Jovens economistas, empresários, doutorandos e pesquisadores de até 35 anos vão se reunir por três dias em Assis, cidade da região da Úmbria, na Itália, em março de 2020, para tratar de uma economia que inclui e não exclui. O evento intitulado “Economia de Francisco. Os jovens, um pacto, o futuro”, de 26 a 28 de março, já recebeu a adesão de de 500 mil inscritos. Segundo o VaticanNews, os pedidos chegaram de mais de 45 países entre os quais, Brasil, Angola, Portugal, Cuba, Japão, Arábia Saudita e Estados Unidos. O site do evento: www.francescoeconomy.org já alcançou 2 mil inscritos.
A economia e o desejo de Francisco
A iniciativa – de fazer um pacto com os jovens para uma economia diferente – foi lançada ainda em maio, com a publicação da carta de apelo do Papa Francisco dirigida ao grupo de jovens empreendedores do mundo. No texto, o Pontífice pede aos jovens para “juntos se conhecerem” e, depois, “fazerem um ‘pacto’ para mudar a economia atual e dar uma alma à economia de amanhã”. O Papa, inclusive, deverá participar durante um dia do evento em Assis e, provavelmente, na conclusão dos trabalhos, no dia 28 de março. Confirmando a sua participação, seria a quarta vez de Francisco em Assis. Ao evento em Assis, já confirmaram presença personalidades como Muhammad Yunus, economista bengalês e Prêmio Nobel da Paz de 2006; Amartya Sen, Prêmio Nobel da Economia de 1998; e Carlo Petrini, sociólogo e ativista italiano, fundador da Associação Slow Food.
Trabalhos que antecedem evento internacional
Em preparação ao encontro internacional em Assis, os jovens irão realizar workshops, laboratórios, seminários de estudos e conferências nas suas próprias realidades para fazer emergir o pensamento e o novo agir econômico. As iniciativas, em diferentes partes do mundo, podem ser comunicadas ao site oficial do evento para serem inseridas na programação, como já constam as ações na Itália, na Espanha e em Camarões. Todas as informações e novidades serão disponibilizadas no site e nos canais sociais oficiais do evento no Facebook, Instagram, Twitter, YouTube e Flickr. No site oficial, ainda é possível solicitar bolsa de estudos para favorecer jovens da África e Ásia; e fazer doações simples ou se tornar parceiro para facilitar a participação de jovens provenientes de áreas ou situações vulneráveis.
Preparação começa no Brasil
No Brasil, um seminário esperançoso, esclarecedor e inspirador foi realizado na noite dessa segunda-feira, 11 de novembro de 2019, no auditório do Museu da PUC Minas, em Belo Horizonte, sobre a Economia de Francisco. Dezenas de pessoas participaram, entre elas, alunos, religiosos e religiosas, leigos e leigas da Igreja, pastoralistas, professores, padres, seminaristas, funcionários, coordenadores de Institutos, chefes de departamentos da Universidade e demais interessados. Também marcou presença o vice-prefeito de Belo Horizonte, Paulo Lamac.
Pensando na perspectiva de uma economia para o bem comum, dom Joaquim Mol, bispo auxiliar da Arquidiocese de BH e presidente da Comissão Episcopal Pastoral para a Comunicação da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil participou de uma mesa redonda do seminário. Com ele também participaram da mesa os professores Armindo dos Santos de Sousa Teodósio e Vander Luiz Aguiar, ambos do Instituto de Ciências Econômicas da PUC Minas(ICEG).
O evento promovido pelo Sistema Avançado de Formação ANIMA PUC Minas, em parceria com o ICEG, apresentou uma possível reflexão: “Será que a economia nos dias atuais é integral?”, a partir desse questionamento dom Joaquim Mol deu início à Mesa Redonda acolhendo a todos que estavam presentes no auditório. Ele falou sobre o evento que acontecerá em março de 2020 em Assis, na Itália, a pedido do Papa Francisco.
