Por que o Sínodo da Amazônia “poderia mudar a Igreja para sempre”?

O papa Francisco escolheu o cardeal brasileiro Cláudio Hummes para servir como relator geral do Sínodo dos Bispos da Amazônia, de outubro. A nomeação do arcebispo aposentado de 84 anos, de São Paulo, foi anunciada no Vaticano no último final de semana. O relator é responsável por fornecer um resumo abrangente do tema do sínodo no início do encontro e por resumir os discursos dos membros do sínodo antes que o trabalho comece com propostas concretas para o Papa.

(O artigo é de Francis McDonagh, publicado por The Tablet, 05-05-2019. A tradução é de Natália Froner dos Santos.)

Agendado para os dias 6 a 27 de outubro de 2019, o Sínodo se concentrará no tema “Amazônia: novos caminhos para a igreja e para uma ecologia integral“.

O Cardeal Hummes é atualmente presidente da Rede Eclesial Pan-Amazônica (Repam), órgão fundado pela Caritas Internationalis que promove os direitos e a dignidade das pessoas que vivem na Amazônia.

O Vaticano também anunciou que o papa Francisco escolheu dois secretários especiais para o sínodo: o bispo David Martínez De Aguirre Guinea, vigário apostólico de Puerto Maldonado, Peru, e o padre jesuíta Michael Czerny, subsecretário da Seção de Migrantes e Refugiados do Dicastério do Vaticano para Promoção do Desenvolvimento Humano Integral.

Quando anunciou o sínodo em 2017, o papa Francisco disse que buscaria identificar novos caminhos de evangelização, especialmente para os povos indígenas “muitas vezes esquecidos e abandonados sem a perspectiva de um futuro pacífico, inclusive por causa da crise da floresta amazônica“, que desempenha um papel vital na saúde ambiental de todo o planeta.

O bispo Martínez comentou que a equipe teria que “tentar ser fiel aos povos da Amazônia, às comunidades ribeirinhas, aos indígenas, a tantas pessoas em nossas cidades amazônicas em nosso sonho de ajudá-los e responder aos desafios que nossa Igreja Amazônica enfrenta, não só por si mesma, mas também por todo o planeta.

O secretário executivo do sínodo, Mauricio López, disse que essas nomeações expressam o “profundo compromisso do Papa com as realidades locais, seu amor pela Igreja que está em sua jornada, sua peregrinação, mergulhando nas culturas da região” e derivam de seu “desejo pelo sínodo de produzir uma reforma meticulosa e cuidadosa e um amor profundo pela Igreja do Cristo encarnado que busca iluminar a Igreja universal e ajudar no processo de produzir novas ideias.

Essas nomeações representam a importância do Brasil e do Peru entre os nove países da região amazônica envolvidos no sínodo.

Consultas foram realizadas em toda a região em grupos da Igreja e comunidades locais que serão refletidas no Documento de Trabalho do Sínodo, que deverá ser publicado em junho.

Enquanto isso, o bispo Franz-Josef Bode, vice-presidente da Conferência dos Bispos da Alemanha, disse em uma entrevista que o modelo de “padres casados com um emprego civil” será “provavelmente apresentado ao Papa pelos bispos latino-americanos no Sínodo da Amazônia em outubro”.

Falando com o jornal regional Osnabrücker Zeitung, o Bispo Bode deixou claro que é a favor de “repensar a ligação entre o celibato e o sacerdócio”.

“Sacerdotes com um trabalho civil” poderiam “celebrar a Eucaristia” e também fornecer “os serviços sacerdotais correspondentes”, disse ele. A “alta e adequada estimativa do celibato deve ser sempre preservada”, explicou, mas deve ser “enriquecida por outras formas de vida sacerdotal”.

O bispo alemão também falou a favor das mulheres diáconas “como um sinal de reconhecimento, estima e mudança de status das mulheres na Igreja que hoje estão em grande número ativas em campos de caridade e no campo do diaconato”.

Bispo Bode é o segundo bispo alemão a apontar para o Sínodo da Amazônia como o momento em que a Igreja se abrirá, provavelmente, a algumas mudanças fundamentais.

O bispo Franz-Josef Overbeck de Essen pediu uma nova “imagem do sacerdócio” à luz do fato de que, na região amazônica, muitas vezes existem mulheres religiosas que são influentes nas paróquias locais.

“A face da igreja local é feminina”, disse Overbeck, que é o chefe da comissão latino-americana dos bispos alemães, que fornece apoio financeiro e pastoral à América Latina.

Overbeck disse que o Sínodo da Amazônia levará a Igreja Católica a um “ponto sem retorno” e que, a partir de então, “nada será o mesmo que foi”.

O bispo Erwin Kräutler, um defensor de padres casados e femininos, é o autor do documento de trabalho para o próximo Sínodo.

Fonte:

IHU