Assembleia Pastoral discutiu o tema: “Uma Igreja em saída frente aos desafios e esperanças do mundo urbano”

Entre os dias 13 e 15 de novembro aconteceu em Belo Horizonte, na Casa de Retiros São José, a Assembleia Pastoral do Regional Leste 2/CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil). Estiveram presentes (Arce)bispos, presbíteros e representantes de presbíteros. Também participaram leigos e leigas, coordenadores de Pastorais, Grupos e Movimentos das (Arqui)Dioceses e Regional.

A Assembleia deste ano tem como tema “Uma Igreja em saída frente aos desafios e esperanças do mundo urbano”. Já no primeiro dia contou com a presença da professora Luciana Teixeira Andrade, do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais da PUC Minas. Ela abordou a temática “Cenários urbanos: personagens, linguagens, desafios e sonhos”. Ela apresentou cenários urbanos a partir das constatações do Observatório das Metrópoles. Falou sobre o crescimento populacional, os padrões de segregação e os consequentes problemas de desigualdades. A partir dessa reflexão os participantes puderam contextualizar o tema às ações pastorais, com questionamentos pertinentes, como, por exemplo: de que maneira as pastorais podem superar os desafios da desigualdade social nos trabalhos realizados nas comunidades? Será que a Campanha da Fraternidade do ano de 2019, sobre Políticas Públicas, atenderá parte dos anseios sociais nas grandes metrópoles? Foram indagações colocadas para serem pensadas e repensadas, principalmente tendo no evento líderes pastorais das Dioceses e Arquidioceses e seus respectivos bispos. Diante desse momento questionador o que ficou perceptível é que muito ainda precisa ser pensado, articulado e realizado. É preciso sair da zona de conforto daquilo que se faz repetidamente e ousar mais.

Já no segundo dia do evento, 14 de novembro, na perspectiva do “julgar”, dentro do método “ver, julgar e agir”, os participantes da Assembleia ouviram atentamente as ponderações do padre Johan Konings sobre o tema “Uma Igreja em saída no mundo urbano: luzes a partir da Palavra de Deus”. Após ouvir alguns questionamentos dos participantes, com relação ao tema, Kinings discerniu sobre o assunto proposto e destacou que na atualidade só se pode realizar uma Igreja em Saída se pensarmos uma Teologia que olhe para o povo, que os mais necessitados sejam, de fato, enxergados. “Nós estamos precisando, cada vez mais, pensar uma teologia voltada para o povo, sem perder tempo fazendo teologia sobre a teologia. Devemos determinar bem nossa ótica, nossa visão para a periferia, e essa periferia não é um problema, como muitas pessoas insistem em acreditar. É preciso achar e praticar a ótica dos oprimidos, a opção preferencial pelos pobres. Colocar em pauta aquelas pessoas que se encontram nas desigualdades.” Alertou.

No período da tarde foi a vez de uma mesa redonda com o tema “Uma Igreja em saída: olhares teológicos”. A mesa foi composta pelo professor Osvaldo Manoel Corrêa, da PUC Minas, por dom Edson Oriolo, bispo auxiliar da Arquidiocese de BH, e pelo padre Geraldo De Mori, da Faculdade Jesuíta. Dom Edson, em sua fala, apresentou alguns questionamentos no que diz respeito aos cenários urbanos: como podemos olhar as cidades em nível profético? Como podemos ter um olhar teológico, eclesiológico e antropológico a respeito da ação evangelizadora na Igreja? Ele apresentou essas questões para pesarmos nos desafios que precisam ser superados. Também abordou importante discussão o professor Osvaldo Corrêa, que mencionou as redes sociais digitais como necessários meios para evangelizar. As redes sociais e a alta tecnologia atualmente nos permite grandes recursos para os trabalhos pastorais. Por isso, o professor relembrou que é importante saber evangelizar e formar novas lideranças frente às diversas redes, desafios e tendências. “Se buscarmos uma comunicação assertiva, se aprendermos a falar diretamente às pessoas, conseguiremos resultados positivos.” Comentou. Ainda sobre o campo da comunicação é preciso destacar a epidemia das Fake News, porém, segundo o professor Osvaldo Corrêa, falar do Evangelho, em sua natureza, é falar de Jesus, então não há espaço para notícias falsas. Dentro desse eixo do que se torna verdadeiro e falso na internet, também é imprescindível o cuidado com o mercado religioso. Muitas pessoas, inclusive presbíteros, aproveitam o espaço midiático das redes sociais para fazer sucesso com seus discursos, e detalhe: discursos carregados de fundamentalismos, exclusões e pouca ação evangelizadora. Muitas dessas pessoas se apropriam da imagem que geram nas redes, ganham muitos “likes”, muitos seguidores, e enquanto isso vão se tornando mais importantes do que a própria Igreja, ou até mais importantes do que o próprio evangelho. Com isso a sociedade vai se tornando dominada pelos radicalismos, pelos fundamentalismos, pelos extremismos. Pe. Geraldo De Mori, dando continuidade à mesa redonda, afirmou que ser essa Igreja em Saída que tantas pessoas falam hoje não é apenas andar pelas periferias sociais, mas, adentrar as periferias da existência humana.

