A Conferência Eclesial da Amazônia, uma voz profética contra os projetos de morte. Entrevista com a Ir. Laura Vicuña Pereira

“A Conferência Eclesial da Amazônia, ela vem ser uma voz profética contra todos os projetos de morte”. Entrevista com a Ir. Laura Vicuña Pereira

Mulher, indígena e religiosa, são três elementos que definem Laura Vicuña Pereira, esta catequista franciscana que faz parte da Conferência Eclesial da Amazônia, enquanto representante dos povos indígenas. Ela vê a nova conferência como algo “que une, que articula as Igrejas na Amazônia“, um avanço no caminho da sinodalidade, “que a gente realmente possa caminhar juntos, e formar esse rosto da Igreja na Amazônia“.

Na Amazônia, a Igreja tem rosto laical, o que faz com que “a Conferência, com esse objetivo de sinodalidade, pode potencializar essas experiências que já existem na Amazônia“. Junto com isso, é importante destacar o papel que a nova Conferência pode ter em relação aos povos indígenas, vítimas do descaso das políticas pública, algo que se agravou ainda mais com a pandemia, chegando a denunciar a “omissão dos estados nacionais em relação aos povos originários“, que tem se organizado frente as ameaças externas que eles vem sofrendo.

A religiosa destaca a importância da resistência dos povos originários, dando um papel fundamental ao território. Diante disso, “a Conferência Eclesial da Amazônia, ela vem interligar essas diversas experiencias ancestrais, mas também vem ser uma voz profética contra todos esses projetos de morte que pesam sobre a Amazônia“, segundo a irmã Laura, que vê no papa Francisco aquele que “cumpre aquilo que foi pedido para ele lá em Puerto Maldonado, que a Igreja faça ouvir a nossa voz, que a Igreja defenda a nossa vida“.

Confira a entrevista da Ir. Laura Vicuña Pereira concedida ao pe. Luis Miguel Modino:

Ir. Laura Vicuña Pereira

1. A Conferência Eclesial da Amazônia se apresenta como uma grande novidade para a vida da Igreja. Não é mais uma conferência episcopal e sim uma conferência eclesial, onde além de bispos, cardeais, também tem a presença da vida religiosa, dos leigos e sobretudo de representantes dos povos originários. O que isso significa para a senhora?

Isso é a continuidade do kairos que a gente vivenciou na preparação e durante o Sínodo da Amazônia. No Documento Final e na Querida Amazônia, que é a exortação apostólica do papa Francisco, já sinalizava um organismo que desse carne a todas as propostas, as mais de 150 propostas que temos no Documento Final.

Eu pessoalmente, o vejo com grande alegria, porque o que nós temos aqui é uma Conferência Eclesial da Amazônia, uma conferência que congrega, que une, que articula as Igrejas na Amazônia para cada qual não ficar tomando decisões isolado com relação aos encaminhamentos do Sínodo, mas a gente ter, como insistiu o próprio papa Francisco desde o início do seu papado, a questão da sinodalidade, que a gente possa realmente caminhar juntos, e formar esse rosto da Igreja na Amazônia.

2. Nesse campo da sinodalidade, em que pode mudar a Igreja da Amazônia e a Igreja universal com essa nova experiência que está sendo iniciada agora com a Conferência Eclesial da Amazônia?

Na Amazônia, sobretudo na Amazônia brasileira, eu conheci um pouquinho a Amazônia peruana, quando durante cinco anos eu vivi lá, como missionária no Vicariato de Puerto Maldonado, existe uma expressão de Igreja que é totalmente laical. Esse rosto da Igreja em que os leigos assumem as comunidades para que a fé, a Igreja, ela não morra nesses espaços. No Brasil, a gente teve toda essa experiência das comunidades eclesiais de base – CEBs, que é justamente um exemplo da vivência da sinodalidade, desse caminhar juntos como Igreja, desse construir processos locais a partir da realidade.

A Conferência, com esse objetivo de sinodalidade, pode potencializar essas experiências que já existem na Amazônia, tanto peruana, quanto brasileira, como nos demais países. Como a gente vem de uma tradição, aqui na Amazônia, que não tem o padre, a religiosa, há pessoas leigas, líderes, que levam adiante toda a ação evangelizadora da Igreja. Potencializar isso que já existe e, claro, ampliar dentro de um chamado a ser Igreja samaritana, em saída, serva, mas, sobretudo, uma Igreja Madalena, que anuncia o Ressuscitado, que é capaz de nas situações de morte ter uma ação profética para que a vida possa existir.

