“Francisco traz-nos o enlace da utopia: a “linguagem do coração”. Esta que, pelo afeto, reúne; pela necessidade de cada um, organiza; e, em busca do bem comum, luta.”
Um novo jeito de os jovens serem “Igreja em Saída” no meio dos pobres. Scholas Ocurrentes, o projeto do papa Francisco que atualiza a experiência das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs)
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Leia artigo-testemunho de Eduardo Brasileiro, membro da IPDM (Igreja Povo de Deus em Movimento), educador social do Centro Social Nossa Senhora do Bom Parto, e participante do 3º Encontro Internacional de Jovens animado pelo Papa Francisco e organizado pela Fundação de Direito Pontifício Scholas Ocurrentes entre 6 e 11 de maio de 2018 em Roma:
Desde 1990, Francisco, ainda Cardeal de Buenos Aires, iniciou um projeto chamados ‘Scholas de Ciudadania’ onde desenvolveu uma experiência comunitária de engajamento popular nas causas comuns. Naquela época realizou encontros ecumênicos, oficinas para jovens, ações comunitárias, convivências compartilhadas.
Quando eleito Papa, criou uma fundação de direito pontifício chamada “Scholas Ocurrentes” (escolas dos encontros), onde ampliava o projeto de Buenos Aires, numa dimensão global de formação cidadã para jovens com engajamento em suas comunidades.
Entre os dias 6 e 11 de maio de 2018, uma delegação de três pessoas participou em nome da IPDM (Igreja – Povo de Deus – em Movimento) do 3º Encontro Internacional de Jovens promovido por Scholas com o tema “A linguagem do coração” onde se desenvolvia por meio do pensamento, da arte e do jogo a troca de processos de transformação política. Fomos Thaynah Gutierrez, Luis Carlos Mendonça e eu pela IPDM, com apoio do Instituto Casa Comum. Veja abaixo um vídeo curtinho que fizemos lá em Roma:
Essa proposta defronta-se com o momento político global: milhares de pessoas feridas pelo medo, motor da indiferença e da incredulidade em relação a qualquer alternativa comunitária de combate a um mundo militarizado. Somos cozinhados em banho-maria pelos meios midiáticos que são promotores deste mundo doente sob um discurso de “justiça”, “mérito” e “competição”. É uma realidade cruel de distopia, onde o medo é gerido numa guerra civil contínua, que precisa ser superada.
Francisco traz-nos o enlace da utopia: a “linguagem do coração”. Esta que, pelo afeto, reúne; pela necessidade de cada um, organiza; e, em busca do bem comum, luta.
A experiência de reunir jovens de dezenas de países foi justamente para que pudéssemos perceber essas alternativas através da partilha de expressões positivas dos povos em suas comunidades. No centro da metodologia esteve o encontro cultural de diversos países, a partir do pensamento da arte e do jogo. É a base do projeto de uma Igreja franciscana, que gesta a dimensão comunitária-política, que exige a criatividade para superação de entraves e de construção por meio de jogos/brincadeiras que concretizem fortalecimento de laços.
A experiência do diálogo entre as culturas, a convivência mística dos sonhos de cada um dos indivíduos culminou com a celebração final de todos os jovens com Francisco. O tema foi “A beleza salvará o mundo”, inspirado no russo Fiodor Dostoiévski. Saímos nutridos e nutridas pelo desejo de criar estruturas comuns de gestão do poder na produção do encanto, da beleza!
Francisco entende que é urgente que as juventudes retomem o caminho histórico de organização popular: “vocês precisam estar com um pé na raiz e outro lá fora”, ele nos disse. E, para animar-nos finalizou dizendo: “não tenham medo de sonhar acordado, arrisquem!”.
Foi assim que nosso papa encerrou o Encontro Internacional de Jovens, entregando-nos a missão de sermos articuladores de suas comunidades entendendo um projeto global, gestando utopias possíveis! Vimo-nos como mensageiros e mensageiras da Boa Nova, capazes de atualizar a experiência essencial das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs), fundantes da Igreja na América Latina e nas quebradas do mundo no século 20.
Os dias que passamos no encontro serviram de alerta. É hora de as pastorais juvenis, movimentos católicos e de outras confissões e dos leigos e leigas reconhecerem a fragilidade de suas organizações diante da barbárie que amedronta o povo oprimido, mantendo-o paralisado, sem protagonismo.
A ousadia de Francisco inspira nossas futuras ações políticas, produzindo nas comunidades ambientes onde se sonhem revolucionariamente outras sociedades possíveis. Caminho do Reino de Deus.
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