“A REPAM é fazer conectar aquilo que é comum de todos”. Entrevista com seu novo secretário executivo

Dentro do processo de discernimento vivenciado nos últimos meses, a Rede Eclesial Pan-Amazônica – REPAM, anunciou no dia 14 de setembro o nome de João Gutemberg Sampaio como novo secretário executivo. O irmão marista, nascido na Amazônia, assume a nova missão como um serviço, querendo somar ao trabalho desenvolvido nos últimos seis anos pela REPAM.

Segundo o religioso, a REPAM, que “continua aprofundando a sua identidade de rede”, tem como função animar processos, na tentativa de colocar em prática as proposições do Sínodo para a Amazônia. Ele entende sua nova função como algo que ajude a “aprofundar o relacionamento de tantos organismos e de tantas pessoas que tem procurado se conectar com essa agenda amazônica“.

De olho no futuro, o novo secretário da REPAM pede “que tenhamos um olhar esperançoso“, que ajude a superar um contexto que realmente não é tão animador do ponto de vista sociopolítico, que existe muita dificuldade de compreensão do valor das culturas e do valor dos ecosistemas para serem cuidados em favor da humanidade. Sem dúvida, uma nova etapa, mas sempre enfatizando “a importância da Igreja para com as comunidades primeiras do nosso continente“.

Confira, a seguir, a entrevista concedida a Luis Miguel Modino na íntegra:

Ir. João Gutemberg Sampaio, novo secretário executivo da REPAM.

1. Acaba de ser nomeado oficialmente novo secretário executivo da Rede Eclesial Pan-Amazônica. Como se sente diante desse serviço que a Igreja está lhe confiando?

R.: No primeiro momento, quando fui convidado, já há vários meses, que pediram que eu apresentasse minha disponibilidade, era um momento muito difícil, porque eu sempre pensei que essa função seria para outras pessoas. Eu nunca olhava para mim como possibilidade. Então, no primeiro momento foi um susto, devido à responsabilidade que a gente sabe que existe. Mas, eu diria que passei por um verdadeiro processo de conversão, de não olhar para os outros, que eles façam o trabalho, que é a missão, mas que eu também possa somar, porque foram outras pessoas, muito dedicadas com a temática amazônica, que me pediram essa disponibilidade.

Uma vez que eu rezei muito, dialoguei, fiz discernimento comigo e com outras pessoas, quando me disponibilizei, eu me senti em paz, porque é importante, quando assumir uma missão, não ser nada de uma euforia desnecessária, porque não é um troféu, é um serviço muito importante, mas também é importante estar por inteiro, sentir-se disponível e sobretudo confiante, confiante em que é Deus que pede, é uma vocação, qualquer serviço é uma vocação na Igreja, e também porque nós podemos contar com muitas pessoas, isso me tranquiliza.

2. A REPAM teve um papel fundamental durante o processo de escuta do Sínodo para a Amazônia, ela foi quem recolheu a maioria das vozes da Amazônia. Neste momento em que a Igreja está querendo trazer de volta para o território, mesmo com as dificuldades da pandemia, os resultados do Sínodo para a Amazônia, qual pensa que deveria ser o papel da REPAM nos próximos meses, nos próximos anos?

R.: A REPAM continua aprofundando a sua identidade de rede, e rede significa conexão, é lateralidade, é buscar mais participação de todos os setores da Igreja e também de setores afins, que não sejam necessariamente eclesiais, para o cuidado com a Amazônia. Então, a REPAM continua a sua função de animar esses processos, pois ela estava na idealização do Sínodo, na realização, e agora no pós-sínodo. Com uma diferença, no Sínodo e no pós-sínodo tem muita mais gente envolvida, que não são necessariamente identificados como REPAM. Então, estamos em um universo mais plural.