Eu vejo assim, essa tal de sinodalidade, vamos potencializar essas experiências, e ampliar mais, articular mais, essas ações entre as Igrejas na Amazônia. A gente não tem uma luz para colocar em baixo da mesa, uma luz, quando ela começa irradiar, ela começa iluminar várias outras realidades. E quem sabe, a  Amazônia não será essa luz para as Igrejas do mundo todo. A periferia fala ao centro, a periferia expressa uma possibilidade de bem viver a partir da proposta dos povos originários e amazônicos.

3. A senhora é indígena do povo kariri e trabalha com os povos originários. Como os povos originários estão vivendo este momento pós-sinodal e como eles estão enfrentando esta pandemia que estamos sofrendo nos últimos meses?

Com a pandemia, a situação na Amazônia como um todo, ela se agravou mais e evidenciou para o Brasil e para o mundo a situação de descaso das políticas públicas que já existia neste território, e também é algo que está trazendo a tona toda a devastação que está acontecendo na Amazônia. Mais ainda, percebemos que para a gente não basta coibir a ação do crime organizado nesta região. O crime organizado está sendo legitimado, cada vez mais, pela postura, pelo discurso e própria ação do governo brasileiro.

Essa omissão dos estados nacionais em relação aos povos originários agrava muito essa situação de pandemia. No passado, os povos originários já viveram grandes epidemias que não puderam nem enterrar seus mortos. Com essa pandemia, novamente essa situação volta às comunidades indígenas com muita força, e algumas comunidades não conseguem celebrar seus rituais fúnebres, seus próprios rituais que dão sentido e harmonia para a sociedade. No meu caso específico, de indígena do povo Kariri, meus pais tiveram que migrar, ainda na década de sessenta, do Nordeste para a Amazônia. Por causa dessa situação, o contato com a vida direta da aldeia, a gente vão teve. Mas isso, a gente foi se dedicando na vida religiosa e como missionária entre os diversos povos indígenas.

4. Como isso está atingindo a vida do dia-a-dia, especialmente no plano espiritual, aos povos originários?

Os povos indígenas, muitos deles se organizaram e estão fazendo o isolamento social dentro de seus próprios territórios, o que poderia ser uma situação muito cômoda, no sentido deles estarem dentro do seu próprio habitat, dentro do seu cotidiano. O que acontece é que os invasores, os grileiros, os madeireiros e os garimpeiros não fazem quarentena, e a gente vê que a ação dos invasores contra os territórios indígenas, vulnerabiliza mais ainda os povos, levando ao contagio do COVID-19.

Isso acarreta ameaças no cotidiano da comunidade com práticas de isolamento social. Acontece que às vezes numa grande maloca não tem como fazer o isolamento de uma pessoa, porque vive todo mundo junto. Práticas rituais como festa da menina moça, festa dos jovens, quando estão entrando na idade adulta, festas que ocorrem agora, por exemplo no povo karitiana, a festa da chicha, que dão a identidade para o povo e conseguem fazer com que o povo se torne unido, coeso, que exista uma harmonia dentro da comunidade, esses rituais, por conta das regras sanitárias, agora já não podem ser realizados nas comunidades.

O povo karitiana, eu vi também a reportagem do povo Xavante, não pode realizar seus rituais funerários, e isso causa um desequilíbrio para a comunidade, como no caso do povo Yanomami, aquela mãe que teve seu filho arrancado e não teve o corpo de seu filho de volta e ficou sem entender o que estava acontecendo.

Isso é uma violência contra os povos indígenas. A gente vê que essa situação da pandemia da COVID-19 afeta diretamente o cotidiano das comunidades.

Ir. Laura Vicuña Pereira

5. Quais as expectativas de futuro para os povos originários depois deste tempo de pandemia e como a Igreja católica na Amazônia, especialmente a través desta nova conferência eclesial, pode acompanhar a vida desses povos e continuar sendo essa resposta oportuna aos gritos dos pobres e da irmã mãe Terra?

Os povos indígenas, eles já superaram inúmeros traumas, inúmeras frentes colonizadoras, que interromperam seus projetos de vida, mas sempre continuaram na resistência. E essa resistência, ela está fundamentada nesse enraizamento com a terra. Por isso, o território, ele é tão importante na vida nossa, na vida dos povos originários, na vida dos povos amazônicos. O território é o que nos une, que nos conecta.

