“Não se trata somente de encontrar respostas à falta de vocações, mas de expressar uma Igreja que tenha uma identidade amazônica. Este sínodo, assim foi sugerido, deve colocar as bases para um passo novo, porque a fé no Espírito Santo deve ser mais forte do que o medo de errar.“
Com a 8° Congregação Geral de sábado à tarde, no dia 12 de outubro de 2019, se concluiu a primeira das três semanas do Sínodo especial para a Região Pan-amazônica. Estavam presentes na Sala o Papa Francisco e 166 padres sinodais.
Vatican News – Cidade do Vaticano
A centralidade de Cristo para a missão da Igreja na Amazônia: este foi um dos temas tratados nesta oitava Congregação Geral com a pergunta:
Quantas pessoas conhecem o Evangelho? De fato, deve ser central o anúncio da Boa Nova e não somente na Amazônia, mas em todo o mundo. Jamais se evangeliza sozinho. Por isso, foi auspiciada a criação de equipes adequadas para responder aos múltiplos desafios pastorais e capazes de testemunhar a alegria da evangelização.
Reflexão sobre o celibato e sacerdócio
A proposta dos viri probati foi retomada mais de uma vez. Em alguns pronunciamentos, foi evidenciado que a falta de vocações não é um problema somente amazônico. Portanto, por que fazer exceções exclusivamente para esta região? Sugeriu-se dedicar à questão um sínodo específico.
Foi observado que muitos cristãos contam que foram acolhidos pelas culturas indígenas justamente em razão de seu celibato. Além disso – assim foi dito –, o mundo atual vê no celibato religioso o último baluarte a ser abatido sob a pressão de uma cultura hedonista e laicista. Portanto, é preciso refletir atentamente sobre o valor do celibato. Há quem definiu inevitável e desejável para a Amazônia a reflexão sobre novos modelos de admissão ao sacerdócio.
Se, com efeito, deve ser encorajado o envio de sacerdotes de outras dioceses e regiões, deve ser promovida a proposta de ordenar homens sábios e de comprovada fé religiosa. Esta hipótese não fere a comunhão na Igreja nem desvaloriza o valor do celibato. Para alguns, esta representa um passo decisivo para a obtenção de um ministério ordenado não de visita, mas finalmente de presença.
Não se trata somente de encontrar respostas à falta de vocações, mas de expressar uma Igreja que tenha uma identidade amazônica. Este sínodo, assim foi sugerido, deve colocar as bases para um passo novo, porque a fé no Espírito Santo deve ser mais forte do que o medo de errar.
Mais mulher, contra toda forma de clericalismo
O tema da mulher na Igreja foi reproposto também na tarde de sábado com o pedido de maior responsabilidade pastoral e participação feminina efetiva, também no âmbito da decisão. Foi invocado um discernimento para a instrução do diaconato feminino na região.
A mulher hoje, com efeito, conquistou sempre mais espaço na vida da comunidade não só como catequista ou mãe, mas também como possível sujeito de novos ministérios. Além disso, a presença da mulher, no signo da reconciliação e da aliança, coloca as bases para uma Igreja menos clerical. Ainda hoje, o clericalismo na Igreja está presente e dificulta o serviço, a fraternidade e a solidariedade.
À escuta do Espírito Santo, conectados uns com os outros
Um Sínodo em constante escuta do Espírito Santo. Foi sugerido que esta atitude guie e inspire sempre a urgente conversão ecológica, necessária para combater a destruição ambiental que ameaça o planeta. A Criação, com efeito, foi confiada ao nosso cuidado e a Amazônia é o jardim mais belo e vital do planeta. Infelizmente, corre-se o risco de transformar este “paraíso na terra” num “inferno”, que, por causa dos incêndios, poderia nos privar do seu indispensável patrimônio.
Caminhar juntos quer dizer ouvir “a agonia da Mãe Terra” e se conscientizar da “violência do extrativismo etnocida”. O apelo lançado pelas organizações indígenas amazônicas é para inverter a rota e evitar cair num precipício. Todos estamos conectados uns com os outros. O “bem viver” não quer dizer luxo e bem-estar, mas estar ligado ao próximo, à terra. Deve ser rejeitada a fragmentação da existência humana e condenada a disparidade das condições sociais.
A globalização, não obstante tenha provocado inegáveis benefícios à vida das pessoas, abriu as portas para um capitalismo selvagem e para um materialismo que aumentou o consumismo extremamente nocivo. No mundo desenvolvido, se pretende pagar a baixo preço produtos que são realizados com o sangue das populações indígenas. Eis então o apelo a um estilo de vida simples, a uma conversão ecológica que abrace um comércio mais équo baseado na justiça e na paz.
A face indígena da vida religiosa
Pediu-se constante atenção ao sofrimento do povo indígena, cuja existência na Amazônia é soberana. Descobrir as sementes do verbo na cultura e na tradição da região quer dizer reconhecer que Cristo já vive no povo a ser evangelizado.
O Evangelho não é patrimônio exclusivo de uma cultura. Esta abordagem favorecerá a existência de uma Igreja indígena e amazônica. Foi solicitada a instituição de uma nova estrutura regional que se faça veículo das experiências positivas de rede amadurecidas na fase pré-sinodal e das novidades inspiradas pelo Espírito durante este Sínodo.
Também foi evidenciado o exemplo precioso oferecido pela vida consagrada que, na Amazônia, assume o rosto indígena. Religiosas e religiosos lutam juntos pelos direitos dos povos e sentem o chamado a aprofundar e conjugar sempre mais, através de uma formação contínua, a cultura indígena e a espiritualidade cristã, promovendo uma ecologia integral que tutele o homem e a natureza.
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