpando os indígenas e ribeirinhos pelo fogo que se alastra pelo Pantanal e pela Amazônia. É diabólica essa acusação, não podemos mais calar-nos. É uma mentira deslavada, descarada, sem vergonha, mais uma vez os índios são vítimas. Agora são responsabilizados pelas queimadas.
Simplesmente, acusar os povos indígenas e os ribeirinhos, que ele chamou de caboclos, responsabilizá-los pelo fogo na Amazônia, é o maior absurdo que se pode imaginar. Depois de tantos focos que nós já temos na Amazônia atualmente, e que vai aumentar agora, no final do mês de setembro e outubro, é simplesmente inconcebível falar desse jeito. Entretanto, no Pantanal, a própria polícia está procurando os responsáveis, porque esse fogo não caiu do céu. Então, simplesmente dizer que os índios e os ribeirinhos sejam culpados, é um absurdo, isso brada ao céu, pelo amor de Deus.
A segunda coisa, os grãos que o Brasil está produzindo, tudo isso é verdade, mas ninguém diz que esses grãos, que são exportados, servem para ração para gado e porcos na Europa, enquanto no Brasil falta alimento, tem gente que está passando fome, isso é outro absurdo. Então, nesse sentido, eu simplesmente não aceito que da parte do Presidente da República, diante do mundo, se passem tantas mentiras.
Os grãos que o Brasil está produzindo, tudo isso é verdade, mas ninguém diz que esses grãos, que são exportados, servem para ração para gado e porcos na Europa, enquanto no Brasil falta alimento, tem gente que está passando fome, isso é outro absurdo.
2. O senhor conhece há décadas a realidade dos povos indígenas. Poderíamos dizer que a situação atual é a mais preocupante da história dos povos indígenas no Brasil?
R.: Comparar é meio difícil, porque são outras condições. O que eu digo, é que esse anti-indigenismo já começou na campanha do atual presidente. Já naquele tempo, quando estava em campanha, ele já disse que não ia demarcar um metro quadrado de terra para os povos indígenas. Essa guerra anti-indígena continua cada vez mais forte. Quando ele vetou a água para os povos indígenas, quando ele não permitiu que tivessem acesso aos mais elementares serviços médicos, nós ficamos estarrecidos diante de tudo isso.
Os povos originários são os primeiros habitantes desta terra, e tratá-los desse jeito é triste. Eu não tenho mais palavras para dizer, e eu, no fundo do coração, estou estarrecido de ouvir de um Presidente da República esse tipo de acusação para os povos indígenas e os ribeirinhos. Também os quilombolas e essas minorias que são tratados desse jeito.
Eu não tenho mais palavras para dizer, e eu, no fundo do coração, estou estarrecido de ouvir de um Presidente da República esse tipo de acusação para os povos indígenas e os ribeirinhos. Também os quilombolas e essas minorias que são tratados desse jeito.
3. No seu ponto de vista, quais os interesses por trás dessa postura do Presidente?
R.: Os interesses são que os povos indígenas devem perder, renunciar a sua identidade. Penso que no fundo é isso, porque cada indígena diz, pertenço ao povo indígena tal, e ele tem esse direito. Segundo a Constituição Federal, no artigo 232, no capítulo sobre os índios se afirma que eles têm direito às suas terras ancestrais. Na hora em que eles abdicam, renunciam a sua identidade, então são, desculpe a expressão, “brasileiros comuns”, e não tem direito às terras específicas para eles. Há um estatuto especial para os povos indígenas, a sua cultura, a sua língua. Então eles praticamente não pertencem mais a um povo diferenciado, não possuem uma cultura diferenciada. Então todas as áreas indígenas são abertas para a exploração, e o que o Bolsonaro quer é abrir toda a Amazônia para a exploração.
O índio é um obstáculo, empecilho, e tem que renunciar a sua identidade. A pior forma de pobreza que existe é não poder ser o que é. Se os índios têm que abdicar de sua identidade, é a forma de maior pobreza, é uma agressão à essência, ao coração de um povo. Isso, nós não podemos admitir, temos que lutar exatamente para que cada povo indígena tenha o direito de ser esse povo, com esse nome, com essa cultura, com essa terra ancestral, que habitaram há centenas de anos.
O que o Bolsonaro quer é abrir toda a Amazônia para a exploração. O índio é um obstáculo, empecilho, e tem que renunciar a sua identidade. A pior forma de pobreza que existe é não poder ser o que é. Se os índios têm que abdicar de sua identidade, é a forma de maior pobreza, é uma agressão à essência, ao coração de um povo. Isso, nós não podemos admitir…
4. Nesta semana, dom Cláudio Hummes, numa coletiva de imprensa organizada pela COICA, pedia uma postura mais firme da comunidade internacional na defesa da Amazônia e dos seus povos. O senhor pensa que essa postura da comunidade internacional é importante? Como deveria ser encaminhada essa postura mais firme?