E o que seria uma atenção muito prática, que seria pegar todas as propostas do Sínodo, tudo aquilo que o Sínodo sugeriu, que são muitas, são mais de 150 propostas, se vamos alargar, quase 200 propostas, e identificar, que é algo que já está sendo feito, o que compete mais à REPAM, para que pouco a pouco, essas proposições vão sendo colocadas em prática, alimentadas pelo Papa Francisco, que pediu para que se levasse em consideração o Documento Sinodal por inteiro.

3. Na coletiva de imprensa onde o senhor foi apresentado como novo secretário, dizia que se vê como um instrumento de conexão. Nesse trabalho em rede, o que significa ser esse instrumento de conexão?

R.: Quando a gente fala em conexão, isso toca muito de perto a minha vocação. Qual é a minha vocação na Igreja? Eu sou um religioso irmão, e eu nunca tive ideia de irmão como título, como uma função. Eu sempre tive irmão como a fraternidade, de viver os laços laterais, de procurar a vivência com outros seres, que são meus irmãos de comunidade, a família, mas na Igreja. Eu sempre tive muita facilidade de ser amigo de todas as vocações na Igreja. Na REPAM, quando a gente fala rede, rede é muito circular, é muita lateralidade, é você chamar muitos iguais para estar juntos. Essa conexão é aprofundar o relacionamento de tantos organismos e de tantas pessoas que tem procurado se conectar com essa agenda amazônica.

Eu, pessoalmete, talvez não vá ser um expoente de desenvolver temas ou desenvolver iniciativas em diferentes áreas, mas é contar com o conjunto dos que podem colaborar para que cada área de conhecimento, de incidência, de espiritualidade, conecte com a REPAM para formar um conjunto harmonioso daquilo que necessitamos para o bom cuidado da nossa Amazônia.

4. O senhor nasceu em Cruzeiro do Sul, no Estado do Acre, na Amazônia, bem perto da fronteira entre o Brasil e o Peru, conhece a Igreja da Amazônia desde criança, trabalhou na Amazônia ao longo de muitos anos, como religioso marista. O que tem significado a REPAM para a Igreja da Amazônia e o que pode significar no futuro?

R.: Quando falamos da Amazônia, nós falamos de um bioma interligado, onde as realidades são interligadas. A estrutura eclesial e a estrutura política, seja dos estados, dos municípios, dos países, das prelazias, das dioceses, elas são determinadas geograficamente, e isso tem o seu valor, porque organiza as coisas. No entanto, a natureza nos ensina que não existe corte entre as realidades do ambiente. Creio que a REPAM é isso, não é anular as realidades que existem, de estado, da organização política ou religiosa, mas é fazer conectar aquilo que é comum de todos, e no enfoque amazônico, porque a Amazônia não pode ser vista como uma realidade igual a qualquer outra. Ela tem realidades que lhe são muito próprias e que são muitos importantes para as outras sociedades e também os outros biomas, os outros ecosistemas.

Eu vejo muito que é um tempo de globalização, onde a ideia perpassa muito mais o território geográfico. A REPAM vai se colocar cada mais como a semeadora de luzes de uma agenda do bem, para o cuidado do que são as comunidades amazônicas e também de outras realidades da Igreja, do planeta, que conectam com essas realidades, para poder fazer a incidência. Desde o local ao geral, desde o plural ao local, em diferentes etapas e níveis que são necessários, social, eclesial, formativo, incidência política, aquilo que é a missão do cristão no mundo.

5. Tudo isso que está falando nos leva a pensar em um novo termo que, na verdade já estava presente na realidade amazônica há várias décadas, que é o conceito de “amazonizar-se”, querendo levar os valores da Amazônia para todo o planeta. O que o planeta deveria aprender da Amazônia nesse caminho de amazonização?

R.: Exatamente aquilo que nos ensinam as comunidades tradicionais da Amazônia, que são as mais antigas, são as populações que vivem na nossa região muito antes da era colombiana. E até agora souberam cultivar a sua vida ligada com a Mãe Natureza, sem destruir, vivendo o bem viver. Então, como é que nós aprendemos desses povos, em um momento que o Planeta está em crise, nas questões sociais e ambientais, a reconectar, no espírito comunitário, da circularidade, da comunidade, e no espírito de integração com a natureza, com a integração com as raízes, com os ancestrais.

