Taizé: uma experiência de vida

  • O que tem de especial nessa comunidade ecumênica fundada na França pelo irmão Roger em 1940?
  • Qual o segredo para atrair tantos jovens de distintas confissões religiosas e até quem não pertença a nenhuma?

Antes de tentar responder a esses questionamentos quero partilhar como cheguei nessa colina e como no evangelho faço a experiência de “vinde e vede” e assim conhecer essa aventura divina chamada Taizé.

 

Minha experiência em Taizé

Em 2017, fui convidado pelo setor Universidades da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) para fazer uma experiência de três meses, como voluntário, na comunidade Taizé na França. Eu trabalhava na Pastoral Universitária da PUC Minas, obtive licença e tinha acabado de concluir a graduação em psicologia.

Era minha primeira viagem para fora do Brasil e sozinho. Ao chegar em Taizé, vivi uma experiência que me deu o desejo de querer ali voltar: ao entrar na igrejinha onde a comunidade se iniciou, uma paz enorme e uma alegria intensa me invadiram. Nunca tinha estado tão longe de casa, no entanto me sentia tão à vontade para ser eu mesmo com a fé que trazia que uma certeza permaneceu em meu coração no final dos três meses: aqui eu quero voltar!

A oração de Taizé

A realidade da oração é simples e profunda. Três vezes por dia, pela manhã, ao meio dia e à noite, ao som dos sinos, todos são convidados e atraídos para a oração, irmãos, voluntários e visitantes. Na igreja da reconciliação não há bancos. Não por questões decorativas ou para sinalizar algo, como alguém poderia pensar. O motivo é simples: se acomodando no chão cabem mais pessoas. Mas para quem desejar sentar-se em um pequeno banco individual, há sempre alguns disponíveis onde estão os irmãos.

Os cantos nas orações em Taizé são tão conhecidos, que não há quem não conheça algum ou tenha uma ideia, ainda que vaga sobre sua origem. Isso porque são cantos meditativos, compostos de forma simples, cantos compostos por palavras da Bíblia, dos salmos, dos escritos de Santa Teresa de Ávila, São João da cruz. São cantos para rezar, para levar as pessoas a adentrar no mistério da oração. A repetição coloca em comunhão o coração e a alma em Deus. É uma liturgia simples, bela, revelando o amor e a presença de Cristo. Não necessita de enfeites e discursos. É permeada pela simplicidade e silêncio, por isso encanta quem dela participa. Há semanas com mais de 4 mil pessoas, em sua maioria jovens.

Em Taizé, não há bateria, guitarras e nem show de luzes, a não ser a luz serena das lâmpadas artificiais misturadas com a luz das velas. E em especial, no sábado à noite, quando tem a oração da luz e a igreja fica completamente iluminada. A mística do tríduo pascal é celebrada todo final de semana pela comunidade, com a oração da cruz na sexta, oração da luz no sábado e celebração eucarística no domingo.

Experiência oferecida aos jovens

São tantos jovens, tantos rostos e de tantos lugares, eu também queria entender, e na pele vivi a experiência de está em um lugar onde podia ser escutado, ser olhado nos olhos e sentir-se acolhido. Há um amor e confiança que faz pulsar vida neste lugar.

Todos tem algum trabalho voluntário, seja lavar os pratos, preparar a comida ou participar da limpeza. Não há interesse por parte da comunidade que você se converta, que siga esta ou aquela confissão religiosa, que faça parte da comunidade. Há somente o convite para que experimente uma vida de oração e uma vida em comum. Não é este, basicamente, o núcleo essencial da experiência cristã?

 

Irmão Roger, o fundador da comunidade

Você pode então se perguntar qual era a religião do irmão Roger, o fundador da comunidade Taizé. Se ele era católico ou protestante? Sem hesitar, respondo que foi um homem reconciliado, como ele mesmo disse. Ele encontrou sua identidade cristã reconciliando em si mesmo o mistério da fé protestante com o mistério da fé católica, sem necessidade de romper com nenhuma delas. Ao contrario, criou profunda comunhão entre elas.

As divisões impedem que o evangelho se irradie, e em Taizé é luminoso justamente pela comunidade buscar viver os dons que as igrejas possuem. Não é uma vivência de tolerância, mas de respeito, onde a confiança e amor ocupam o centro. Há uma abertura para acolher o outro, e essa abertura alarga a própria fé. O amor ao próximo independente da pertença religiosa ou ideológica.

 

A experiência de fé vivida em Taizé

Por ocasião do fim de semana em que a comunidade acolheu um encontro entre jovens cristãos e mulçumanos, o irmão Alois em sua reflexão disse que “falar sobre fraternidade é possível porque acreditamos que Deus é um pai para todos os seres humanos e para nós cristãos através da vida, morte e ressureição de Jesus que descobrimos este incondicional amor de Deus. Fazer crescer a fraternidade e amizade implica o respeito à diferença do outro. Para um diálogo inter-religioso autêntico é necessário uma distância respeitosa que nos leve a evitar a forçar o outro a pensar como nós.”

 

O grande segredo de Taizé

Mas então, o que tem de especial neste lugar? A simplicidade, a alegria, a misericórdia, a confiança, a escuta e o convite ao outro a acreditar nas suas possibilidades, modos de ser e agir na vida que o seguimento de Jesus Cristo nos chama.

Em relação ao segredo para atrair tantos jovens de distintas confissões religiosas e até quem não pertença a nenhuma? Poderia dizer que vem dos encontros com culturas diferentes, as partilhas, a beleza dos cantos, o acolhimento dos irmãos, o trabalho voluntário, mas não, o segredo é tão simples e, ao mesmo tempo, profundamente exigente: coerência. Não há distância, separação entre o que a comunidade propõe e o que ela mesma e seus membros vivem. Isso dá testemunho sem que nenhuma palavra seja dita.  Alcança o coração das pessoas, em especial dos jovens, que buscam autenticidade de vida. Ao fazerem esta experiência, sentem-se animados e encorajados a serem autênticos também.

 

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Rafael Morais
Psicólogo formado na PUC Minas
Voluntário em Taizé – Bourgogne, Frace