Nosso Círculo Menor Língua Portuguesa C apresentou 25 contribuições para a redação do Documento Final:
I – NA DIMENSÃO PASTORAL MISSIONÁRIA, destacamos a necessidade de conversão pessoal e pastoral, de recuperar a centralidade da Palavra e da Eucaristia, de aprofundar o tema da ministerialidade e as várias possibilidades em relação ao diaconato, viri probati, mulheres, padres casados, do protagonismo dos leigos, com destaque para as mulheres. Ressaltamos que é importante dar maior acento à dimensão bíblica, missionária, pastoral e humana na formação dos novos sacerdotes. Tudo isto, para uma Igreja “em saída”.
Para uma Igreja com rosto amazônico é preciso caminhar por vocações autóctones, consagração de virgens e viúvas a nível diocesano, busca constante de autonomia de recursos humanos e financeiros. Se faz urgente, ainda, trabalhar o ecumenismo e diálogo inter-religioso, olhar com mais atenção ao pentecostalismo, à iniciação à vida cristã. Urge aprofundar o olhar sobre os desafios do mundo urbano, com atenção às famílias, à juventude, às comunidades eclesiais de base e da opção preferencial pelos pobres, ouvindo o grito da terra e o grito dos povos.
Um olhar especial para a juventude, por quem é preciso fazer opção preferencial, investindo tempo, pessoas e recursos financeiros. A Igreja deve ser casa acolhedora, que o jovem se sinta em casa, cuidando dos jovens nas tribos, nas periferias das cidades, para que os jovens sejam protagonistas e tenham oportunidades e esperança de um presente e futuro melhores, longe das drogas, das prisões e do suicídio.
II – NA DIMENSÃO SOCIAL tomamos consciência que a amazônia está ameaçada e ferida e que a Igreja deve estar a serviço da vida, defendendo a vida em todas as suas formas, pois este Sínodo se desenvolveu ao redor da vida.
A violência se apresenta com vários nomes: pelo tráfico de crianças e mulheres, de órgãos e drogas, ameaças e criminalização de lideranças. A saúde que está doente, falta educação, saneamento, políticas públicas básicas e essenciais. Os direitos dos povos indígens e da mãe terra são negados.
Por isso, defendemos a vida, os territórios, a demarcação e proteção dos povos indígenas, livres ou isolados.
A voz profética da Igreja, inspirada na Doutrina Social da Igreja, deve ecoar, no fortalecimento das Comissões de Justiça e Paz, de Comissões de Proteção à Vida, das pastorais sociais e apoio aos movimentos sociais. Na amazônia, fazer opção pelos pobres é fazer opção pelos povos da floresta. Não deixemos a profecia morrer.
III – NA DIMENSÃO ESPIRITUAL, decisiva para continuar a missão, destacamos:
A importância da mística da caminhada, a devoção popular, aprender com os povos da floresta, o contato com a natureza, o jardim amazônico, onde Deus caminha, se faz presente, e a busca de um estilo de vida simples, a sobriedade feliz.
As romarias da terra e da floresta, os mártires da caminha, as festas dos padroeiros e a devoção mariana alimentam nossa mística.
A leitura orante da bíblia, com subsídios simples e em linguagem amazônia, que une fé e vida, que dá conhecimeno da Palavra e fortalece a espiritualidade,
A busca da conversão ecológica, por um novo estilo de vida simples, despojado, sóbrio, que cuida, atencioso, sem desperdicio, que evita o descarte de coisas e de pessoas, que é generoso e se inspira em Francisco de Assis, do irmão sol, irmã lua, irmã água e na vida monacal do “quanto menos tanto mais”, expresso na Laudato Si, 222, a ecoespiritualidade.
IV – NA DIMENSÃO CULTURAL na Amazônia traz a inculturação, diálogo intercultural. Igreja com rosto amazônico se configura com identidade plural. É preciso superar os preconceitos étnicos, descolonizar mentalidades. Ver a riqueza e os desafios da cultura urbana, que está em todos os lugares.
Apoiamos os esforços para que as redes de comunicação católica coloquem Amazônia no centro de sua atenção, com programas regulares de divulgação de boas notícias e de denúncia de todo tipo de agressão à mãe terra, anunciando a verdade.
Ao mesmo tempo acreditamos na força das redes sociais, praça onde todos se encontram, para partilhar e compartilhar experiências de agroecologia e de cuidado da Amazônia.
V – A DIMENSÃO ECOLÓGICA é um caminho de conversão. Aprendemos cientificamente que a Amazônia não é o pulmão do mundo. O pulmão do mundo são os oceanos. Mas a Amazônia é muito importante.
A Amazônia é um órgão vital do planeta para o equilíbrio ambiental, pois acumula 20% do gás carbônio da natureza, grande bio-diversidade e os rios amazônicos detêm 16% da água doce da planeta.
Afirmamos que é preciso cuidar da casa comum, fortalecer as tamáticas dos biomas e da biodeversidade, dos direitos da terra, da temática da água e de um desenvolvimento sustentável.
Vemos como decisivo formar as novas gerações na consciência socio-ambienteal, e a Igreja ser promotora dessas atitudes na catequese, nas pastorais, nas escolas, nas comunidades.
Ser uma Igreja ecológica, com ações práticas, como eliminar o uso de copos plásticos e outros descatáveis, promover a coleta seletiva de lixo, ser testemunhas visíveis e críveis de conversão ecológica.
Aqui dizemos não ao desmatamento, não aos grandes projetos agressivos que destroem a floresta, não às monoculturas e aos agrotóxicos.
Dizemos sim ao desenvolvimento sustentável, sim à conversão ecológica, sim à ecologia integral.
Ao final dos fecundos encontros nos círculos menores, destacamos como principais interlocutores no território amazônico, na busca de novos caminhos para evangelização e no cuidado da casa comum: os povos indígenas, os quilombolas, os ribeirinhos, os pescadores, os movimentos sociais, as mulheres e as juventudes.
Destacamos também a importância de envolver neste processo as Conferências Episcopais, as dioceses e prelazias, outras Igrejas, Governos e pessoas de boa vontade.
Querido Papa Francisco,
Os Rios da Amazônia transbordam, “tienen sus desbordes” e levam vida à floresta e aos povos da floresta.
Rezamos para que este Sínodo, este Rio Sinodal transborde, “tenga sus desbordes” em novos caminhos para a evangelização e por uma ecologia integral.
Que o Espírito nos guie, nos ajude, nos dê coragem, parresia e paz.
Muito obrigado.
Dom Vilsom Basso, SCJ
Bispo de Imperatriz – Maranhão – Brasil