O Sínodo dos Bispos para a Amazônia prosseguiu na tarde de terça-feira, 15/10/2019, com a 12° Congregação Geral. Os padres sinodais presentes na Sala com o Papa Francisco eram 173. A partir de amanhã, se realizará um novo ciclo de Círculos menores, cujos relatórios serão apresentados à assembleia na tarde de quinta-feira, 17 de outubro de 2019.
O mundo amazônico quer uma Igreja que seja sua aliada. Não se pode falar de pobres esquecendo o povo crucificado. Seria um pecado de indiferença ou de omissão. A Igreja é chamada a voltar a denunciar o grito do povo e da terra, partindo do Evangelho. Somente assim assumirá um rosto samaritano e missionário, em defesa dos últimos, sem ter medo da dimensão do martírio, porque “é melhor morrer pela vida do que viver pela morte”.
O Sínodo continua o seu caminho e, em alguns pronunciamentos, foi pedido um ímpeto que deixe espaço à superabundância do Espírito, sem se fechar em soluções funcionais.
Não à vitimização, mais corresponsabilidade
Em algumas regiões mais vulneráveis da Amazônia, o povo muitas vezes se define abandonado, como, por exemplo, os meninos de rua. A Igreja é chamada a ajudá-los, a reforçar a sua autoestima evitando que caiam na vitimização, um risco que não resolve os problemas. É inegável que a região é vítima de abusos e ataques, mas é preciso ajudar os povos a se sentirem corresponsáveis pela construção do seu destino. Os fiéis, portanto, devem exigir direitos e assumir deveres para viver com simplicidade e esperança em caminho rumo ao Reino prometido por Deus aos seus filhos.
A fundamental contribuição da ciência para a proteção da Criação
O pedido de ajuda por parte do povo e da terra interpela todos. Os fiéis são chamados a reconhecer o valor de todas as criaturas. A vocação cristã, com efeito, impulsiona a cuidar da Casa Comum. Deve-se agir individual, comunitária e globalmente. Não é possível se desinteressar do futuro das próximas gerações. Proteger a Amazônia da destruição provocada pelos seres humanos é uma responsabilidade de toda a humanidade.
Foi invocada uma resposta global também diante dos riscos que derivam das mudanças climáticas. Foi sugerida a criação de uma coordenação de cientistas e estudiosos de nível global que inclua também a contribuição da Pontifícia Academia das Ciências.
Além disso, foi auspiciado um maior trabalho no âmbito da educação a fim de sensibilizar para o cuidado da Casa Comum.
Também foi proposto um novo cânone – um cânone ecológico – dentro do Código de Direito Canônico relativo aos deveres dos cristãos em relação ao meio ambiente.
Tomar o largo rumo a uma profunda conversão ecológica
O apelo à Igreja é para tomar o largo, acolhendo o chamado a uma profunda conversão ecológica, sinodal e integral a Cristo e ao seu Evangelho.
O convite é para caminhar unidos como uma família universal, na convicção de que a Amazônia não pertence aos Estados ou aos governos. Estes são os administradores e deverão prestar contas de sua atuação. É através do dom de si mesmo no cotidiano, por parte de leigos, consagrados e casados, que se forma uma verdadeira Igreja amazônica “sacramento” da presença de Cristo nesta região.
Sente-se a exigência de uma espiritualidade e de uma teologia dos sacramentos capazes de se deixar interpelar por aquilo que as comunidades vivem e reconhecer os dons que estas receberam. A propósito, foi encorajado uma coordenação entre as igrejas locais, tomando como exemplo o trabalho desenvolvido pela Repam.
Foi evidenciada ainda a exigência de um diálogo intercultural inspirado pelo Espírito de Pentecostes. O convite é para sair de uma atitude de imposição ou de apropriação, abraçando uma “simetria de relações”. A humildade deve ser uma atitude de um diálogo fundado na convicção comum de ser corresponsáveis no cuidado da Casa Comum. Isto é, de que sozinhos é impossível, somente juntos. É urgente a construção de um “nós” inclusivo em que todas as pessoas, mesmo na diferença, são necessárias.
