Preparação intensa para o Sínodo da Amazônia que se aproxima

O Sínodo é uma possibilidade de sair da inércia”, afirma Dom Walmor Oliveira de Azevedo

Dom Walmor Oliveira de Azevedo, presidente da CNBB, também participara do Sínodo, em Roma, e está presente neste encontro em Belém. De acordo com ele, a voz dos bispos e das Igrejas que estão na Amazônia, são a voz da CNBB.  Ele afirmou que a Conferência irá contribuir na comunicação, uma vez que os resultados do Sínodo são para toda a Igreja do Brasil e do mundo. “Os temas tratados, os desafios postos e as exigências que sabemos existentes precisam ser bem compreendidas no interno da Igreja e fora da Igreja”, destacou o presidente da CNBB.

29 Agosto 2019

O Sínodo para a Amazônia é um processo que acontece em diferentes etapas. Nestas semanas anteriores à assembleia sinodal, que se realizará no Vaticano de 6 a 27 de outubro, os Padres Sinodais, juntamente com os representantes da Igreja da Amazônia, estão realizando encontros nos quais está sendo trabalhado o Instrumentum Laboris.

(A reportagem é de Luis Miguel Modino)

Encontro de estudo do Documento de Trabalho para o Sínodo da Amazônia.
(Foto: Luis Miguel Modino)

No Brasil, este encontro de preparação acontece em Belém, onde cerca de 120 participantes, entre bispos, padres, religiosas e religiosos, leigas e leigos, estão reunidos de 28 a 30 de agosto. O encontro ocorre em um contexto em que, como reconheceu o cardeal Cláudio Hummes, relator do Sínodo para a Amazônia, “cada vez mais sentimos a importância do momento, o mundo está se envolvendo e reconhecendo a importância da Amazônia“. Então, vemos que este Sínodo “está se tornando algo seguido mundialmente”.

É verdade que existem “vozes que tem medo, interesses, que se sentem ameaçados”, reconhece o Cardeal Hummes, mas não é menos verdade que o realmente importante deste momento é que “os gritos do povo estão sendo escutados e recolhidos” e a necessidade de, como Igreja, “estar próxima do povo”, afirma o Presidente da Rede Eclesial Pan-Amazônica – REPAM, para quem “o processo de escuta sinodal foi algo extraordinário, o povo se sentiu envolvido, dignificado, participantes deste processo”.

Cardeal Cláudio Hummes
  (Foto: Luis Miguel Modino)

O cardeal brasileiro insistiu que o papa Francisco quer ouvir as mulheres, que, como ele reconhece abertamente, “têm um papel destacado nas comunidades da Amazônia”. Segundo alguns rumores, espera-se uma presença proeminente de mulheres na assembleia sinodal, excedendo o número de sínodos anteriores. Ao mesmo tempo, ele abordou algumas das preocupações do papa Francisco em referência à região, já expressadas no encontro com os bispos por ocasião da Jornada Mundial da Juventude de 2013, no Brasil, e que até já aparecem no Documento de Aparecida, que não podemos esquecer que o então cardeal Bergoglio foi seu relator.

Nesse sentido, vale ressaltar que o papa Francisco considera a Amazônia um teste decisivo para o futuro, por isso a Igreja não pode perdê-la. Para isso é preciso revitalizar a Igreja na Amazônia, consolidar o rosto indígena e amazônico, formar um clero indígena, passar de uma Igreja que visita para uma Igreja que está presente. Portanto, o Sínodo, como reconhece o Cardeal Hummes, retomando as ideias do Papa, “é caminhar juntos para buscar a comunhão, não é um parlamento”, para o qual é essencial “respeitar e reconhecer a riqueza das diferenças”.

Dom Walmor Oliveira de Azevedo, presidente da CNBB e arcebispo de Belo Horizonte
(Foto: Luis Miguel Modino)

Como reconheceu o presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil – CNBB, Dom Walmor Oliveira de Azevedo, o Sínodo para a Amazônia é “uma experiência importante para a nossa Igreja no Brasil e nos banhar de Amazônia”, que em sua opinião tem que “abrir o coração de nossa Igreja e sociedade para ajudar na compreensão do que será tratado na assembleia sinodal e será incluído na exortação pós-sinodal”. Nessa perspectiva, o presidente da CNBB reconheceu que “o Sínodo é uma possibilidade de sair da inércia, uma graça de Deus para um novo tempo, um novo caminho”. Não podemos esquecer, segundo ele, que “evangelizar tem a ver com a saúde, com uma nova ordem social e política, com uma profunda esperança, e o Sínodo para a Amazônia nos dá essa oportunidade”.

