Por Edward Guimarães, João Henrique e Manuel Robério
Maldita a lama mal dita
Que jorra da ganância por fácil e farto lucro
Pois atropela a lucidez do bom senso ético
E devora os norteadores princípios da “com ciência”.
Maldita a lama mal dita
Que exala das relações promiscuas e corruptas
Pois compra, manipula e determina votos e eleições
E rasga as regras da lei e decide o teor dos “licenciamentos”.
Maldita a lama mal dita
Que desnuda a grave doença da governança política
Pois tem por guia a perpetuação no poder e a lógica do ter sobre o ser
E, “desumana”, torna-se incapaz de sentir perdas sociais e danos ambientais.
Maldita a lama mal dita
Que corre das rompidas barragens da mineração
Pois engole veredas e casas e seres e rios e bacias
E destrói, insensível, “tudo o que vê pela frente”.
Maldita a lama mal dita
Que brota das bocas insanas, mesquinhas e imorais
Pois falam de amor, de sustentabilidade e de ética
E desejam “apenas” manter os seus magnos lucros perversos.
Este poema é fruto do sentimento de profunda indignação eco-ética. Ele nasceu no calor da experiência vivida pelos membros do grupo multidisciplinar Mineração e Correlatos da PUC Minas, no dia de nossa visita ao local da tragédia criminosa da Samarco-Vale-BHP Billiton na Bacia do Rio Doce e, de modo impactante e impressionante, ao totalmente destruido distrito de Bento Rodrigues. Não tinha como não sentir aquela dor aguda provocada pelo cheiro da tristeza dos sonhos despedaçados, pelas marcas da negligência esculpidas na lama da tragédia-crime anunciada, pelo grito ensurdecedor do silêncio que tomou conta do grupo diante do caos de lama… na memória a gravidade do alerta descrito no laudo ambiental de 2013, feito pelo Instituto Pristino por ocasião da renovação da licença ambiental bem antes do rompimento da barragem do Fundão. Portanto, um grave crime de negligência, imperícia e descaso contra a vida.
Mais uma “tragédia anunciada” da Vale. Até quando vocês vão aguentar tanta destruição e impunidade??? Isso é muito triste!