Luis Miguel Modino
Nesta sexta-feira, foi anunciado que na próxima quarta-feira, 12 de fevereiro, será apresentada “Querida Amazônia”, a Exortação Pós-Sinodal do Sínodo para a Amazônia. No momento, apenas o título é conhecido, mas podemos dizer que causa esperança. A linguagem, nossa maneira de nos expressar, implica sentimentos presentes em nossa vida, aquilo que habita no coração de cada um.
O Papa Francisco tem entre seus sentimentos, desde o início de seu pontificado, grande atenção à Amazônia e aos povos que a habitam, principalmente os indígenas. Em seu encontro com o episcopado brasileiro, realizado em 27 de julho de 2013, por ocasião da Jornada Mundial da Juventude no Rio de Janeiro, um dos pontos discutidos foi o que falou sobre “A Amazônia como teste decisivo, banco de prova para a Igreja e a sociedade brasileiras” Logo após quatro meses de assumir o ministério petrino, ele convidou os prelados a refletirem sobre um ponto “relevante para o caminho atual e futuro não só da Igreja no Brasil, mas também de toda a estrutura social: a Amazônia”.
Em suas palavras, ele refletiu sobre como tem sido a presença da Igreja na Amazônia, “não como aqueles que têm as malas na mão para partir depois de terem explorado tudo o que puderam”, algo que as grandes empresas sempre fizeram com o apoio dos governos. Uma Igreja que tem sido desde o começo e “continua presente e determinante no futuro daquela área”. Ao se dirigir aos presentes, lembrou-lhes o documento de Aparecida, do qual não podemos esquecer que o então cardeal Bergoglio foi seu relator, afirmando que “o forte apelo ao respeito e à salvaguarda de toda a criação que Deus confiou ao homem, não para que a explorasse rudemente, mas para que tornasse ela um jardim”. Ele também falou de “ter sacerdotes adaptados às condições locais e consolidar por assim dizer o «rosto amazônico» da Igreja”. Por isso, lhes pedia “para serem corajosos, para terem parresia!”
Todo o processo sinodal mostrou a coragem de uma Igreja, começando com o Papa Francisco, que se esforçou por avançar nos novos caminhos para a Igreja e para uma ecologia integral, tema do Sínodo para a Amazônia. Desde o início, em seu encontro com os povos originários em Puerto Maldonado, em janeiro de 2018, onde iniciou o processo sinodal, o Papa Francisco disse que estava lá para “se juntar a eles em seus desafios e com vocês reafirmar uma opção sincera para o defesa da vida, defesa da terra e defesa das culturas”. A Igreja da Amazônia assumiu o recado e insistiu em um processo que alcançou todos os cantos desta imensa região, ajudando o mundo a descobrir que “provavelmente os povos amazônicos originários nunca foram tão ameaçados em seus territórios como agora”, o que provoca que “a Amazônia é uma terra disputada de várias frentes”.
Não esqueçamos o que, desde o início, desde a convocação do Sínodo, desejava o Papa Francisco, “encontrar novos caminhos para a evangelização daquela porção do Povo de Deus, principalmente dos indígenas, muitas vezes esquecidos e sem a perspectiva de um futuro sereno”. Algo que ele reafirmou em Puerto Maldonado, ressaltando que “todos os esforços que fazemos para melhorar a vida dos povos amazônicos serão sempre poucos”. Ninguém pode duvidar que os povos foram ouvidos, que chegaram a Roma e levantaram a voz, pedindo por respeito.
Se olharmos para trás, descobriremos quanto progresso foi feito nesses mais de dois anos do processo sinodal. Querida Amazônia, é um novo impulso nessa caminhada sinodal, que levou a Amazônia e a vida de seus povos ao centro dos debates, da Igreja e da sociedade. Deixou de ser um lugar esquecido para se tornar algo querido. Os novos caminhos chegarão, aqueles caminhos pelos quais muitos lutaram durante tantos anos, também a irmã Dorothy Stang, cujo martírio completará 15 anos no dia em que a exortação for divulgada. Ela e tantos mártires intercederam por todo o processo, eles acompanharam as mesmas lutas que fizeram parte de suas vidas, e que motivaram sua entrega até a morte.
Mas não devemos esquecer que é um processo e que, sem discernimento, algo tão típico da espiritualidade jesuíta, que o Papa Francisco conhece e assume, não há sinodalidade. As reações opostas aparecerão, haverá quem pense que foi longe demais e que, ao contrário, verá o texto magisterial como algo que não contempla suas expectativas. Não nos deixemos levar pelos cronos e sim pelos kairos, e não esqueçamos as palavras de Gamaliel: “se o que eles fazem é humano, desaparecerá; mas se é de Deus, vocês não poderão destruí-lo”.
Sobre o autor:
Luis Miguel Modino é padre diocesano de Madri, missionário fidei donum na Igreja da Amazônia, residindo atualmente em Manaus – AM. Faz parte da Equipe de Comunicação de REPAM. Correspondente no Brasil de Religión Digital e colaborador do Observatório da Evangelização – PUC Minas e em diferentes sites e revistas.