Sábado, 25 de outubro de 2014, o Observatório da Evangelização se fez presente no X Encontro de Formadores de Leigos da Arquidiocese de Belo Horizonte. O tema do encontro foi “Cristãos leigos e leigas na Igreja e na Sociedade” e a reflexão se pautou a partir do texto da Coleção Estudos da CNBB, nº 107: “Cristãos leigos e leigas na Igreja e na Sociedade. Sal da terra e luz do mundo”.
Na busca de compreender a gênese desse grupo de reflexão, suas demandas, seus desafios, conhecer algo do percurso dessa equipe que contribui tão significativamente para a vitalidade evangelizadora de nossa Arquidiocese, foram feitas algumas questões a três de suas integrantes: Lucimara Trevisan, Áurea Marin e Irmã Elisabete Corazza, fsp, pessoas sugeridas pelo professor Carlos Frederico Barboza de Souza, coordenador do Anima – Puc Minas e também desse grupo de reflexão. Como as perguntas foram respondidas por e-mail, algumas vezes as respostas poderão ser reiterativas.
Observatório da Evangelização: O que deu origem ao Encontro de Formadores de Leigos da Arquidiocese de Belo Horizonte? Quando foi?
Lucimara Trevisan: Houve um Seminário sobre Formação de Leigos organizado pela Comissão Episcopal do Laicato da CNBB, de 15 a 16 de setembro de 2010, em Belo Horizonte. Áurea[1] e eu participamos. Fui representando o Centro Loyola e Áurea a Teologia Viva e o CEFAP[2], experiências com formação da Arquidiocese. O encontro reuniu experiências com formação de leigos dos regionais Sul 1 (São Paulo), Leste 1 (Rio) e Leste 2 (Minas e Espírito Santo). Áurea e eu verificamos que não tínhamos em BH uma organização dos grupos que trabalham com formação de leigos. Áurea comentou com Frei Luiz Antônio[3], na época o coordenador do Vicariato Pastoral, que achou boa a ideia de criar um grupo. O ANIMA (coordenado na época pelo Pe. Flávio[4]) assumiu a missão de reunir as experiências de formação de leigos na Arquidiocese. E, assim foi feito.
Áurea Marin: O Seminário para Formação de Leigos da CNBB, leste I e II, que aconteceu em 2010, em BH. Lucimara Trevisan e eu participamos do encontro e pensamos que seria interessante começar a articular quem trabalhava com formação de leigos na Arquidiocese.
Elisabete Corazza: A origem dos nossos “Encontros de Formadores de Leigas/os” se deu pela necessidade de compartilharmos nossas angustias, desafios, esperanças e novos horizontes em relação ao trabalho realizado junto aos leigos nesta grande Arquidiocese, junto ao povo de Deus. Posso dizer que foi das bases, pois, das conversas “nos corredores” e eventos, percebemos que também precisamos “formar os que formam”. Nosso objetivo não é interferir no trabalho de cada Instituição, mas partilhar o que temos em comum e no diferencial de cada uma. Por exemplo: O Serviço de Animação Bíblica – SAB/Paulinas, seu trabalho específico é com a Bíblia; o Centro Loyola é teológico/espiritual; já o CEFAP – teológico/pastoral. Quando foi? Acredito que o Fred tenha todos os relatórios aí…
Observatório da Evangelização: Parece-me que o encontro de sábado foi o décimo, não? Quais os passos dados nesse percurso?
Lucimara Trevisan: O grupo passou a se reunir três ou quatro vezes por ano, sendo a primeira vez ainda no final de 2010.
Participam com regularidade: Centro Loyola, CEFAP, Teologia Viva, SAB[5], CITEP[6] (da FAJE), Curso de Teologia dos Franciscanos (Colégio Santo Antonio, Calafate e Betim), Paróquia dos Passionistas (no Barreiro), NESP[7], Conselho de Leigos (Leste 2), Colegiado de Leigos da Arquidiocese.
No início o grupo era um pouco maior, mas alguns movimentos que então compareceram não perseveraram.
A equipe foi fazendo uma agenda própria, sobretudo depois que o Carlos Frederico, atual coordenador do ANIMA, assumiu a coordenação do grupo. Cada reunião é realizada em um local onde as experiências com formação de leigos acontecem. A pauta é definida em conjunto, mas uma equipe executiva prepara a reunião juntamente com o Fred.
Já refletimos sobre: a linguagem da formação; os níveis da formação de leigos; a formação de leigos na arquidiocese; o desafio da evasão na formação, dentre outros. Também foi organizado um primeiro seminário sobre formação de leigos.
Áurea Marin: Estamos tentando ainda ter um “rosto”, estabelecer uma caminhada. Vários encontros foram feitos para que conhecêssemos quem trabalhava na formação de leigos de forma sistemática, pois tudo pode ser confundido e entendido como formação e isso é um pouco problemático, pois acaba não ajudando na caminhada.
Elisabete Corazza: Os temas trabalhados nos encontros surgem a partir das partilhas. Depois, um grupo menor (Lucimara, Fred, Aurea e eu) nos encontramos para delinear os assuntos mais pertinentes. Dentro desta caminhada, além dos encontros, também realizamos um seminário.
