Francisco alerta para a hipocrisia de cristãos que é análoga àquela que Jesus condena nos fariseus.
Durante a missa celebrada na capela da Casa Santa Marta, o Papa Francisco comentou a primeira Leitura, extraída do livro Profeta Isaías, e explicou a diferença que existe na nossa vida entre o real e o formal, condenando toda forma de hipocrisia.
Barbara Castelli – Cidade do Vaticano
Peçamos esta graça na Quaresma: a coerência entre o formal e o real, entre a realidade e as aparências: palavras do Papa Francisco na homilia desta sexta-feira (08/03/2019), ao celebrar a missa na capela da Casa Santa Marta. O Pontífice inspirou sua reflexão no trecho extraído do livro do profeta Isaías.
A alegria da penitência
A simplicidade das aparências deveria ser redescoberta sobretudo no período da Quaresma, através do exercício do jejum, da esmola e da oração. Os cristãos, de fato, deveriam fazer penitência mostrando-se alegres; ser generosos com quem se encontra na necessidade sem “tocar os tambores”; dirigir-se ao Pai quase “escondido”, sem buscar a admiração dos outros. No tempo de Jesus, explicou o Papa, o exemplo era nítido na conduta do fariseu e do publicano; hoje, os católicos se sentem “justos” porque pertencem a certa “associação”, vão à “missa todos os domingos” e não são “como aqueles pobretões que não entendem nada”.
As pessoas que buscam as aparências jamais se reconhecem pecadores e se você disser a elas: “Mas você também é pecador!” – “Mas sim, todos temos pecados!”, e relativizam tudo e voltam a se tornar justos. Buscam até aparecer com cara de santinhos: tudo aparência. E quando existe esta diferença entre a realidade e a aparência, o Senhor usa o adjetivo: “Hipócrita”.
A hipocrisia dos “profissionais da religião”
Cada pessoa é tentada pelas hipocrisias e o tempo que nos conduz à Páscoa pode ser ocasião para reconhecer as próprias incoerências, para identificar as camadas de maquiagem de modo a “esconder a realidade”. Francisco insistiu no aspecto da hipocrisia, um tema que emergiu com força durante a XV Assembleia geral ordinária do Sínodo dos Bispos sobre o tema: “Os jovens, a fé e o discernimento vocacional”. Os jovens, afirmou, ficam impressionados com aqueles que buscam aparecer, mas depois se comportam consequentemente, sobretudo quando esta hipocrisia é vivida por “profissionais da religião”. O Senhor, ao invés, pede coerência.
Muitos cristãos, mesmo católicos, que se dizem católicos praticantes, como exploram as pessoas! Como exploram os operários! Como os mandam para casa no início do verão para readmiti-los no final, de modo que não têm direito à aposentadoria, não têm direito de ir avante. E muitos deles se dizem católicos: vão à missa no domingo… mas agem assim. E isso é pecado mortal! Quantas pessoas humilham seus operários…
Beleza da simplicidade
Neste tempo da Quaresma, o Pontífice convidou os fiéis a redescobrirem a beleza da simplicidade, da realidade que “deve estar unida à aparência”.
Peça ao Senhor a força e vai humildemente avante, com aquilo que pode. Mas não maquie a alma, porque, se fizer isso, o Senhor não o irá reconhecer. Peçamos ao Senhor a graça de sermos coerentes, de não sermos vaidosos, de não aparecer mais dignos daquilo que somos. Peçamos esta graça nesta Quaresma: a coerência entre o formal e o real, entre a realidade e as aparências.
A hipocrisia dos cristãos, que à aparência de o serem opõem, conscientemente, comportamentos que contradizem frontalmente o que dizem ser, esteve hoje no centro da homilia proferida pelo papa na missa a que presidiu, no Vaticano.
“Muitos cristãos, inclusive católicos, que se dizem católicos praticantes, como exploram as pessoas. Como exploram os operários”, lamentou Francisco, que deu o exemplo dos patrões que, para manterem a precariedade dos assalariados, despedem-nos durante determinado tempo, para depois os voltarem a contratar.
O papa sublinhou as consequências que essa prática disseminada em Itália tem nos trabalhadores: “[Os patrões] mandam-nos [os empregados] para casa no início do verão, para voltar a ficarem com eles no fim [da estação]; assim não têm direito à reforma, não têm direito a seguir em frente”, referência à insegurança causada nos empregados pela fragilidade do vínculo contratual.
“E muitos destes [patrões] dizem-se católicos: vão à missa ao domingo, mas fazem isto. E isto é pecado mortal. Quantos humilham os seus operários”, vincou, dando continuidade ao ensinamento social da Igreja.
Estes comportamentos enquadram-se na atitude geral dos cristãos que “procuram as aparências” e “nunca se reconhecem pecadores”: “Se tu lhes dizes: ‘Tu também és pecador’, respondem: “Sim, pecados todos temos”.
“Relativizam tudo e voltam a tornar-se justos. Procuram aparecer com cara de pagela, de santinho; tudo aparência. E quando há esta diferença entre a realidade e a aparência, o Senhor usa um adjetivo: ‘Hipócrita'”, vincou o papa.
O tempo da Quaresma, que começou esta quarta-feira, é propício à mudança de atitudes, com vista a redescobrir a virtude de uma realidade “que deve estar unida à aparência”, que não “maquilhe a alma”, e nesse sentido Francisco propôs uma prece a Deus.
“Peçamos ao Senhor a graça de sermos coerentes, de não sermos narcisistas, de não aparecermos mais dignos do que aquilo que somos. Peçamos esta graça, nesta Quaresma: a coerência entre o formal e o real, entre a realidade e as aparências”, concluiu.
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