“Desde o primeiro dia, o Papa tem ensinado muito: A primeira lição é a presença. Vê-lo assentado, tranquilo, escutando todas as intervenções, depois presente nos intervalos, alimentando-se junto conosco, conversando com simplicidade, deixando-se fotografar, edifica a todos. Sua postura é de grande humildade, cujo olhar revela uma imensa autoridade, sem autoritarismo. Atenção a tudo e todos, zelo de pastor, preocupação pela Igreja, para que ela leve a Boa Nova a todos os recantos do mundo, especialmente na Amazônia“.
Encerra-se neste domingo a Assembleia especial do Sínodo dos Bispos para a Pan-Amazônia. Desde o primeiro domingo de outubro, Bispos dos vários países que compõem a Amazônia estão reunidos com o papa Francisco, acompanhados de assessores e pessoas convidadas, refletindo sobre os desafios da evangelização da região e em busca de caminhos para a contribuição da Igreja à ecologia integral. Trata-se de uma Assembleia de Pastores da Igreja, chamados pelo Senhor a conduzir o rebanho nos caminhos da história. Aos Bispos cabe, nestes últimos dias, votar um documento conclusivo, a ser entregue ao Santo Padre. As outras pessoas participantes ajudam muito com sua presença e suas ideias, mas aos sucessores dos Apóstolos reunidos em Roma está confiada a responsabilidade do texto final. “Ao mesmo tempo que ajuda o mundo e dele muito recebe, a Igreja tem em mira uma só coisa, a vinda do Reino de Deus e a Salvação de todo o gênero humano. Porquanto todo bem, que o povo de Deus em sua peregrinação terrestre pode prestar à humanidade, decorre do fato de ser a Igreja o sacramento da salvação universal, manifestando e realizando ao mesmo tempo o mistério do amor de Deus para com os homens” (Gaudium et Spes 40.45).
Como é do conhecimento de todos, o Sínodo não é um Parlamento nem tem funções deliberativas. O texto da Declaração final, que pode ou não ser publicado nos próximos dias, é entregue ao Papa, a quem cabe uma possível Exortação Apostólica, com as devidas orientações pastorais. Seria temerário antecipar o seu conteúdo antes da votação a ser realizada nos próximos dias.
Desde o primeiro dia, o Papa tem ensinado muito: A primeira lição é a presença. Vê-lo assentado, tranquilo, escutando todas as intervenções, depois presente nos intervalos, alimentando-se junto conosco, conversando com simplicidade, deixando-se fotografar, edifica a todos. Sua postura é de grande humildade, cujo olhar revela uma imensa autoridade, sem autoritarismo. Atenção a tudo e todos, zelo de pastor, preocupação pela Igreja, para que ela leve a Boa Nova a todos os recantos do mundo, especialmente na Amazônia.
Aprendemos a conviver com um mundo que nos pressiona muito, através dos grandes meios de comunicação e das redes sociais, com uma imensa diversidade de interpretações e julgamentos. Estamos expostos, dados como verdadeiro espetáculo. Há grupos e pessoas que têm criticado a Igreja, os bispos e o papa e, não estando dentro do ambiente sinodal, não sabem como convivemos e trabalhamos.
Internamente, temos respirado a fraternidade, clima de oração, capacidade de escuta, respeito profundo pelas opiniões dos outros, busca do consenso, amor a Jesus Cristo, à Igreja e à verdade. Entretanto, sabemos que na preparação e na realização do Sínodo, foram muito mais as pessoas e comunidades que nos acompanharam com sua oração e apoio, o que nos fez ter a certeza de que Deus está no comando. A certa altura, o papa Francisco insistiu com os participantes que sem o Espírito Santo não existe Sínodo! De fato, existiriam discussões e opiniões, mas não o “caminhar juntos”, significado da palavra Sínodo.
Como trabalhamos? No primeiro dia, a leitura dos relatórios iniciais, com os quais repercutimos um processo de escuta, realizado nos diversos países, com o qual muitas pessoas e grupos se manifestaram, com seu desejo de ajudar na caminhada da Igreja em nossos países. Em seguida, cada membro da Assembleia pôde manifestar seu parecer a respeito dos diversos assuntos. E ouvimos muita coisa a ser trabalhada com afinco. Durante o desenrolar dos trabalhos, várias vezes nos reunimos em grupos por línguas, quando pudemos estudar com atenção os grandes temas ligados à busca de novos caminhos para a evangelização na Amazônia e a nossa contribuição para uma ecologia integral. Tratamos das grandes questões sociais, como a violência, o narcotráfico, os grandes projetos que incidem sobre as populações da Amazônia e ainda questões pastorais, como a participação na Eucaristia, a catequese, a juventude e seu protagonismo eclesial, as vocações e o testemunho do Evangelho.
Tratamos de assuntos candentes, como os desafios socioambientais, vistos no ângulo que nos é próprio, a saber, as dimensões éticas e morais, sem qualquer parecer a respeito da responsabilidade territorial sobre a Amazônia, já que estamos todos convictos, junto com nossos países, da absoluta autonomia e independência de cada nação. Tratamos dos modos para ajudar nossa população, especialmente os indígenas e povos originários, no respeito à sua cultura e tradições, e não sejam considerados atrasados ou menos qualificados. Mais ainda, veio à tona a riqueza cultural secular de tantas populações tradicionais.
Aprendemos a escutar o clamor por maior presença da Igreja, o desejo da Eucaristia, coração de nossa vida cristã em toda a Amazônia. Era bonito ver que realmente, de todas as partes, vinha o clamor pela Eucaristia. Algumas pessoas e grupos, pelo mundo afora e em nossa Amazônia, insistiam em que nossos assuntos eram a ordenação de homens casados, provados pelo tempo e pela vida cristã, e um eventual ministério a ser confiado às mulheres. Se ouvimos muitos relatos de grande importância, o assunto da disciplina dos ministérios é agora confiado ao discernimento do Papa, que saberá definir os eventuais passos possíveis. Ficou sempre muito claro o respeito pelo celibato sacerdotal, que é a prática da Igreja Latina, ainda que existam homens casados e ordenados presbíteros católicos em outras áreas do mundo. Foi muito valorizado o ministério dos diáconos permanentes, o que já acontece em nossa Arquidiocese de Belém, que tem o maior número deles em toda a Amazônia.
Debruçamo-nos muito e com seriedade sobre a diversidade de culturas presentes na Amazônia e ainda um dos maiores desafios, a urbanização, pois a grande maioria de nossa população vive em grandes cidades, ou delas recebe influência significativa. E aprendemos muito dos exemplos de irmãos e irmãs, gente que pagou com a vida a evangelização da Amazônia. Renovamos nosso compromisso com a verdade, pela organização da Igreja e dos povos amazônicos e pela defesa dos direitos humanos com ardor missionário.
Veio à tona o desejo de um organismo eclesial representativo das circunscrições eclesiásticas da Amazônia, para reforçar o caminho sinodal proposto pelo Papa. E assim aprendemos a valorizar o que pertence aos outros países e áreas da Amazônia. E todos nos entendemos e soubemos escutar-nos mutuamente, admirando a diversidade existente entre nós. Foi uma lição de Igreja e de missão, abrindo-nos cada vez mais para a dimensão missionária. Nos próximos dias e meses, muitas riquezas de reflexão e vida serão ainda comunicadas a todos, a fim de que se sintam participantes daquilo que vivemos.
Deus seja louvado!
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