Como eu escuto muito da Patrícia Gualinga, nossa grande líder do Equador, temos que reaprender a fazer dialogar as realidades da terra com as realidades do céu. Essa experiência, os povos amazônicos trazem muito, até mesmo aqueles que não são nativos, originários da Amazônia, como os ribeirinhos, os seringueiros, que é uma experiência praticamente única no planeta, onde povos urbanos se tornaram nativos, porque vieram décadas atrás, e se tornaram habitantes da floresta. Como eles vivem esta realidade de conexão consigo, com os outros, com a natureza.

Hoje em dia não podemos prescindir da importância da vida urbana, aqui nós temos muito essa expressão sobre como as duas florestas dialogam, a selva de pedra e a selva floresta, esse intercambio urbano e nativo. Então, são vários elementos que podemos dizer que precisamos amazonizar. Mas só que precisamos contextualizar esse termo amazonizar, na verdade é um termo que não nasce de uma proposta da Amazônia, é uma reação ao proceso de internacionalização da Amazônia, mesmo globalização, vindo de lá para cá, para consumir. Então, em vez de nos deixarmos invadir de fora para dentro, vamos levar os valores de dentro para fora, que são mais positivos.

6. Fala sobre os povos amazônicos, os povos originários, os povos indígenas. Nos últimos anos, especialmente com o Sínodo para a Amazônia, a conexão entre a REPAM e as organizações indígenas, sobretudo a través da COICA, se tornou cada vez mais estreita. De cara ao futuro, como poderia continuar esse trabalho comum entre a REPAM, a Igreja católica, e as organizações e povos indígenas?

R.: Deve ser cada vez mais valorizado, tanto mais os povos indígenas vão sendo invadidos, denegridos, mais a Igreja precisa viver o papel de Bom Pastor, de Boa Pastora, que não cuida só das suas ovelhas, mas que cuida dos filhos de Deus. Mas eu me baseio muito mais na veracidade dessa necessidade, naquilo que pedem os povos indígenas. Eu tive a benção de participar de três grandes encontros das comunidades indígenas da bacia do Alto Solimões, do Tapajós, em Itaituba, como também no Equador, em Puyo, dos Vicariatos da Amazônia equatoriana. Em todos eles, eu vi as lideranças indígenas pedindo que a Igreja seja parceira com eles, que a Igreja católica seja porta voz. Porque eles têm muita invasão de sistemas políticos, comerciais, e também religiosos que desconfiguram a sua vida, sua espiritualidade, seu modus vivendi.      

Isso que vi nesses indígenas que eu mencionei, eu vi em todos aqueles que estiveram no Sínodo. Quando falavam as lideranças indígenas de outros países era a mesma tônica, queremos a Igreja como nossa aliada, como o Papa em Puerto Maldonado, que exemplo mais bonito e que falas fortes tiveram as lideranças indígenas. Faço memória do meu amigo Santiago, o peruano, que esteve comigo no encontro de Quito sobre ecologia integral e que hoje está sepultado, vítima da pandemia, e tantos outros, todos disseram, e a COICA também, em palavras do seu coordenador, que esteve no Sínodo, sempre a dizer a importância dessa voz de Francisco, a importância da Igreja para com as comunidades primeiras do nosso continente.

7. Um dos pedidos da Assembleia Sinodal, que aparece no Documento Final, é a criação de um organismo eclesial pan-amazônico, que se concretizou na Conferência Eclesial da Amazônia, um nome que partiu do Papa Francisco, segundo o cardeal Cláudio Hummes, presidente da nova conferência. Qual deveria ser o caminho comum entre a Conferência Eclesial da Amazônia – CEAMA e a Rede Eclesial Pan-Amazônica – REPAM?

