COMISEs: uma luz no caminho na formação dos seminaristas

Por Zorenilton Tavares Reis, seminarista

O Conselho Missionário de Seminaristas – COMISE foi criado em 1985 no Seminário Maior Interdiocesano Sagrado Coração de Jesus, no Piauí, onde os seminaristas se organizaram para trabalhar a então denominada “dimensão missionária” da formação. Criou-se, nos seminaristas, uma identidade de ser Igreja missionária, graças ao método formativo do Seminário, a partir dos grandes referenciais eclesiológicos pós-conciliares, tais como:  Igreja povo de Deus, Igreja comunhão, práxis da fé.

Com 33 anos de existência, a iniciativa foi pioneira em todo o Brasil, nascida com o incentivo do padre Fábio Bertagnolli, missionário Comboniano que, desde 1984, atuava como diretor espiritual do Seminário Sagrado Coração de Jesus. Como professor, dedicou-se à formação intelectual dos seminaristas e à animação missionária do ambiente de formação. Em suas pregações, recordava aos vocacionados que os missionários são “o microfone de Deus no mundo”.

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Desde o primeiro momento, o Conselho Missionário do Seminário teve por objetivo animar a missionariedade na formação dos seminaristas dentro do Seminário, em vista de que essa é uma realidade indispensável em nosso contexto atual. A Igreja é missionária e sente a necessidade de formar discípulos missionários para o serviço e condução do povo de Deus. O documento de Aparecida afirma: “Missão não é tarefa opcional, mas parte integrante da identidade cristã” (n. 144). Este o fundamento da missão do COMISE: despertar no jovem formando (o seminarista), e no formador, a necessidade de maior impulso na vivência da missionariedade à qual foi chamado.

Inicialmente, apesar de se tratar de uma animação missionária interna, rapidamente ganhou também proporções externas por meio da participação nos movimentos populares da época, na reivindicação por melhores condições de vida, principalmente para os mais pobres. Exemplo disso foi a participação dos seminaristas junto ao povo no grito dos excluídos, e nas reivindicações por água no bairro Angelim, em Teresina.

O COMISE quer conscientizar o seminarista que, antes da vocação sacerdotal, a vocação à missão é a identidade de todo futuro missionário-pastor. Portanto, o seminarista está chamado a criar convicção de que “o discípulo-missionário-presbítero deve cultivar sempre os mesmos sentimentos e as virtudes do Sagrado Coração de Jesus, o Bom Pastor” (PFP, p.49,2013).

A atuação do Conselho Missionário é como fermento na casa de formação, ajudando o seminarista a enxergar a ação missionária como causa primeira e o fim último do exercício de sua vocação, colocada a serviço do Povo de Deus enquanto Igreja. Desperta o formando a perceber que um missionário-presbítero, que possui verdadeiro ardor missionário, dispôs-se à doação total de si, ao cultivo da intimidade pessoal com Deus e à alegria na missão; capacitado para compreender os novos desafios no planejamento da ação evangelizadora, e aberto à adesão aos pobres e ao serviço missionário nos lugares de riscos e marginalizados.

No Seminário Sagrado Coração de Jesus, o COMISE busca prover, de forma gradual e em sintonia com o Projeto Formativo do Seminário, a missionariedade no espaço de formação. O período de formação divide-se em seis tipos de ação pastoral-missionária, que devem alimentar no seminarista o ardor, o espírito, o planejamento e o empenho missionário, a saber: Pastoral da Misericórdia, Administração Paroquial, Pastorais Sociais, Pastoral Paulina, Pastoral Específica e Pastoral Petrina. É importante salientar ainda que é de interesse do COMISE despertar ou alimentar nos formandos e formadores uma cultura para a missão Ad gentes; daí o motivo que fez surgir o projeto missionário de cooperação entre a Igreja no Piauí e na Amazônia, dentre tantos outros projetos que estão sendo desenvolvidos nos Regionais da CNBB.

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Encontramos mais algumas informações sobre a fundação e a caminhada do COMISE no Livro de Tombo do Seminário, onde está o relato das atividades desenvolvidas pelo COMISE desde o ano de 1985. Para incentivar a identidade e a espiritualidade missionária entre os seminaristas, estão as atividades do mês missionário, as gincanas missionárias, vigílias pelas missões, encontros formativos, celebrações do dia da consciência negra, dia do índio, noites culturais, shows missionários, celebrações litúrgicas vivas e participativas etc.

Um outro fator que vale a pena destacar, nesses primórdios do COMISE, foi a celebração do ano missionário no Seminário Sagrado Coração de Jesus. Um dos textos do arquivo relata: “Com uma gincana vocacional-missionária, entre filósofos e teólogos, e com a presença do “júri” dos missionários Combonianos, foi aberto o Ano Missionário que pretendia conscientizar e criar um ambiente e consciência missionária no Seminário. Foi organizado e coordenado pelo COMISE”. Destacamos ainda que, todas as quintas-feiras, a equipe do COMISE se reunia com o Pe. Fábio para as reflexões sobre a espiritualidade missionária e contexto social.

Em suas atividades de formação para a missão na vida do presbítero, o COMISE ajuda a transformar vidas por meio do encontro com a pessoa de Jesus.

O Regional Nordeste 4 da CNBB se prepara para acolher, em 2020, o 11º FORMISE do Nordeste, no qual serão celebrados os 35 anos de caminhada dos COMISEs.

Aproveitamos a oportunidade para felicitar as POM que, neste ano de 2018, completam os 40 anos de missão no Brasil. Certamente foram inúmeros encontros proporcionados nesse tempo da graça; a mensagem do Evangelho proclamada e vivida por uma multidão de missionários chegou àqueles que estavam desanimados. Hoje, colhemos os frutos e fazemos memória agradecida da história, lembrando que fazemos também parte desse grupo de mulheres e homens que evangelizaram e foram evangelizados. Tão fecundas na animação, cooperação e ação missionária, desejamos às POM, no Brasil, que Deus lhes conceda a graça de continuar levando, com entusiasmo e ousadia, o Evangelho a todas as nações.

Fonte:

www.pom.org.br