Uma semana após a tragédia em Brumadinho brigadista voluntário descreve como encontrou um ônibus em meio a lama.

Em um depoimento rico em detalhes, em meio à pobreza do que restou de um povoado, a equipe do Observatório da Evangelização apresenta hoje, uma semana após a tragédia em Brumadinho, o relato de Nélio Lopes. Ele é um brigadista voluntário, uma pessoa que reside próximo à região afetada, e narrou seus momentos mais difíceis ao encontrar o ônibus com funcionários da criminosa Vale. Foi ele quem indicou para os bombeiros que ali, embaixo daquela lama, havia um ônibus mergulhado pelo descaso.

Que descaso é esse? É o resultado de um olhar desumano, sem voz e vez de quem lá esteve.Que descaso é esse? É o vale de lágrimas que não vale para a Vale. É o capitalismo e a ganância que exploram verdes matas, que poluem rios, que afetam animais. Que descaso é esse? É a ignorância que fala alto, que empurra aos interesses políticos o que deveria ser do povo. Agora, frente ao descaso impune da Vale, ficam as memórias enlameadas, ficam os sonhos devida, de família, sonhos profissionais, sonhos que ainda não foram (e não serão) vividos, masque agora estão apagados pelas pedras de barro. Ficam agora as famílias, ficam as lágrimas de uma mãe, de um pai, de um filho, resta a dor de uma esposa e um marido, que vale muito mais do que pensa a Vale. Ao povo? Sobra a indignação. Sobra-nos a força de reivindicar a punição pelo genocídio em Brumadinho, fica a nós o dever de levantar a voz, falar por aqueles que foram calados pela lama, ainda que estejamos aqui, sendo observados e intimidados pela Vale, afinal, a vida não é o que sobra para ser esquecida em uma barragem de rejeitos.