Exatamente, um belo momento de se clarear e se intercambiar a identidade de ambas, porque a REPAM vai se configurando como rede, quem sabe a REPAM estava precisando de fazer vários intercâmbios de cunho institucional, enquanto a CEAMA, ela nasce como uma conferência, é algo mais institucionalizado, tem outros poderes. Então, a CEAMA e a REPAM, ambas são eclesiais e ambas são para a Amazônia, ambas são novidade, inclusive para toda a Igreja, porque ela ultrapassa a geografia territorial nacional, e se inspira no bioma e a sociedade desse bioma. A media que a REPAM vai conhecendo a CEAMA, porque nós não temos ainda conhecimento dos estatutos, a CEAMA está nascendo e isso é um grande passo, mas eu acho que é uma grande oportunidade da REPAM aprofundar na sua identidade de rede, uma vez que ela tem agora uma irmã que é mais institucional.

8. Finalmente, qual seria sua palavra como novo secretário da REPAM para a Igreja da Amazônia?

Que tenhamos um olhar esperançoso. Eu gosto de repetir a frase do nosso grande poeta amazonense, Thiago de Melo, faz escuro, mas eu canto. Se nós somos animados por uma espiritualidade, por um mística conectada com o Deus da Criação, que é o Deus da Vida, e que nós colocamos em prática o que pediu muito fortemente o Documento de Aparecida, que nomeia o Reino de Deus, como Reino da Vida, nós, perante o contexto, que realmente não é tão bom do ponto de vista sociopolítico, que existe muita dificuldade de compreensão do valor das culturas e do valor dos ecosistemas para serem cuidados em favor da humanidade, a REPAM, a Igreja, todo cidadão de bem, toda instituição que quer cuidar do bem viver, precisa cantar, ou então ser estrelas que vão piscando no meio da escuridão, mas uma conectando com a outra, para poder formar uma constelação bonita de esperança e de postura firme naquilo que é a vida.

Sobre o autor:

Luis Miguel Modino

Luis Miguel Modino – Padre diocesano de Madri, missionário fidei donum na Amazônia, residindo atualmente em Manaus – AM. Faz parte da Equipe de Comunicação da REPAM. Correspondente no Brasil de Religión Digital e colaborador do Observatório da Evangelização e em diferentes sites e revistas.

João Gutemberg Sampaio: “la REPAM es un conjunto armónico para el buen cuidado de nuestra Amazonía”

Dentro del proceso de discernimiento llevado a cabo en los últimos meses, la Red Eclesial Panamazónica – REPAM, anunciaba el 14 de septiembre el nombre de João Gutemberg Sampaio como nuevo secretario ejecutivo. El hermano marista, nacido en la Amazonía brasileña, asume la nueva misión como un servicio, queriendo sumarse al trabajo realizado en los últimos seis años por la REPAM.

Según el religioso, la REPAM, que “sigue profundizando en su identidad como red”, tiene la función de animar procesos para intentar poner en práctica las propuestas del Sínodo para la Amazonia. Él entiende su nueva función como algo que ayuda a “profundizar la relación de tantos organismos y personas que han buscado conectarse con esta agenda amazónica”.

De cara al futuro, el nuevo secretario de la REPAM pide “que tengamos una mirada esperanzada” que ayude a superar un contexto “que en realidad no es tan bueno desde el punto de vista sociopolítico, que hay mucha dificultad para comprender el valor de las culturas y el valor de los ecosistemas que hay que cuidar a favor de la humanidad”. Sin duda, una nueva etapa, pero siempre destacando “la importancia de la Iglesia para las primeras comunidades de nuestro continente”.

1. Acaba de ser nombrado oficialmente un nuevo secretario ejecutivo de la Red Eclesial Panamazónica. ¿Qué se siente ante este servicio que la Iglesia le está confiando?