Foi proposta a criação de processos de formação para um diálogo intercultural, em que as contribuições teóricas sejam corroboradas pela prática e pela reflexões.
O drama das comunidades sem presbíteros
É importante olhar com realismo para o drama das muitas comunidades da Amazônia, cerca de 70%, visitadas por um presbítero somente um ou duas vezes por ano. Estas são privadas dos sacramentos, da Palavra, das celebrações centrais para o cristianismo, como a Páscoa, Pentecostes e Natal. Há quem decide aderir a outras confissões para não ficar na condição de ovelha sem pastor. A Igreja não pode permanecer indiferente. Evocam-se escolhas corajosas, abertas ao Senhor, para que mande operários para a messe. É a Deus que se deve pedir soluções.
Missionariedade em saída, nos passos de Jesus
Todavia, resulta que hoje a paixão pela missão nas regiões mais remotas parece menos entusiasmante. Em várias zonas, a depredação é terrível, com grandes projetos minerários não sustentáveis que provocam doenças, narcotráfico, perda de identidade e doenças muitas vezes incuráveis.
É preciso exortar a comunidade internacional a não investir em projetos industriais nocivos à saúde da região. A Amazônia precisa de missionários, os únicos sobre os quais os povos ainda depositam sua plena confiança. É preciosa a contribuição dada pelas equipes missionárias itinerantes inspiradas pelo estilo de Jesus, que levava a sua Palavra de vilarejo em vilarejo, sem parar, sem encontrar morada.
Pede-se à Igreja que seja “em saída”, passando de uma pastoral de manutenção a uma pastoral criativa: com efeito, existem estruturas já superadas, que necessitam de atualizações: sejam estas animadas por uma consciência ecológica. Tudo isso abre a novas formas ministeriais, em que o serviço de mulheres e jovens é fundamental. Não se pode ser “obsoletos” enquanto o mundo avança. O Evangelho, de fato, tem sempre algo de novo a dizer.
Migrantes nas cidades, retirados de seus territórios
A Igreja, de modo colegial e sinodal, é chamada a entrar no cotidiano do homem. Foi reproposto o tema dos migrantes, obrigados a abandonar suas comunidades de proveniência e estabelecidos nas cidades. Ali, local de contrastes políticos, econômicos, do vazio existencial e do individualismo exasperado, o indígena é um sobrevivente. Estar presente com o Evangelho é um dever. Portanto, a cidade é também local de missão e santificação.
A recomendação é promover uma pastoral específica que considere os indígenas protagonistas. Levando em consideração a importância dada à terra na Bíblia, é preciso reiterar a gravidade de desarraigar um povo do próprio território. A defesa dos territórios é a pedra miliar para o bioma da Amazônia e dos estilos de vida dos povos tradicionais. Neste sentido, foi recomendada uma “defesa intransigente” dos povos indígenas. O direito à sua cultura, à sua teologia e à sua religião é uma riqueza a ser preservada no interesse de toda a humanidade.
Por fim, foi evidenciado o problema da alimentação. A Amazônia, com as suas águas benéficas, poderia contribuir a reduzir a fome no mundo. 26% das águas do planeta, com efeito, provêm desta região. Eis então o convite a encorajar projetos sustentáveis.
Também durante a 12° Congregação Geral, na segunda parte dedicada aos pronunciamentos livres, o papa Francisco tomou a palavra. Aos padres sinodais foi exibido um vídeo sobre a iniciativa “Barco Hospital Papa Francisco”, inaugurada no mês de agosto e idealizada com a finalidade de levar o Evangelho e a assistência de saúde a centenas de milhares de habitantes no Estado do Pará, que vivem ao longo do Rio Amazonas e acessíveis somente por via fluvial.
Fonte:
“Eu estarei convosco todos os dias até a consumação dos séculos.”(Mateus 28, 20). Fortalecidos pela promessa de Jesus , pelos alimentos da palavra, dos sacramentos e da vida em comum sigamos confiantes na vitória!