R.: Os povos indígenas são povos irmãos de todos os povos da Terra, são povos brasileiros, mas, como tais, são irmãos de todos os povos. E a responsabilidade é do mundo inteiro, para que os aborígenes, autóctones, possam viver e viver com dignidade, e tenham o apoio do Estado, o apoio de todos os governos. Não se pode aceitar que eles sejam considerados pessoas de segunda categoria, como já aconteceu antigamente. A partir da Constituição Federal de 88, pode se dizer que aconteceu uma virada copernicana que garantiu aos povos indígenas o direito inerente a sua própria identidade.
5. Sobretudo com o Sínodo para a Amazônia, se insistiu muito que a Igreja deve ser uma aliada dos povos indígenas. Diante da situação que eles estão vivenciando no Brasil, quais os passos que a Igreja deveria dar, sobretudo através do CIMI, da REPAM, das diferentes pastorais sociais, nessa aliança com os povos indígenas?
R.: Essa aliança não deve ser simplesmente de organismos que são pastorais, como o CIMI ou a REPAM. Todas as dioceses do Brasil devem assumir essa causa, a partir também do Sínodo, que foi bem claro nesse sentido. Inclusive o Papa, quando convocou o Sínodo em 15 de outubro de 2017, ele queria o enfoque específico sobre os povos indígenas. E o que ele falou em Puerto Maldonado foi bem claro. O Papa está do lado dos povos indígenas, os povos indígenas foram bem representados no Sínodo, e então nós, como Igreja católica, apostólica, romana, temos a obrigação, a missão de zelar, de lutar, para que os povos indígenas possam viver, e viver com dignidade.
Porque o Evangelho que nós anunciamos é o Evangelho da vida, aos mortos não podemos anunciar o Evangelho. Então, a primeira coisa é a luta, nossa luta, nossa defesa da vida dos povos indígenas pelo Brasil afora, e pelo mundo afora. Tem aborígenes também em outros cantos do mundo, e tem muitos mais indígenas ainda em outros países vizinhos nossos, limítrofes do Brasil, e a nossa luta está também nessa perspectiva do Sínodo. Assumimos com garra e com muita ênfase a defesa dos povos indígenas para que possam viver, contra todas as investidas, contra toda essa onda anti-indigenista que se espalha e que é dirigida, orientada pelo próprio governo brasileiro.
Assumimos com garra e com muita ênfase a defesa dos povos indígenas para que possam viver, contra todas as investidas, contra toda essa onda anti-indigenista que se espalha e que é dirigida, orientada pelo próprio governo brasileiro.
6. Diante das propostas do Sínodo, nos próximos meses ou anos, como deveriam ser encaminhadas as ações em tudo aquilo que faz referência aos povos indígenas?
R.: A minha sugestão é que em todas as dioceses e prelazias tenha realmente um organismo que trata dos povos indígenas. Que não seja um apêndice, mas seja parte da própria ação pastoral e evangelizadora, no sentido amplo do serviço que nós prestamos aos povos indígenas. Não apenas o anúncio, que é importante, mas darmos também o testemunho, nos centrarmos na defesa da vida e enfrentarmos todos aqueles que são contra os povos indígenas. Não se pode esquecer do diálogo e do serviço. A evangelização, como ensina a CNBB, tem essas quatro dimensões: o anúncio, o testemunho, o diálogo e o serviço.
E nós temos que nos orientar exatamente por aquilo que a própria CNBB elencou nas diretrizes. Eu creio que em todas as dioceses e paróquias onde existem povos indígenas, e onde não existem também, precisamos da sensibilização, da conscientização, de que eles são nossos irmãos e têm o direito de viver. Mesmo quando não há índios em uma diocese, isso não significa que eu possa lavar as mãos e dizer que não tem nada a ver comigo. Pelo contrario, é um assunto da Igreja no Brasil, na América Latina.
A minha sugestão é que em todas as dioceses e prelazias tenha realmente um organismo que trata dos povos indígenas. Que não seja um apêndice, mas seja parte da própria ação pastoral e evangelizadora, no sentido amplo do serviço que nós prestamos aos povos indígenas.
Sobre o autor:
Confira, a seguir, a versão em espanhol da entrevista:
Erwin Kräutler: “Como Iglesia tenemos la misión de vigilar, de luchar, para que los indígenas puedan vivir, y vivir con dignidad”
El discurso del presidente Bolsonaro en la 75ª Asamblea General de la ONU ha provocado múltiples críticas. Uno de los que se ha pronunciado en contra es Monseñor Erwin Kräutler, quien dice estar “inmensamente enfadado e indignado”, especialmente con la acusación lanzada contra los pueblos indígenas, culpándolos de los incendios en la Amazonía.