Al principio, cuando me invitaron hace varios meses a presentar mi disponibilidad, fue un momento muy difícil, porque siempre pensé que esta función sería para otras personas, nunca me vi a mí mismo como una posibilidad. Así que, en el primer momento fue un susto, por la responsabilidad que sabemos que existe. Pero yo diría que pasé por un verdadero proceso de conversión, de no mirar a los demás, de que ellos hicieran el trabajo, que es la misión, pero que también puedo sumar, porque fueron otras personas, muy dedicadas al tema de la Amazonia, las que me pidieron esta disponibilidad.

Después de rezar mucho, dialogar, discernir conmigo mismo y con otras personas, cuando me puse a disposición, me sentí en paz, porque es importante, cuando se asume una misión, no hacerlo desde una euforia innecesaria, porque no es un trofeo, es un servicio muy importante, pero también es importante estar por completo, sentirse disponible y sobre todo confiado, seguro de que es Dios quien pide, que es una vocación, cualquier servicio es una vocación en la Iglesia, y también porque podemos contar con muchas personas, eso me tranquiliza.

2. La REPAM jugó un papel fundamental durante el proceso de escucha del Sínodo para la Amazonia, fue ella quien reunió la mayoría de las voces de la Amazonia. En este momento en que la Iglesia quiere devolver al territorio, incluso con las dificultades de la pandemia, los resultados del Sínodo para la Amazonia, ¿cuál cree que debe ser el papel de la REPAM en los próximos meses, en los próximos años?

La REPAM sigue profundizando su identidad como red, y red significa conexión, es lateralidad, significa buscar más participación de todos los sectores de la Iglesia y también de sectores afines, que no son necesariamente eclesiales, para el cuidado de la Amazonia. Así que la REPAM continúa su función de animar estos procesos, porque estuvo en la idealización del Sínodo, en la realización, y ahora en el post-sínodo. Con una diferencia, en el Sínodo y en el post-sínodo hay muchas más personas involucradas, que no necesariamente se identifican como REPAM. Así que estamos en un universo más plural.

Y lo que sería una atención muy práctica, que sería retomar todas las propuestas del Sínodo, todo lo que el Sínodo ha sugerido, que son muchas, son más de 150 propuestas, si vamos a ampliar, casi 200 propuestas, e identificar, que es algo que ya se está haciendo, lo que le compete a la REPAM para que poco a poco se vayan poniendo en práctica estas propuestas, alimentadas por el Papa Francisco, que pidió que se tomara en consideración todo el Documento Sinodal.

3. En la rueda de prensa en la que fue presentado como nuevo secretario, dijo que se ve a sí mismo como un instrumento de conexión. En este trabajo en red, ¿qué significaría ser este instrumento de conexión?

Cuando hablamos de conexión, eso juega muy de cerca con mi vocación. ¿Cuál es mi vocación en la Iglesia? Soy un hermano religioso, y nunca tuve la idea de ser hermano como un título, como una función. Siempre he tenido el ser hermano como fraternidad, como vivir los vínculos laterales, para buscar vivir con otros seres que son mis hermanos en la comunidad, en la familia, pero en la Iglesia. Siempre he tenido una gran facilidad para ser amigo de todas las vocaciones de la Iglesia. En REPAM, cuando hablamos de red, la red es circular, es lateralidad, llamar a muchos iguales para estar juntos. Esta conexión es para profundizar la relación de tantos organismos y tantas personas que han tratado de conectarse con esta agenda amazónica.

Yo, personalmente, puede que no sea un exponente en el desarrollo de temas o iniciativas en diferentes áreas, pero quiero contar con todos aquellos que puedan colaborar para que cada área de conocimiento, incidencia, espiritualidad, se conecte con la REPAM para formar un conjunto armónico de lo que necesitamos para el buen cuidado de nuestra Amazonía.

4. Nació en Cruzeiro do Sul, en el estado de Acre, en la Amazonia, muy cerca de la frontera entre Brasil y Perú, conoce la Iglesia de la Amazonia desde su infancia, ha trabajado en la Amazonia durante muchos años como religioso marista. ¿Qué ha significado la REPAM para la Iglesia de la Amazonia y qué puede significar en el futuro?

