Papa nomeia leigo como prefeito do Dicastério para a Comunicação

Pela primeira vez um leigo é nomeado prefeito de um dicastério do Vaticano

O papa Francisco, em decisão inédita, nomeou, nesta quinta-feira, dia 05/07/2018, um jornalista leigo como prefeito do estratégico Dicastério para a Comunicação do Vaticano, o organismo da Santa Sé responsável por definir as estratégias comunicativas da Igreja Católica. Pela primeira vez um leigo é escolhido pelo Papa para dirigir um dicastério em vez de um bispo ou cardeal.

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Paolo Ruffini e papa Francisco. Foto: Vatican News

Trata-se de Paolo Ruffini, 61 anos, casado, formado em Direito, pela Universidade La Sapienza de Roma e jornalista profissional. Ele era, até então, o diretor da TV2000, a rede de televisão da Conferência Episcopal Italiana.

 

Do secretário para a comunicação monsenhor Dario Viganò ao prefeito do Discatério para a Comunicação

Paolo Ruffini sucede ao monsenhor Dario Viganò, o primeiro prefeito deste Dicastério criado pelo papa Francisco em 2015. Dario se demitiu em março depois da polêmica em volta da publicação de uma carta do papa emérito Bento XVI sobre o papa Francisco — um escândalo que ficou conhecido como “Lettergate”. Nesta ocasião foi publicada uma série de livros sobre a formação teológica do papa Francisco. Bento XVI não esteve presente na apresentação, mas enviou uma carta sublinhando que a iniciativa contradizia “preconceitos tontos daqueles que acham que falta ao papa Francisco uma particular formação teológica e filosófica”, enquanto ele próprio teria sido “apenas um teórico da teologia, com pouca compreensão da vida concreta das vidas dos cristãos hoje”. Acontece que somente uma parte da carta foi mostrada, o que gerou questionamentos sobre seu conteúdo integral. Para acabar com a polêmica, o Vaticano publicou a carta na íntegra. No texto completo, havia parágrafos em que o Papa emérito exprimia a sua surpresa por estar entre os autores da coleção “Teologia do papa Francisco” o teólogo Peter Hunermann, que durante o seu pontificado “se distinguiu por ter liderado iniciativas anti-papais”. Bento XVI assinala que este teólogo alemão atacou “de forma virulenta” a encíclica “Veratis Splendor”, de João Paulo II, e a “autoridade magistral do Papa em particular sobre a teologia moral”, para além de citar outros casos.

Francisco aceitou o pedido de demissão de Dário Viganò, mas pediu que ele ficasse como conselheiro nesta “fase final” da reforma da Igreja. O Discatério para a Comunicação do Vaticano foi criado em 27 de junho de 2015, como um dos pilares da reforma da Cúria. O Motu Proprio através do qual foi instituída afirma que

o atual contexto comunicativo, caracterizado pela presença e pelo desenvolvimento dos meios de comunicação digitais, pelos fatores da convergência e da interatividade, exige uma revisão do sistema informativo da Santa Sé”.

A nomeação de um leigo para um cargo de chefia de um dicastério da Cúria Romana é mais uma inovação do papa Francisco em seu projeto de reforma da Igreja Católica.

 

Dicastérios, Congregações e Conselhos Pontifícios

Os dicastérios estão para o Papa como os ministérios estão para um chefe de governo. São organismos dedicados a colaborar com o governo da Igreja universal em áreas específicas. Antes da reforma da Cúria Romana, ainda em curso, os dicastérios se dividiam principalmente em congregações (de maior status, chefiadas por “prefeitos”, geralmente cardeais) e conselhos pontifícios (de status menor, chefiados por “presidentes”, geralmente arcebispos).

O papa Francisco tem instituído novos dicastérios, chamados agora simplesmente de “dicastérios” – um termo antes usado apenas de forma genérica e não no nome oficial dos organismos. Faz parte desse processo a instituição do Dicastério para os Leigos, a Família e a Vida (originado da fusão dos Pontifícios Conselhos para a Família e para os Leigos) e do Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral (originado da fusão dos Pontifícios Conselhos para a Pastoral dos Migrantes e Itinerantes, para a Pastoral no Campo da Saúde, Justiça e Paz e Cor Unum), em 2016.

Há 12 dias, Francisco renomeou a Secretaria para a Comunicação, instituída em 2015, como Dicastério para a Comunicação, elevando o seu status curial. O Dicastério para a Comunicação é responsável, entre outras coisas, pela Sala de Imprensa da Santa Sé, pelo Vatican Media, pela Livraria Editora Vaticana, pelo Vatican News, pela conta de Francisco no Twitter e no Instagram e pelo site da Santa Sé.

Antes de Ruffini, na Cúria Romana, o único tipo de organismo ter leigos no comando eram as academias pontifícias. Atualmente, as Pontifícias Academias das Ciências, das Ciências Sociais e de Arqueologia são presididas por leigos – respectivamente, Joachim von Braun (um luterano), Margaret Archer e Marco Buonocore.

Edward Guimarães

Secretário Executivo do Observatório da Evangelização