O bispo mencionou os três jovens que vão representar a PUC Minas no evento na Itália, junto ao papa Francisco, levando a ideia de projetos para uma economia sustentável, social e solidária e que já se tornou realidade em Belo Horizonte e Região Metropolitana. Segundo dom Joaquim na Doutrina Social da Igreja a economia é pensada de maneira integral, com humanismo, lembrando sempre da instância da ética e da moral. “O que for contrário a isso se torna sinônimo de uma economia que mata”, afirmou.
Após a Mesa Redonda, foi aberto um espaço para os três alunos que vão para Assis, na Itália, representar a PUC Minas. Cada um deles falou brevemente sobre seu projeto. Na ocasião também participaram representantes da comunidade indígena Pataxós, situada próximo à cidade de Brumadinho, aldeia que foi fortemente prejudicada pelos rejeitos de minério da empresa Vale, com o rompimento da barragem do Córrego do Feijão no início deste ano.
Os chefes da aldeia fizeram breves depoimentos sobre o desmatamento da região onde moram, além de declararem a difícil inserção social quando há, em uma sociedade capitalista, forte preconceito aos indígenas, desvalorização de suas culturas e artesanatos, frutos de suas rendas.
Dia 18 e 19 de novembro acontece outro encontro importante
Mais de 300 pessoas de todo o País vão participar nos próximos dias 18 e 19 de novembro, em São Paulo, do Encontro Nacional para a Economia de Francisco. O objetivo é reunir intelectuais, estudantes e jovens, movimentos sociais e ativistas das várias experiências do Brasil em geração de renda e produção sustentável como alternativas à economia geradora de desigualdades e delapidadora da natureza. As atividades acontecem no Tucarena, Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP).
O evento é organizado pela Articulação Brasileira para a Economia de Francisco(Abef) que representa 35 entidades, com o Instituto Casa Comum (ICC) e a PUC-SP.
Na programação brasileira, serão realizados mesas, painéis e rodas de conversa, como espaços de reflexões, compartilhamentos e troca de experiências, além de sistematizar diretrizes a partir do acúmulo das iniciativas brasileiras para a proposta da Economia de Francisco.
A abertura, marcada para às 14h, receberá o sociólogo Michael Löwy, diretor de pesquisas do CNRS (Centre National de la Recherche Scientifique) da França, a sacerdotisa Mãe Eleonora, do terreiro Ilê Ase Omo Oya Bagan Odé Ibô e Coordenadora do Ponto de Cultura Caminhos, e Dennis de Oliveira, professor da Escola de Comunicações e Artes da USP e da Rede Quilombação.
Para os debates do 2º dia de evento (19/11), estão marcados painéis de boas práticas que apresentarão as experiências brasileiras de entidades como a Unicopas (União Nacional de Organizações Cooperativas Solidárias), Articulação Nacional de Agroecologia, Fórum Estadual de Orçamento Participativo, entre outras.
Já as seis rodas de conversa, que acontecem nos dois dias, os temas debatidos serão: Economia, Finanças, Desenvolvimento, Educação, Redes e Formas de Organização. A ideia é refletir sobre uma nova economia possível para o enfrentamento da atual conjuntura sócio-político-econômico.
Como resultado, a Articulação Brasileira deve preparar uma delegação para a atividade mundial do ano que vem, além de levar modelos alternativos e experiências de economia do país por meio da Carta Brasileira para a Economia de Francisco.
Entidades podem realizar encontros locais ou regionais com o tema
A Articulação Brasileira para a Economia de Francisco (Abef) recebe até 15 de janeiro de 2020 contribuições com propostas dentro dos três grandes eixos de discussão mundial, sugeridos pelo papa Francisco: bases de uma economia inclusiva, marcada pela ética, justiça social e humanismo; experiências concretas de uma nova economia; e mudanças dos currículos das faculdades de economia.
As propostas podem ser advindas de eventos locais ou regionais, com a mobilização de entidades que tenham modelos econômicos que superem às desigualdades atuais e tenham produções sustentáveis alternativas, de gestão e autogestão, e os apontamentos para crítica à economia política.
Os textos de referência, base das discussões brasileiras, estão no site da Articulação Brasileira.
Com informações do VaticanNews, da CNBB, do IHU e de Janaína Gonçalves da ANIMA PUC Minas