Cristiane Murray, secretária do Sínodo e subdiretora da Sala de Imprensa da Santa Sé.
(Foto: Luis Miguel Modino)

Um dos desafios deste processo sinodal, reconhecido por Cristiane Murray, subdiretora da Sala de Imprensa da Santa Sé, que nos últimos tempos trabalhou na Secretaria do Sínodo, é “comunicar ao mundo, à sociedade civil, à importância da presença da Igreja na Amazônia”, sendo o Sínodo para a Amazônia um momento de singular importância para dar a conhecer “o que a Igreja faz na Amazônia e o que ela pode fazer”. Nessa mesma perspectiva, o pastor luterano Inácio Lemke, do Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil – CONIC, ressaltou que este é um momento em que “Deus está chamando os líderes das Igrejas para serem vozes que defendem a Casa comum”.

Pe. José Oscar Beozzo
(Foto: Luis Miguel Modino)

Em seu discurso, José Oscar Beozzo, um dos grandes estudiosos do Concílio Vaticano II, começou afirmando a necessidade de profecia na Igreja da Amazônia e, para isso, citou as palavras de Dom Pedro Casaldáliga, que definiu como a primeira missão do bispo “ser profeta, ser a voz dos que não têm voz”. Mostrando a relação entre o Vaticano II e os sínodos dos bispos, ele enfatizou a importância da colegialidade. Ao mesmo tempo, ele insistiu na missionariedade, porque “o cuidado de anunciar o Evangelho é a atividade mais sagrada da Igreja”.

Em consonância com o que foi afirmado pelo cardeal Hummes, estamos em um âmbito em que se pretende alcançar toda a humanidade. Os dois únicos momentos em que os papas se dirigiram a toda a humanidade, superando as fronteiras eclesiásticas, estiveram na crise dos mísseis, nos anos 60, quando João XXIII se dirigiu a todos os homens e mulheres de boa vontade, algo repetido na Encíclica Laudato Si’, que visa responder à crise socioambiental, algo que continuará no Sínodo para a Amazônia, recentemente definido pelo papa Francisco como filho da Laudato Si’.

A reunião retomou os resultados do processo de escuta, resultado do documento preparatório, no qual, como afirmou Zenildo Lima, “não se pretendia apresentar um conteúdo e sim um método com o qual queremos fazer uma reinterpretação da realidade a partir de novas categorias e cosmovisões”. De fato, no processo de escuta havia uma grande variedade de interlocutores, segundo o padre Zenildo, as assembleias territoriais foram “um grande passo no caminho do Sínodo, reunindo o clamor da base, o povo se sentiu ouvido”. Foi um tempo em que surgiram grandes questões, e que faz com que não se possa “perder a vitalidade e o espírito de escuta, é preciso salvaguardar a sua força”, apesar de reconhecer que a dimensão ecológica tem muito mais presença que a eclesiológica.

Encontro de estudo do Documento de Trabalho para o Sínodo da Amazônia.
(Fotos: Luis Miguel Modino)

Com foco no Instrumentum Laboris, que será o centro das discussões ao longo dos dias, Monsenhor Raimundo Possidônio Carrera da Mata, um dos grandes historiadores da Igreja na Amazônia, afirmou ao apresentar a primeira parte do documento, que o Sínodo para a Amazônia “é um ponto de chegada, já que muitos dos conceitos presentes no Instrumentum Laboris são realidades já vividas”. Isso ajuda a apoiar o fato de que “não se pode perder a Amazônia como sujeito de todo esse processo”, uma afirmação feita por Dom Mário Antônio da Silva, bispo de Roraima e segundo vice-presidente do episcopado brasileiro.

A reflexão dos participantes sem dúvida enriquecerá um processo que, os quase sessenta bispos brasileiros que serão padres sinodais, levarão a uma assembleia em que, a partir de uma visão de pan-amazônica, quer fazer realidade novos caminhos para a Igreja e para uma ecologia integral.

(Os grifos são nossos)

(Fotos: postadas no site da REPAM)

Fonte:

IHU

1 Comentário

  1. A necessidade de atenção para com a região da Amazônia, seus habitantes, os valores ambientais… é urgente e benéfica para a humanidade e para a casa comum!

Comentários não permitidos.