Cuando hablamos de la Amazonia, hablamos de un bioma interconectado, donde las realidades están interconectadas. La estructura eclesial y la estructura política, ya sea de estados, municipios, países, prelaturas o diócesis, están determinadas geográficamente, y eso tiene su valor porque organiza las cosas. Sin embargo, la naturaleza nos enseña que no hay un corte entre las realidades del medio ambiente. Creo que la REPAM es eso, no es anular las realidades que existen, de estado, de organización política o religiosa, sino conectar lo que es común a todos, y en el enfoque amazónico, porque la Amazonía no puede ser vista como una realidad como cualquier otra. Tiene realidades que son exclusivas de ella y que son muy importantes para otras sociedades y también para otros biomas, otros ecosistemas.

Veo mucho que es una época de globalización, donde la idea va mucho más allá del territorio geográfico. La REPAM se va a poner cada vez más como el sembrador de luces de una agenda del bien, al cuidado de lo que son las comunidades amazónicas y también de otras realidades de la Iglesia, del planeta, que se conectan con estas realidades, para poder hacer la incidencia. De lo local a lo general, del plural a lo local, en las diferentes etapas y niveles que sean necesarios, social, eclesial, formativo, de incidencia política, que es la misión del cristiano en el mundo.

5. Todo esto nos lleva a pensar en un nuevo término que, de hecho, ya estaba presente en la realidad amazónica hace varias décadas, que es el concepto de amazonizarse, queriendo llevar los valores de la Amazonia a todo el planeta. ¿Qué debería aprender el planeta de la Amazonía en este camino de amazonización?

Exactamente lo que nos enseñan las comunidades tradicionales de la Amazonía, que son las más antiguas, son las poblaciones que viven en nuestra región mucho antes de la era colombiana. Y hasta ahora han sido capaces de cultivar su vida unidas a la Madre Naturaleza, sin destruir, viviendo el buen vivir. Entonces, cómo aprendemos de estos pueblos, en un momento en el que el Planeta está en crisis, en cuestiones sociales y ambientales, a reconectar, en el espíritu de lo comunitario, de circularidad, de la comunidad, y en el espíritu de integración con la naturaleza, de integración con las raíces, con los ancestros.

Como escucho mucho de Patricia Gualinga, nuestra gran líder de Ecuador, tenemos que volver a aprender a hacer el diálogo entre las realidades de la tierra y las realidades del cielo. Esta experiencia, los pueblos amazónicos la traen mucho, incluso los que no son nativos, originarios de la Amazonía, como los pueblos ribereños, los caucheros, lo que es prácticamente una experiencia única en el planeta, donde los pueblos urbanos se convirtieron en nativos, porque llegaron hace décadas, y se convirtieron en habitantes de la selva. Cómo viven esta realidad de conexión con ellos mismos, con otros, con la naturaleza.

Hoy no podemos prescindir de la importancia de la vida urbana, aquí tenemos mucho de esta expresión sobre cómo los dos bosques dialogan, la selva de piedra y la selva forestal, este intercambio urbano y nativo. Así que hay varios elementos que podemos decir que necesitamos amazonizar. Pero hay que contextualizar este término amazonizar, de hecho es un término que no nace de una propuesta de la Amazonia, es una reacción al proceso de internacionalización de la Amazonia, incluso de la globalización, viniendo de allá para acá, para consumir. Así que, en lugar de dejarnos invadir de fuera a dentro, llevemos los valores de dentro a fuera, que son más positivos.

6. Habla de los pueblos amazónicos, los pueblos originarios, los pueblos indígenas. En los últimos años, especialmente con el Sínodo para la Amazonía, la conexión entre la REPAM y las organizaciones indígenas, especialmente a través de la COICA, se ha hecho cada vez más estrecha. ¿Cómo podría continuar en el futuro este trabajo común entre la REPAM, la Iglesia Católica, y las organizaciones y pueblos indígenas?