Observatório da Evangelização: Quais têm sido os maiores desafios para vocês?
Lucimara Trevisan: O maior desafio é reunir todas as instituições que trabalham com formação de leigos. Nem sempre o ANIMA consegue que todos participem. Há paróquias e movimentos com formação mais sistemática, que não participam. Mas, conseguimos que haja uma boa frequência de um “núcleo” de pessoas, que realizam uma formação mais solidificada nas instituições que representam.
Outro desafio: Será preciso mapear as experiências com formação e ampliar a reflexão. É preciso ter alguns princípios comuns para a formação na diversidade de experiências que a Arquidiocese possui. Apesar de sermos uma Arquidiocese com boas e várias experiências de formação do laicato, ainda precisamos avançar. A formação teológica está mais concentrada na região central, as periferias não são atingidas.
Outra questão é a linguagem e conteúdo da formação, às vezes ainda muito seminarístico. O uso de novas tecnologias também nos desafia. Como atingir e envolver mais leigos na formação? Nem todos precisam de teologia, mas é preciso ampliar experiências de formação em níveis diferentes.
Áurea Marin: Interlocutores “fiéis”, pois algumas instituições de peso tem uma altíssima rotatividade no quadro de colaboradores e estamos sempre nos conhecendo do início.
Agenda, pois todos temos muitas outras atividades.
Elisabete Corazza: Dar o devido valor à formação das leigas/as nas comunidades/paróquias e que esses tenham espaço de atuação a partir da formação recebida. Ainda sentimos muita resistência por parte de alguns párocos em dar espaço ou proporcionar a formação (ajudar nos custos; pois é um investimento a favor da própria comunidade).
Outro desafio é articular as informações. Temos muitas iniciativas/instituições na nossa Arquidiocese e os cursos, palestras e outros eventos nem sempre chegam à base.
Desafia-nos, ainda a falta de valorização dada aos “Leigos que formam leigos/as”. A estrutura de nossa Igreja é muito clerical e, por isso, temos as consequências e desafios para superar este tipo de paradigma de Igreja.
Observatório da Evangelização: E qual contribuição tem dado à Arquidiocese?
Lucimara Trevisan: Criamos um diálogo entre as diversas instituições com formação de leigos, há partilha de experiências e análise do trabalho que fazemos. Acho que aos poucos foi se consolidando, sob a liderança do ANIMA, um grupo que reflete sobre a formação do laicato hoje. Esse é o maior ganho.
Áurea Marin: Acho que o fato de ter agrupado esse povo já é uma enorme contribuição para a Arquidiocese, pois no início não se sabia nem quem estava na área.
Elisabete Corazza: Acredito que a Arquidiocese só tem a ganhar, pois quanto maiores as oportunidades oferecidas, mais gente preparada, com uma fé mais sólida e consciente, e consequentemente mais transformadora na vida familiar, comunitária e social.
Precisamos, sim, de maior parceria com a Arquidiocese, de “fazer chegar as informações” ao povo, utilizando os próprios meios de comunicação que a Arquidiocese possui.
Observatório da Evangelização: Algo mais que queiram acrescentar?
Lucimara Trevisan: É inegável a importância do ANIMA para a articulação, convocação e acompanhamento desse grupo. As reuniões são sempre muito boas, um ótimo espaço de encontro, reflexão e análise do que fazemos com a formação de leigos na Arquidiocese.
Elisabete Corazza: Estamos a serviço do Reino de Deus, como falei acima, temos muitas iniciativas e cursos formativos que precisam ser conhecidos e é necessário fazer circular as informações. Na nossa Arquidiocese temos uma riqueza imensa em vista de outras realidades que se conhece no Brasil… Isso é DOM e COMPROMISSO. Temos que continuar, mais do que nunca, a apostar nas leigas/leigos e qualificá-los para o serviço. E os Encontros de Formadores são momentos avaliativos e lançam luzes para o trabalho que temos como missão.
O Observatório da Evangelização da Arquidiocese constata que é inegável a contribuição que esse Encontro de Formadores de Leigos/as nos traz. Nosso desejo é dar visibilidade a esse grupo de reflexão e irradiar as provocações implícitas nas respostas obtidas, sobretudo no que concerne à parceria e ajuda que várias instituições e pessoas oferecem às paróquias e que poderiam ser mais aproveitadas se houvesse maior abertura e corresponsabilidade eclesial.
Agradecemos a Irmã Elisabete, Áurea e Lucimara por sua disponibilidade, atenção e presteza em nos responder. É uma alegria verificar que o caminho se faz, árdua e ternamente, sempre.
Tânia Jordão
Observatório da Evangelização
[1] Áurea Marin, também entrevistada.
[2] Centro de Formação de Agentes de Pastoral da Arquidiocese de Belo Horizonte.
[3] Frei Luiz Antônio Pinheiro, OSA.
[4] Flávio Luís Rodrigues Souza.
[5] Serviço de Animação Bíblica, das Irmãs Paulinas.
[6] Curso de Iniciação Teológica e Pastoral, da Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia
[7] Núcleo de Estudos Sociopolíticos da Puc Minas