Um encontro repleto de alegria e exortações: assim foi a audiência que o papa Francisco concedeu às mais de 800 religiosas, que concluem esta sexta-feira (10/05/2019) em Roma a Assembleia da União Internacional das Superioras Gerais (UISG).
Francisco entregou o discurso oficial e preferiu manter um diálogo com as superioras, falando de vários temas: abusos sexuais, serviço, diaconato feminino e a teologia da mulher.
Enforcar padres abusadores? Não, mas…
Sobre os abusos, o Pontífice comentou o encontro de fevereiro e as expectativas depositadas.
“Se tivéssemos enforcado publicamente 100 padres na Praça São Pedro, estariam todos felizes, mas não teríamos resolvido o problema. Trata-se de um processo.”
Tornar-se religiosa para ser doméstica de um clérigo? Não, mas…
Quanto ao serviço, Francisco afirmou que isso é aceitável, mas a servidão não é tolerada.
“Serviço sim, servidão não. Você não se torna religiosa para ser doméstica de um clérigo. Não!”
Diaconato feminino? Ainda não, mas…
O Papa recordou que instituiu uma comissão a pedido das próprias superioras, o trabalho avançou, mas com poucos resultados.
“Não posso fazer um decreto sacramental sem um fundamento histórico e teológico. O resulto não é dos melhores, mas foi feito um passo avante.”
Sobre o trabalho das mulheres na Igreja, o Pontífice afirmou que erra quem pensa que se trata somente de um trabalho funcional.
“A Igreja é feminina, é mulher. Não é uma imagem, é a realidade, é a esposa de Jesus, devemos ir avante com a teologia da mulher.”
Sobre a importância da mulher com os povos indígenas da Amazônia
O Papa abriu espaço então para que as superioras fizessem perguntas. Uma delas foi a da brasileira Ir. Marlise Hendges, das Irmãs do Imaculado Coração de Maria, que falou a Francisco do período crítico que muitos países latino-americanos estão vivendo e o egajamento das religiosas, principalmente contra o tráfico de seres humanos na Rede “Um Grito pela Vida”. A superiora comentou também a expectativa para a realização do Sínodo para a Amazônia.
Ao tomar a palavra, Francisco brincou:
“Eu gostaria de perguntar quem foi melhor, Pelé ou Maradona?”
Depois, retomou o tom sério para ressaltar a importância da mulher na Amazônia, devido à sensibilidade que tem com os povos indígenas. Para o Papa, a mulher compreende melhor o problema tribal, justamente porque se trata de uma questão vital, e saberá encontrar caminhos para uma nova inculturação.
Não há Páscoa sem missão
No seu discurso, o Papa desejou a todos uma santa Páscoa, plena de paz, alegria e paixão, ao levar o Evangelho a todos os cantos da terra. Ninguém pode roubar nossa paixão pela evangelização. Não há Páscoa sem missão: “Ide e pregai o Evangelho a todos os homens”.
Cristo, fonte de alegria
E, dirigindo-se de modo particular às Superioras, Francisco as exortou a ir e anunciar Cristo ressuscitado como fonte de alegria, que ninguém e nada podem nos tirar; a renovar seu encontro com Jesus e ser suas testemunhas; a levar aos homens e mulheres, amados pelo Senhor, sobretudo aos que são vítimas da cultura da exclusão, a doce e confortadora alegria do Evangelho.
Diante da diminuição do número de vocações à vida consagrada, sobretudo a feminina, disse Francisco, a tentação é de desanimar e se resignar. Neste contexto, difícil para a Vida Religiosa, encorajou-as a não ter medo de serem poucas, mas medo de não serem sal, que dá sabor à vida dos homens e mulheres da nossa sociedade.
Mas recordou-lhes: “Há muita gente que precisa e espera por vocês; precisa do seu sorriso amigo, que dá confiança; das suas mãos, que os sustentam em sua caminhada; da sua palavra, que semeia esperança em seus corações; do seu amor, como o de Jesus, que cura as profundas feridas causadas pela solidão, rejeição e exclusão”.
Abrir novos caminhos
Depois, Francisco exortou as Religiosas a jamais cederem à tentação da autossuficiência, mas a desenvolver sua fantasia na promoção da caridade e da fidelidade aos seus carismas; a abrirem novos caminhos para levar o Evangelho às diferentes culturas, aos que vivem e trabalham nas várias esferas da sociedade e a prestarem seu serviço de modo discreto e humilde, sempre animadas pela oração pessoal e comunitária, e pela Palavra do Senhor.
O Santo Padre afirmou ainda que “entre os valores essenciais da vida religiosa se destacam a vida fraterna comunitária, a comunicação, a correção fraterna, vida sinodal, acolhida e respeito na diversidade”.
Vida fraterna em comunidade
Aqui, Francisco expressou sua preocupação com a vida fraterna em comunidade, onde as diversas raças e costumes são vistos como ameaça e conflito de gerações, ao invés de um enriquecimento.
Por fim, o Papa expressou seu reconhecimento pelo precioso serviço que as Religiosas prestam em âmbito eclesial, mas, sobretudo, nas periferias do mundo:
“A periferia da educação, onde educar é sempre um ganho para Deus; a periferia da saúde, na qual são servas e mensageiras de uma vida digna; a periferia do trabalho pastoral, onde vocês testemunham o Evangelho com suas vidas e manifestam o rosto materno da Igreja”.
Francisco concluiu seu discurso encorajando as Religiosas a cultivar a paixão por Cristo e pela humanidade, sem a qual a vida religiosa e consagrada não tem sentido; a zelar pela boa formação e o discernimento da sua vocação e a viver, com alegria, a sua consagração.
Fonte:
www.vaticannews.va