Os povos originários, a gente tem uma categoria milenar, uma categoria ancestral, que pode responder e pode contribuir nessa grande crise planetária que a gente vive. Porque os povos originários, eles têm uma vivência com a mãe Terra que ultrapassa qualquer projeto econômico. Se você conversa com o idoso, ele tem essa sabedoria.

A Igreja da Amazônia, assumiu no Sínodo, principalmente, ser aliada dos povos originários e amazônicos. Essa aliança é uma aliança de compromisso na defesa da vida, da terra e dos direitos. A Conferência Eclesial da Amazônia, ela vem interligar essas diversas experiências ancestrais, mas também vem ser uma voz profética contra todos esses projetos de morte que pesam sobre a Amazônia, sobretudo neste momento que a gente vive agora.

Iniciamos o verão amazônico, as queimadas já ultrapassam a média de outros anos, e a gente vive uma pandemia que ataca todo o sistema respiratório. A gente precisa gritar para o mundo todo, a gente precisa da ajuda de todo mundo para defender a Amazônia, para defender os povos que aqui vivem.

6. A senhora fala que precisa da ajuda do mundo. O papa Francisco tem se tornado uma referência mundial como um dos grandes defensores da Amazônia. Como os povos indígenas contemplam o papa Francisco?

Em nível mundial, a gente tem o papa Francisco como líder, no sentido genuíno da palavra, como aquele que traz uma voz de esperança, mas sem deixar de fazer a denúncia de todo esse modelo que produz a morte. Quando na festa do Espírito Santo, ele se referia à Amazônia, que precisava cuidar dos povos da Amazônia e que a vida está acima da economia, é uma grande voz em defesa dos povos que estão aqui.

Francisco cumpre aquilo que foi pedido para ele lá em Puerto Maldonado, que a Igreja possa fazer ouvir a nossa voz, que a Igreja defenda a nossa vida. E ele levou isso muito a sério, pela sua disponibilidade, pela sua trajetória de vida em defesa dos menos favorecidos, em defesa do pobre.

Sobre o autor:

Luiz Miguel Modino

Luis Miguel Modino – Padre diocesano de Madri, missionário fidei donum na Amazônia, residindo atualmente em Manaus – AM. Faz parte da Equipe de Comunicação da REPAM. Correspondente no Brasil de Religión Digital e colaborador do Observatório da Evangelização e em diferentes sites e revistas.

Laura Vicuña Pereira: “La Conferencia Eclesial de la Amazonía quiere ser una voz profética contra todos los proyectos de muerte”

Mujer, indígena, religiosa, son tres elementos que definen a Laura Vicuña Pereira, de la Congregación de las Catequista Franciscanas, que forma parte de la Conferencia Eclesial de la Amazonía, em representación de los pueblos indígenas. Ella ve la nueva conferencia como algo “que une, que articula a las Iglesias en la Amazonía”, un avance en el camino de la sinodalidad, “que realmente podamos caminar juntos y formar este rostro de la Iglesia en la Amazonía”.

En la Amazonía, la Iglesia tiene un rostro laical, lo que significa que “la Conferencia, con este objetivo de sinodalidad, puede mejorar estas experiencias que ya existen en la Amazonía”. Junto con esto, es importante destacar el papel que la nueva conferencia puede tener en relación con los pueblos indígenas, víctimas del abandono de las políticas públicas, algo que ha empeorado aún más con la pandemia, denunciando la “omisión de los estados nacionales en relación con los pueblos originarios”, que se han organizado frente a las amenazas externas que están sufriendo.

La religiosa enfatiza la importancia de la resistencia de los pueblos originarios, otorgando un papel fundamental al territorio. En vista de esto, “la Conferencia Eclesial de la Amazonía, interconecta estas diversas experiencias ancestrales, pero también se convierte en una voz profética contra todos estos proyectos de muerte que pesan sobre la Amazonía”, según la hermana Laura, quien ve al Papa Francisco como aquel que “cumple lo que se le pidió en Puerto Maldonado, que la Iglesia haga oír nuestra voz, que la Iglesia defienda nuestras vidas”.

La Conferencia eclesial de la Amazonía se presenta como una gran novedad para la vida de la Iglesia. Ya no es una conferencia episcopal, sino una conferencia eclesial, donde además de obispos, cardenales, también existe la presencia de la vida religiosa, de los laicos y, sobre todo, de los representantes de los pueblos originales. ¿Qué significa esto para usted?