Ainda no discurso gerado pela mesa redonda houve a participação dos que estavam presentes. Para complementar as ideias expostas um dos participantes, o Arcebispo Metropolitano de Belo Horizonte, dom Walmor Oliveira de Azevedo, falou que devemos sempre ser aprendizes da Cultura Urbana e para isso precisamos de diálogos sem autoritarismos, sem fechamentos. “Para dar sequência ao processo evangelizador na Igreja precisamos de discursos mais formativos sobre inúmeras temáticas. Precisamos trabalhar unidos, vencendo ciúmes e vaidades, isso não nos leva a nada.” Destacou. Sobre a comunicação com o outro dom Walmor comentou: “Talvez estejamos sofrendo da síndrome da desconexão. Criei esse termo para dizer que estamos desconectados uns dos outros e precisamos reagir. Ficamos conectados apenas com nosso próprio mundo, com as nossas coisas, com nossas situações, e deixamos de nos aproximarmos mais.” Finalizou.

O terceiro e último dia da assembleia, 15 de novembro, foi de breve formação sobre a Campanha da Fraternidade do próximo ano, cujo tema será Fraternidade e Políticas Públicas. A palestra foi assessorada pelo Pe. Nelito Dornelas, da Diocese de Governador Valadares e Pe Patriky Batista, da Diocese de Luz. De acordo com o Pe. Patriky, o objetivo principal da campanha para o próximo ano é a sensibilização de toda comunidade católica sobre a importância e pertinência da elaboração de políticas públicas. “É a oportunidade ideal para o resgate das pastorais sociais e para colocar em prática aquilo que a Doutrina Social da Igreja nos solicita”, afirmou.

A história de como as políticas públicas surgiram e foram implantadas na Igreja foi contada pelo Pe. Nelito Dornelas. Segundo o padre, quando falamos da Campanha da Fraternidade e de Políticas Públicas citamos uma experiência que a Igreja Católica acumula há dois séculos. “As pastorais sociais nasceram nos anos 1970 provocada por um processo de desmonte do Brasil, e hoje são 26 pastorais sociais que ajudam e muito as políticas públicas”, esclareceu. “Isso nos mostra que são três níveis que trabalham essa questão, sendo o Estado, o mercado e a sociedade civil, por isso é relevante levar reflexões sobre esse tema para a comunidade”, completou Pe. Nelito.

O evento deste ano contou com a presença de 140 pessoas, que acompanharam as reflexões sobre os desafios e esperanças da Igreja frente ao mundo urbano. Para a leiga Leici Conceição do Nascimento, participar da assembleia é motivo de alegria. “Foi uma oportunidade de conviver com bispos, padres, representantes de presbíteros, o que nos ajuda a nos aproximar mais da Igreja que me auxilia na execução do meu trabalho diariamente”, contou.

Por Janaína Gonçalves

Observatório da Evangelização

Fotos/informações: Pascom Nacional/CNBB e site Regional Leste 2/CNBB