Diante da grave crise, CNBB criará comissão episcopal para o meio ambiente e desenvolvimento

O presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), dom Walmor Oliveira de Azevedo, arcebispo de Belo Horizonte anunciou que a entidade criará uma Comissão Episcopal para tratar especificamente de assuntos referentes ao meio ambiente e ao desenvolvimento, em especial a mineração. O anúncio foi feito durante o Seminário “A mineração e o cuidado com a casa comum”, realizado os dias 17 e 18 de maio de 2019, na Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC-Minas).

Segundo dom Walmor, o foco da atuação da comissão será o diálogo da Igreja com setores da sociedade, com o Poder Legislativo e outras instâncias. A notícia foi recebida com otimismo por todos os presentes no evento e, em particular, pelo bispo de Caxias do Maranhão (MA) e presidente do Grupo de Trabalho Igreja e Mineração da CNBB, dom Sebastião Lima Duarte, que destacou a sensibilidade de dom Walmor no tratamento dessa urgente questão.

As atividades na PUC Minas tiveram como objetivo divulgar a posição da Igreja sobre a impactante questão da mineração, a fim de orientar a opinião pública e apoiar comunidades, grupos e movimentos que se dedicam à defesa dos territórios ameaçados, além de apresentar ao Vaticano o impacto da tragédia sobre a população de Mariana, de Brumadinho e tantos outros lugares, bem como sobre as contradições no cuidado com Casa comum da mineração em Minas e no Brasil.

O Seminário foi organizado pela arquidiocese de Belo Horizonte, pela CNBB e a Rede Igrejas e Mineração – uma plataforma ecumênica que integra diferentes Igrejas na América Latina, unidas na missão de amparar comunidades impactadas pela mineração e a necessidade de cuidarmos de nossa Casa comum. Todas estas entidades e a participação do monsenhor Bruno-Marie Duffé, do Dicastério para o desenvolvimento humano integral do Vaticano, enviado pelo papa Francisco, é um entrelaçar “de corações e mentes na mesma direção”, disse dom Walmor.

Somos todos nós, juntos, nos dando as mãos e nossos corações, para fazermos um novo caminho, que é tão necessário, se quisermos um desenvolvimento integral, se desejarmos um desenvolvimento sustentável”, afirmou o presidente da CNBB.

Monsenhor Bruno-Marie Duffé reafirmou o compromisso do Vaticano em ouvir o grito, acolher e fraternalmente apoiar as lutas das comunidades que legitimamente defendem seus territórios e dignidade humana, ao transmitir a mensagem de solidariedade do papa Francisco aos familiares das vítimas do rompimento da barragem do Córrego do Feijão, em Brumadinho. Fez, também, severas críticas ao liberalismo que tem o dinheiro como prioridade, deixando as pessoas e a natureza em segundo plano, o que resulta em ocorrências como as tragédias em Mariana e Brumadinho.

Monsenhor Bruno-Marie escuta os testemunhos dolorosos das famílias de Brumadinho | Foto: arquidiocese de Belo Horizonte

O enviado do papa Francisco também visitou as comunidades do Córrego do Feijão e Parque da Cachoeira, em Brumadinho. O dia de sábado, 18/05/2019, foi marcado por momentos de solidariedade fraterna com as famílias e de celebração de fé e esperança.

Após ouvir testemunhos de fiéis que perderam familiares, casas, terras, animais, as condições para uma vida digna em consequência do criminoso rompimento da barragem, monsenhor Bruno partilhou, emocionado: “consigo imaginar a dor do povo de Brumadinho e trago, a pedido do Papa, uma mensagem de esperança. Crendo que, no Córrego do Feijão, está o coração da Igreja e da humanidade”. O Monsenhor convidou o povo de Brumadinho a se tornar “profeta que anuncia um tempo novo, que consola e que luta por um mundo mais justo, combatendo a ganância.

Numa Celebração de fé, que reuniu pessoas das diversas comunidades atingidas, moradores levaram ao altar produtos cultivados na região e lembranças das vítimas da tragédia.

Procissão de fé pelas ruas do Córrego do Feijão com sobreviventes da tragédia criminosa da Vale . Foto: arquidiocese de Belo Horizonte

Em seguida, em um forte momento de fé e esperança, o Monsenhor, acompanhado pelo bispo auxiliar de Belo Horizonte dom Vicente de Paula Ferreira, por dom Sebastião Lima Duarte e leigos/as solidários/as juntamente com moradores/as dos locais atingidos pela tragédia criminosa da Vale, saíram em procissão pelas ruas de Córrego do Feijão. Durante a caminhada, os nomes de todas as vítimas foram lembrados. A ideia era levar o representante do Vaticano até um ponto que foi atingido pela lama, mas a rua foi interditada pela empresa responsável pelo crime. Desse modo, ele não conseguiu ver de perto os estragos provocados pela lama. A comunidade encerrou o encontro com um minuto de silêncio em homenagem às vítimas da tragédia.

Fonte:

www.cnbb.org