Ao retomar as atividades acadêmicas do segundo semestre de 2018, o Instituto de Filosofia e Teologia Dom João Resende Costa (IFTDJ), da PUC Minas, em parceria com o Departamento de Ciência da Religião e o ANIMA (Sistema avançado de formação), contou com a presença do Prof. Dr. Pe. Gilles Routhier, teólogo e decano da Faculté de Theologie et de Sciences Religieuses da Université Laval.
O conferencista abordou a temática do Concílio Vaticano II na perspectiva do ontem, hoje e amanhã. Pensar o Concílio, diz o prof. Gilles Routhier, representa uma tomada de posição: “a passagem de uma Igreja europeia e ocidental para uma Igreja mundial, tendo a Igreja na América Latina ali se manifestado pela primeira vez.”
O Concílio não caiu do céu , mas está justamente na escrita da história. Neste horizonte qualquer Concílio se apresenta e aparece segundo alguns problemas e desafios da história. Assim, o Concílio não pertence ao ontem, mas ele diz de um caminho eclesial no qual, depois de mais de 50 anos, ainda apreciamos seu vigor e sua preciosidade na história.
Ao abordar o Concílio, reconhece-se a sua fecundidade e as potencialidades que ele lançou e que, desse modo, orientam a Igreja para o futuro. Ao orientar o hoje e o amanhã na vida da Igreja, consequentemente, influencia, de certo modo, a caminhada das sociedades marcadas pela fé cristã. O conferencista afirmou que o Concílio tem sua seiva própria e esta foi e é algo determinante na história da Igreja no ontem oferecendo contribuições no enfrentamento das urgências de nosso tempo e lançando recursos para enfrentar os desafios do amanhã.
O Concílio no ontem da Igreja…
Para compreender o significado do Concílio no passado recente de nossa Igreja é preciso revisitar e conhecer com profundidade o contexto em que ela vivia e no qual o Concílio foi convocado. Os desafios eram enormes e foram postos aos padres conciliares. Para ele, ilustra essa realidade, e muito bem, o discurso do Papa João XXIII. No mesmo horizonte dos desafios tem também lugar as indicações de Paulo VI no discurso de retomada dos trabalhos conciliares. O Concílio interrogava sobre a nova compreensão da antropologia, sobre a relação do homem com o mundo, da Igreja com a época moderna, a oposição da Igreja com o liberalismo radical, questões ligadas à tolerância religiosa, Igreja e mundo… A Igreja era desafiada também no aspecto da cultura social, racional e política.
Nesse complexo contexto, a Igreja deixou de ser vítima e passou a “agredir”, no sentido de não reconhecer e denunciar o que recebia o selo de moderno em detrimento do valor do que era considerado tradicional. Pio IX se opôs radicalmente à realidade moderna. Ele chegou a dizer em relação à teoria de Darwin, que, a mesma “tinha o dedo do demônio”. Durante décadas, todas as reflexões acerca da sociedade, foram consideradas inadequadas e até mesmo perigosas. A noção de sociedade perfeita atribuída à Igreja por Pio IX e Leão XIII sustentava uma compreensão de que ela não poderia estar sujeita a nenhum outro juízo. De modo que se pode afirmar que sem conhecer o contexto do século XIX não se compreende o Vaticano II.
O Concílio no hoje da Igreja…
Ao falar do Vaticano II hoje, sabe-se que foram colocados novos desafios aos padres conciliares tais como: a inserção da Igreja nas novas culturas, a relação com as novas religiões, o diálogo com a modernidade…
A Igreja da América Latina, em sua busca de receber o Concílio, concretizou em Medellín um novo modelo eclesial, uma novo jeito de viver a fé cristã inserida e respondendo aos desafios que emergem da realidade específica deste Continente.
O Vaticano II valoriza a unidade católica que permite a diversidade religiosa. Não há um libelo único nem na liturgia. O Vaticano II nos deixa a possibilidade de diálogo com as culturas. Ele oferece elementos, sublinha o prof. Routhier, para pensarmos o crescimento dos indiferentes à religião, o que não era possível antes.
O sonho de cristandade passa a ser passado. A Igreja não reúne todos os homens, mas ela faz o seu caminho até que todos os povos, as famílias sejam reunidas na cultura da paz. O sonho e a nostalgia de cristandade ainda persistem, mas ao compreender, de fato, as contribuições trazidas pelo Vaticano II, não é mais possível o retorno a um modelo de Igreja segundo esta configuração.
O Concílio no amanhã da Igreja…
E o Vaticano II no amanhã? Quais os desafios para a Igreja nos anos vindouros? O conferencista destacou dois desafios primários: o do pluralismo religioso e o da globalização da Igreja Católica no mundo.
Antes, comentou que o Vaticano II assumiu como principal desafio: o de anunciar o Evangelho a toda e qualquer pessoa. A globalização é um fato que se impôs como realidade. Ainda não aprendemos, disse o prof. Gilles, o que significa para nós cristãos investir no crescimento da consciência da pluralidade cultural. Uma Igreja que não está enraizada nas diversas culturas, não pode, de fato, evangelizá-las. Dai ser preciso, e o papa Francisco diz sempre isso nos meios de comunicação, revalorizar as Conferências Episcopais, recuperar a sinodalidade na dinâmica da vida da Igreja.
Para ele, o Vaticano II oferece elementos importantes para nos tornar capazes de viver a vida cristã em contexto de pluralismo religioso. A Igreja é chamada a ser sinal e não número. Poderemos ser numerosos, mas insignificantes, mas também, ao contrário, podemos ser pouco numerosos, mas relevantes e significativos pelo que testemunhamos para toda a humanidade. O desafio, portanto, é ser sinal, sinal que torna visível a beleza do Reino de Deus, concluiu o prof. Gilles Routhier.
Sobre o teólogo Gilles Routhier
O padre Gilles Routhier é um dos renomados especialistas na recepção e na hermenêutica do Concílio Vaticano II. Ele é professor na Universidade de Laval (Canadá), é doutor pelo Instituto Católico de Paris e pós-doutor pela Université Paris-Sorbonne (Paris IV). Pesquisa, principalmente, o Concílio Vaticano II, seus ensinamentos, história, hermenêutica e recepção. Ele publicou, dentre outros, em 2007, 40 ans après Vatican II: Espérer(Montreal, Novalis); Penser l’avenir de l’Église (Montréal, Fides, 2008); e coeditou em 2010, com Guy Jobin, L’Autorité et les autorités. L’herméneutique théologique de Vatican II (Cerf).
Pe. Joel Maria dos Santos
Vigário Episcopal para Ação Pastoral da Arquidiocese de Belo Horizonte
Membro da equipe do Centro de Geoprocessamento de informações e pesquisas pastorais e religiosas – CEGIPAR
Membro da equipe executiva do Observatório da Evangelização PUC Minas
O Concílio Vaticano II expressa a assistência do Espíeito Santo à Santa Igreja Católica Apostólica Romana!