Esta es la continuidad del kairos que experimentamos en la preparación y durante el Sínodo para la Amazonía. En el Documento Final y en Querida Amazonía, que es la exhortación apostólica del Papa Francisco, ya se señaló un organismo que daría cuerpo a todas las propuestas, las más de 150 propuestas que tenemos en el Documento Final. Personalmente, lo veo con gran alegría, porque lo que tenemos aquí es una Conferencia Eclesial de la Amazonía, una conferencia que reúne, une, articula las Iglesias en la Amazonía, para que cada uno no tome decisiones aisladas sobre las conclusiones del Sínodo, pero tenemos, como el mismo Papa Francisco insistió desde el comienzo de su papado, la cuestión de la sinodalidad, que realmente podemos caminar juntos y formar este rostro de la Iglesia en la Amazonía.

En este campo de sinodalidad, ¿cómo pueden cambiar la Iglesia de la Amazonía y la Iglesia universal con esta nueva experiencia que ahora está siendo iniciada con la Conferencia Eclesial de la Amazonía?

En la Amazonía, especialmente en la Amazonía brasileña, conocí un poco la Amazonía peruana, durante los cinco años viví allí, como misionera en el Vicariato de Puerto Maldonado, hay una expresión de Iglesia totalmente laica. Este rostro de la Iglesia en la que los laicos asumen las comunidades para que la fe, la Iglesia, no muera en estos espacios. En Brasil, tuvimos toda esta experiencia de comunidades eclesiales de base, que es precisamente un ejemplo de la experiencia de la sinodalidad, de caminar juntos como Iglesia, de construir procesos locales basados en la realidad.

La Conferencia, con este objetivo de sinodalidad, puede mejorar estas experiencias que ya existen en la Amazonía, tanto peruana como brasileña, como en otros países. Venimos de una tradición aquí en la Amazonía, en la que no tenemos al sacerdote, a la religiosa, pero tenemos gente, líderes, que llevan a cabo toda la acción evangelizadora de la Iglesia. Potencializar lo que ya existe y, por supuesto, ampliar su llamado a ser una Iglesia samaritana, en salida, servidora, pero sobre todo, una Iglesia Magdalena, que anuncia al Resucitado, que es capaz de actuar proféticamente en situaciones de muerte para que la vida puede existir.

Lo veo así, esta sinodalidad, potenciaremos estas experiencias y expandiremos más, articularemos más, estas acciones entre las Iglesias en la Amazonía. No encendemos una luz para ponerla debajo de la mesa, una luz, cuando comienza a irradiar, comienza a iluminar varias otras realidades. Y quién sabe, la Amazonía no será esa luz para las Iglesias de todo el mundo. La periferia hablando al centro, la periferia expresando la posibilidad de buen vivir desde la propuesta de los pueblos originarios y amazónicos.

Usted es indígena del pueblo Kariri y trabaja con los pueblos originários. ¿Cómo viven estos pueblos este momento post-sinodal y cómo enfrentan esta pandemia que estamos sufriendo en los últimos meses?

La situación en la Amazonía en su conjunto, con la pandemia, empeoró aún más e hizo que Brasil y el mundo tomaran conciencia de la negligencia de las políticas públicas que ya existía en este territorio, y también es algo que está mostrando toda la devastación que está sucediendo en la Amazonía. Pero aún no es suficiente para frenar la acción del crimen organizado en esta región. La delincuencia organizada esta siendo cada vez más legitimada por la postura, el discurso y la acción del gobierno brasileño.

Esta omisión de los estados nacionales en relación con los pueblos originarios agrava enormemente esta situación de pandemia. En el pasado, los pueblos originários ya habían vivido grandes epidemias que ni siquiera podían enterrar a sus muertos. Una vez más, con la pandemia, esta situación vuelve a las comunidades indígenas con gran fuerza, y algunas comunidades no pueden celebrar sus rituales funerarios, sus propios rituales que dan sentido y armonía a la sociedad. En mi caso específico, de los indígenas Kariri, mis padres tuvieron que emigrar, aún en los años sesenta, desde el nordeste de Brasil a la Amazonía. Debido a esta situación, el contacto con la vida directa de la aldea, no lo tuvimos. Pero eso, comencé a dedicarme como religiosa y como misionera entre los pueblos indígenas.