El obispo emérito del Xingu denuncia el anti-indigenismo del presidente de la República, diciendo que está “asombrado de escuchar de un presidente de la República este tipo de acusaciones contra los pueblos indígenas y ribereños”. En opinión de quienes han sido presidente del Consejo Indigenista Misionero en diferentes mandatos, el interés del actual gobierno es que “los pueblos indígenas deben perder, renunciar a su identidad”, perdiendo así los derechos que la Constitución Federal les reconoce.
Según Monseñor Erwin, “no puede ser que ellos (los indígenas) sean considerados como gente de segunda clase”, haciendo un llamado a que “todas las diócesis de Brasil deben asumir esta causa, a partir del Sínodo”, hasta el punto de que “tenemos la obligación, la misión de vigilar, de luchar, para que los pueblos indígenas puedan vivir, y vivir con dignidad”, insiste el obispo. Esto debe concretarse en “que en todas las diócesis y prelaturas haya realmente un organismo que se ocupe de los pueblos indígenas”, que pueda ayudar a “crear conciencia, de que son nuestros hermanos y hermanas y tienen derecho a vivir”.
- Jair Bolsonaro realizó un discurso esta semana durante la 75ª Asamblea General de la ONU, que ha provocado muchas críticas en los últimos días. ¿Qué opina de las declaraciones del presidente de Brasil?
R.: Las declaraciones, prácticamente todas, son sólo mentiras. Estoy inmensamente enfadado e indignado, casi lloro cuando escuché el discurso del presidente de la República culpando a los pueblos indígenas y ribereños del fuego que se está extendiendo por el Pantanal y la Amazonía. Esta acusación es diabólica, no podemos seguir guardando silencio. Es una mentira despiadada, desvergonzada, una vez más los indios son víctimas, ahora se les hace responsables de los incendios.
Simplemente acusar a los pueblos indígenas y a los ribereños, a los caboclos como él los llama, culpándolos del incendio de la Amazonía, es el mayor absurdo imaginable. Después de tantos puntos calientes que tenemos en la Amazonía hoy en día, y que aumentarán ahora, a finales de septiembre y octubre, es simplemente inconcebible hablar así. Mientras tanto en el Pantanal, la propia policía busca a los responsables, porque este fuego no cayó del cielo. Así que decir simplemente que los indios y los ribereños son los culpables, es absurdo, eso clama al cielo, por el amor de Dios.
Lo segundo, los granos que está produciendo Brasil, todo esto es cierto, pero nadie dice que estos granos, que se exportan, se utilizan como alimento para ganado y cerdos en Europa, mientras que en Brasil hay falta de alimentos, hay gente que ya está muriendo de hambre, este es otro absurdo. Así que, en este sentido, simplemente no acepto que por parte del presidente de la República, ante el mundo, haya tantas mentiras.
- Usted conoce la realidad de los pueblos indígenas desde hace décadas. ¿Podríamos decir que la situación actual es la más preocupante de la historia de los pueblos indígenas del Brasil?
R.: Comparar es un poco difícil, porque son otras condiciones. Lo que digo es que este anti-indigenismo ya comenzó en la campaña del actual presidente. Ya en ese momento, cuando estaba en campaña, dijo que no iba a demarcar un metro cuadrado para los pueblos indígenas. Esta guerra anti-indígena se está volviendo cada vez más fuerte. Cuando vetó el agua para los pueblos indígenas, cuando no les permitió el acceso a los servicios médicos más elementales, quedamos alarmados con todo esto. Los pueblos originarios son los primeros habitantes de esta tierra, y tratarlos de esta manera es triste. No tengo más palabras que decir, y estoy, en mi corazón, asombrado de escuchar de un presidente de la República este tipo de acusación a los pueblos indígenas y los ribereños. También los quilombolas y estas minorías que son tratadas de esta manera.
- Desde su punto de vista, ¿qué intereses hay detrás de esta posición del presidente?
R.: Los intereses son que los pueblos indígenas pierdan, renuncien a su identidad. Creo que de eso se trata, porque si alguien dice, yo soy indígena, él tiene derecho. Según la Constitución, en el artículo 232, en el capítulo sobre los indios de la Constitución Federal, tienen derecho a sus tierras ancestrales. En el momento en que abdican, renuncian a su identidad, pasan a ser, disculpe la expresión, “brasileños comunes”, y no tienen derecho a tierras específicas para ellos. Hay un estatus especial para ellos, su cultura, su idioma. Así que ya no pertenecen a un pueblo diferenciado, a una cultura diferenciada. Entonces se abren todas las áreas indígenas para la explotación, y lo que Bolsonaro quiere es abrir toda la Amazonía a la explotación.