Deben ser cada vez más valoradon, cuanto más se invade y se denigra a los indígenas, más necesita la Iglesia vivir el papel de Buen Pastor, de Buena Pastora, que no sólo cuida de sus ovejas, sino que cuida de los hijos de Dios. Pero me baso mucho más en la veracidad de esta necesidad, en lo que piden los pueblos indígenas. Tuve la bendición de participar en tres grandes encuentros de las comunidades indígenas de la cuenca del Alto Solimões, del Tapajós, en Itaituba, así como en Ecuador, en Puyo, de los Vicariatos de la Amazonia ecuatoriana. En todos ellos, vi a los líderes indígenas pidiendo que la Iglesia se asocie con ellos, que la Iglesia Católica sea una portavoz. Porque tienen mucha invasión de sistemas políticos, comerciales y también religiosos que desfiguran su vida, su espiritualidad, su modus vivendi.      

Lo que vi en estos pueblos indígenas que mencioné, lo vi en todos los que estaban en el Sínodo. Cuando los líderes indígenas de otros países hablaron, fue en el mismo tono, queremos a la Iglesia como nuestra aliada, como el Papa en Puerto Maldonado, qué hermoso y fuerte ejemplo tuvieron los líderes indígenas. Recuerdo a mi amigo Santiago, el peruano, que estuvo conmigo en la reunión de Quito sobre ecología integral y que hoy está enterrado, víctima de la pandemia, y tantos otros, decían todos, y la COICA también, en palabras de su coordinador, que estuvo en el Sínodo, hablando siempre sobre la importancia de esta voz de Francisco, la importancia de la Iglesia para las primeras comunidades de nuestro continente.

7. Una de las peticiones de la Asamblea del Sínodo, que aparece en el Documento Final, es la creación de un organismo eclesial panamazónico, que se concretó en la Conferencia Eclesial de la Amazonia, nombre que le fue dado por el Papa Francisco, según el Cardenal Cláudio Hummes, presidente de la nueva conferencia. ¿Cuál debería ser el camino común entre la Conferencia Eclesial de la Amazonía – CEAMA y la Red Eclesial Panamazónica – REPAM?

Exactamente, un bello momento para aclarar e intercambiar la identidad de ambas, porque la REPAM se está configurando como una red, quién sabe si la REPAM necesitaba hacer varios intercambios de carácter institucional, mientras que la CEAMA, nació como una conferencia, es algo más institucionalizado, tiene otros poderes. Así, CEAMA y REPAM, ambas son eclesiales y ambas son para la Amazonía, ambas son nuevas, incluso para toda la Iglesia, porque va más allá de la geografía territorial nacional, y se inspira en el bioma y la sociedad de este bioma. A medida que la REPAM va conociendo la CEAMA, porque todavía no conocemos los estatutos, la CEAMA está naciendo y esto es un gran paso, pero creo que es una gran oportunidad para que la REPAM profundice en su identidad de red, ya que ahora tiene una hermana que es más institucional.

8. Por último, ¿cuál sería su mensaje como nuevo secretario de REPAM para la Iglesia de la Amazonía?

Que tengamos una mirada esperanzada. Me gusta repetir la frase de nuestro gran poeta amazónico, Thiago de Melo, está oscuro, pero yo canto. Si estamos animados por una espiritualidad, por una mística conectada con el Dios de la Creación, que es el Dios de la Vida, y que ponemos en práctica lo que el Documento de Aparecida, que nombra el Reino de Dios, como el Reino de la Vida, pedía con mucha fuerza, nosotros, ante el contexto, que en realidad no es tan bueno desde el punto de vista sociopolítico, que hay mucha dificultad para entender el valor de las culturas y el valor de los ecosistemas que hay que cuidar a favor de la humanidad, la REPAM, la Iglesia, todo buen ciudadano, toda institución que quiera cuidar del buen vivir, necesita cantar, o bien ser estrellas que parpadean en medio de la oscuridad, pero que se conectan entre sí, para formar una bella constelación de esperanza y una postura firme sobre lo que es la vida.