¿Cómo está afectando esto la vida cotidiana, especialmente a nivel espiritual, a los pueblos originarios?

Los pueblos indígenas, muchos de ellos se han organizado y están haciendo aislamiento social dentro de sus propios territorios, lo que podría ser una situación muy cómoda, en el sentido de que están dentro de su propio hábitat, dentro de su vida cotidiana. Lo que sucede es que los invasores, los acaparadores de tierras, los madereros y los mineros no se ponen en cuarentena, y vemos que la acción de los invasores contra los territorios indígenas hace que los pueblos sean aún más vulnerables, lo que lleva al contagio del COVID-19.

Esto causa en la vida diaria de la comunidad que las prácticas de aislamiento social, a veces en una gran maloca, no pueden aislar a una persona, porque todos viven juntos. Prácticas rituales como la fiesta de la niña moza, la fiesta de los jóvenes, cuando están entrando en la edad adulta, fiestas que ahora se llevan a cabo, por ejemplo en el pueblo de Karitiana, la fiesta de la chicha, que le dan a la gente su identidad y logran hacer que la gente se sientan unidos, cohesos, que haya armonía dentro de la comunidad, estos rituales, debido a las reglas de salud, ya no se pueden realizar en las comunidades.

El pueblo Karitiana, también lo vi en una reportaje sobre el pueblo Xavante, no puede realizar sus rituales funerarios, y esto causa un desequilibrio para la comunidad, como en el caso del pueblo yanomami, de una madre que le quitaron el cuerpo de su hijo muerto y no entendía lo que estaba sucediendo. Esto es violencia contra los pueblos indígenas. Vemos que esta situación de la pandemia de COVID-19 afecta directamente la vida cotidiana de las comunidades.

¿Cuáles son las expectativas de futuro para los pueblos originários después de este tiempo de pandemia y cómo la Iglesia Católica en la Amazonía, especialmente a través de esta nueva conferencia eclesial, puede acompañar la vida de estos pueblos y continuar siendo esta respuesta oportuna a los gritos de los pobres y de la hermana madre Tierra?

Los pueblos indígenas, ya han superado innumerables traumas, innumerables frentes de colonización, que interrumpieron sus proyectos de vida, pero siempre han continuado en la resistencia, y esta resistencia se basa en este enraizamiento con la tierra. Por esta razón, el territorio es tan importante en nuestra vida de pueblos originarios, de pueblos amazónicos, que nos une, que nos conecta. Los pueblos originários tenemos una categoría milenar, una categoría ancestral, que puede responder y puede contribuir a esta gran crisis planetaria que estamos experimentando.

Los pueblos originários tienen una experiencia con la Madre Tierra que supera cualquier proyecto económico. Si hablas con los ancianos, ellos tienen esta sabiduría, y la Iglesia de la Amazonía, en el Sínodo, asumió, principalmente, ser un aliado de los pueblos originários y amazónicos. Esta alianza es una alianza de compromiso en defensa de la vida, la tierra y los derechos. La Conferencia Eclesial de la Amazonía, interconecta estas diversas experiencias ancestrales, pero también se convierte en una voz profética contra todos estos proyectos de muerte que pesan en la Amazonía, especialmente en este momento que vivimos ahora. Comenzamos el verano amazónico, los incendios ya superan el promedio de otros años, y estamos experimentando una pandemia que ataca todo el sistema respiratorio. Necesitamos gritarle a todo el mundo, necesitamos la ayuda de todos para defender la Amazonía, para defender a los pueblos que viven aquí.

Usted dice que se necesita la ayuda del mundo. El Papa Francisco se ha convertido en una referencia mundial como uno de los grandes defensores de la Amazonía. ¿Cómo ven los pueblos indígenas al papa Francisco?

A nivel mundial tenemos al Papa Francisco como líder, en el sentido genuino de la palabra, como alguien que trae una voz de esperanza, pero sin dejar de denunciar todo el modelo que produce la muerte. Cuando en la fiesta de Espírito Santo, se refirió a la Amazonía, que se necesitaba cuidar a la gente de la Amazonía y que la vida está por encima de la economía, esa es una gran voz en defensa de los pueblos que están aquí. Él cumple lo que se le pidió en Puerto Maldonado, que la Iglesia haga oír nuestra voz, que la Iglesia defienda nuestras vidas. Y lo tomó muy en serio, por su disponibilidad, por su trayectoria de vida en defensa de los menos favorecidos, en defensa de los pobres.