El indio es un obstáculo, un impedimento, y tiene que renunciar a su identidad. La peor forma de pobreza que existe es no ser lo que es. Si los indios tienen que renunciar a su identidad, es la forma de mayor pobreza, es una agresión a la esencia, al corazón de un pueblo. Esto, no podemos admitirlo, tenemos que luchar exactamente para que los indígenas tengan el derecho a ser este pueblo, con este nombre, con esta cultura, con esta tierra ancestral, que habitaron hace cientos de años.
- Esta semana, el cardenal Cláudio Hummes, en una conferencia de prensa organizada por la COICA, pidió una posición más firme de la comunidad internacional en la defensa de la Amazonía y su gente. ¿Cree que esta postura de la comunidad internacional es importante? ¿Cómo se debe llevar a cabo esta postura más firme?
R.: Los pueblos indígenas son hermanos y hermanas de todos los pueblos de la Tierra, son pueblos brasileños, pero como tales son hermanos y hermanas de todos los pueblos. Y la responsabilidad recae en el mundo entero, para que los aborígenes, los indígenas, puedan vivir y vivir con dignidad, y tengan el apoyo del Estado, el apoyo de todos los gobiernos. No puede ser que sean considerados como personas de segunda clase, como lo fueron alguna vez. Pero desde la Constitución de 1988, ha sido un cambio de rumbo copernicano y ha dado a los pueblos indígenas el derecho inherente a su propia identidad.
- Especialmente con el Sínodo para la Amazonía, se insistió mucho en que la Iglesia debe ser una aliada de los pueblos indígenas. Frente a la situación que viven los pueblos indígenas en Brasil, ¿qué pasos debe dar la Iglesia, especialmente a través del CIMI, la REPAM, las diferentes pastorales sociales, en esta alianza con los pueblos indígenas?
R.: Esta alianza no debe ser simplemente de organismos que son pastorales, como el CIMI o la REPAM. Todas las diócesis de Brasil deben asumir esta causa, a partir del Sínodo, que fue muy claro en este sentido. Incluso el Papa, cuando convocó el Sínodo el 15 de octubre de 2017, quiso que el enfoque específico se centrara en los pueblos indígenas. Y lo que dijo en Puerto Maldonado fue muy claro. El Papa está del lado de los pueblos indígenas, los pueblos indígenas estuvieron bien representados en el Sínodo, y por lo tanto nosotros, como Iglesia católica, apostólica y romana, tenemos la obligación, la misión de vigilar, de luchar, para que los pueblos indígenas puedan vivir, y vivir con dignidad.
Porque el Evangelio que proclamamos es el Evangelio de la vida, a los muertos no les podemos proclamar el Evangelio. Por lo tanto, lo primero es la lucha, nuestra lucha, nuestra defensa de la vida de los pueblos indígenas en todo Brasil, y en el mundo. Hay aborígenes también en otros rincones del mundo, y hay muchos más indígenas en otros países vecinos, fronterizos con Brasil, y nuestra lucha es también en esta perspectiva del Sínodo. Hemos asumido con determinación y con mucho énfasis la defensa de los pueblos indígenas para que puedan vivir, contra todos los embates, contra toda esta ola anti-indígena que se está extendiendo y que está dirigida, guiada por el propio gobierno brasileño.
- Frente a las propuestas del Sínodo, ¿cómo deben llevarse a cabo, en los próximos meses, en los próximos años, en todo lo que se refiere a los pueblos indígenas?
R.: Mi sugerencia es que en todas las diócesis y prelaturas debería haber un organismo que se ocupe de los pueblos indígenas. Que no sea un apéndice, sino parte de la propia acción pastoral y evangelizadora, en sentido amplio, del servicio que prestamos a los pueblos indígenas. No sólo el anuncio, el anuncio es importante, sino tener el testimonio y centrarnos y confrontarnos con todos aquellos que están en contra de los pueblos indígenas. Pero hay diálogo y servicio, la evangelización para mí, desde la CNBB (Conferencia Nacional de los Obispos de Brasil), tiene estas cuatro dimensiones: proclamación, testimonio, diálogo y servicio.
Y tenemos que guiarnos por lo que la propia CNBB, una vez en las directivas, ha enumerado. Creo que en todas las diócesis y parroquias donde hay pueblos indígenas, y donde no existen, necesitamos sensibilizarnos, tener conciencia de que son nuestros hermanos y hermanas y tienen derecho a vivir. No puedo decir que no hay indios en mi diócesis, eso no significa que pueda lavarme las manos y decir que no tiene nada que ver conmigo. Al contrario, es un asunto de la Iglesia en Brasil, en América Latina.