Amazônia: novos caminhos para a igreja e para uma ecologia integral
Foram dois dias de intensos trabalhos para o papa, Conselho e assessores que contribuem na preparação do encontro que irá refletir sobre a evangelização na panamazônia e a ecologia integral.
Aconteceu em Roma, a primeira reunião de preparação do Sínodo para a Amazônia. Durante dois dias (11 e 12/04), o papa Francisco, juntamente com o conselho pré-sinodal e uma equipe de assessores trabalharam no documento que servirá de base para as reuniões, reflexões e escuta dos povos da Amazônia no caminho até o Sínodo. O texto apresentado pelos especialistas foi aprovado pelo grupo reunido.
A REPAM esteve presente no encontro por meio de seus membros, entre eles bispos, religiosos e leigos. Levar para a equipe de preparação as vozes, os clamores, as esperanças e as experiências dos povos amazônicos foi a principal tarefa desse grupo. Márcia Oliveira, leiga e assessora da REPAM-Brasil participou da elaboração do documento que foi apresentado durante a reunião. Para ela, foi uma surpresa a acolhida e abertura do Conselho para as questões que foram levadas.
“Eu tinha uma expectativa totalmente equivocada, com relação à receptividade do nosso trabalho, da nossa contribuição mais teórica, e fui surpreendida de maneira positiva, no sentido das ideias, das propostas, das análises que nós fizemos, por parte de pessoas que também são especialistas na área, mas que acolheram com bastante abertura e diálogo aquilo que nós trouxemos desde a Amazônia para contribuir nesse documento do pré-sínodo”, afirmou Márcia.
Os dois dias de trabalho foram divididos em quatro sessões. No final da tarde desta sexta-feira, 13/04/2018, a equipe reunida conseguiu concluir as discussões e aprovar o documento. Para Dom Neri José Tondello, bispo da diocese de Juína/MT e membro da REPAM, o resultado da reunião significa um grande passo nos preparativos do Sínodo.
“Nós avançamos bastante e aprovamos o texto para ser depois publicado, mais adiante, com a orientação para escutar as comunidades da Amazônia, principalmente os povos indígenas, os ribeirinhos, os povos que constituem essa porção do povo de Deus. É uma alegria imensa chegarmos a esse momento”, enfatizou o bispo.
O papa Francisco esteve presente durante toda a reunião. Porém, como destaca Dom Erwin, prelado emérito do Xingu e membro da REPAM-Brasil, de forma silenciosa.
“O que me impressionou demais foi a presença do papa, silencioso. Ele só falou no final. Ele disse que veio simplesmente para ouvir, escutar. Então nós experimentamos e vimos um papa ouvinte, não apenas falante”, destacou Dom Erwin.
Ir. Irene Lopes, secretária executiva da REPAM-Brasil e delegada da Confederação Latino-Americana e Caribenha de Religiosos e Religiosas (CLAR) para o Conselho do Sínodo, apontou a alegria do papa na preparação do encontro para a Amazônia.
“Nós ficamos encantados de vê-lo sempre sorrindo. Ele me disse que tem sido uma alegria muito grande a preparação desse Sínodo, o que nos enche de orgulho de perceber o tanto que ele está empenhado em fazer acontecer esse Sínodo”, enfatizou a religiosa.
Único indígena presente na reunião, padre Justino Rezende, disse ser esse momento muito importante para a sua vida pessoal e vocacional. Justino está ansioso para que as comunidades tenham acesso ao documento e possam contribuir com o Sínodo.
“Eu estou bastante ansioso para ver como as comunidades vão trabalhar esses temas e, com certeza, elas estão esperando para contribuir com todos os saberes, experiências, práticas pastorais, que para cá (na Europa) não se conhece. Virão muitas coisas boas que irão enobrecer e enriquecer a nossa Igreja.”, destacou o padre.
De acordo com Justino, é papel da equipe presente em Roma levar para as comunidades da Amazônia a alegria e o espírito que congregou o grupo de trabalho para o Sínodo.
“Nós, como assessores, estamos aqui ouvindo dos bispos e do próprio papa para levar essa mensagem de alegria e esperança e dizer para todos que temos um caminho aberto para novas coisas que virão da nossa Amazônia. É o Espírito Santo que irá iluminar. E, como o papa Francisco disse, entreguemos nossos trabalhos nas mãos de Deus”, finalizou.
O Sínodo para Amazônia foi convocado pelo papa Francisco em outubro do ano passado. “Amazônia: novos caminhos para a Igreja e por uma ecologia integral” é o título do encontro que será realizado em outubro de 2019. Segundo papa Francisco, um dos objetivos do Sínodo é “identificar novos caminhos para a evangelização daquela parte do Povo de Deus, especialmente os indígenas, muitas vezes esquecidos e sem perspectiva de um futuro sereno”. Uma equipe foi nomeada para organizar os trabalhos desse grande encontro e membros da REPAM fazem parte.
Confira alguns depoimentos dos brasileiros que participaram da reunião:
Márcia Oliveira, leiga, assessora da REPAM-Brasil
“Esse trabalho foi um dos mais exigentes dos últimos tempos, mas com um resultado muito positivo. Eu tinha uma expectativa totalmente equivocada, com relação à receptividade do nosso trabalho, da nossa contribuição mais teórica, e fui surpreendida de maneira positiva, no sentido das ideias, das propostas, das análises que nós fizemos, por parte de pessoas que também são especialistas na área, mas que acolheram com bastante abertura e diálogo aquilo que nós trouxemos, desde a Amazônia, para contribuir nesse documento do pré-Sínodo. Acho que é um instrumento de trabalho muito importante que virá contribuir bastante com a Igreja. Para mim, uma questão que fica muito forte é ser a única mulher da equipe, de conseguir ser ouvida e ser acolhida a partir do conhecimento, mas, também, da condição de ser mulher e como leiga. Me parece que essa foi uma contribuição importante, que de fato traz presente também essas dimensões da Igreja: uma Igreja que também tem uma contribuição, um papel importante dos leigos, no sentido de ajudar a pensar os caminhos e as propostas para ela. Para mim foi uma experiência fantástica de poder compartilhar e contribuir nesse processo.”
Dom Neri José Tondello, Bispo de Juína/MT
Com a presença do papa Francisco, nós avançamos bastante e aprovamos o texto para ser depois publicado, mais adiante, com a orientação para escutar as comunidades da Amazônia, principalmente os povos indígenas, os ribeirinhos, os povos que constituem essa porção do povo de Deus. É uma alegria imensa chegarmos a esse momento, de termos concluído os trabalhos dessa primeira etapa, digamos, que nos prepara para aprofundar e preparar o Sínodo que vai acontecer no ano que vem, no mês de outubro. Grato a todos, Deus abençoe o Sínodo, abençoe os que estão trabalhando.
Dom Erwin Krautler, prelado emérito do Xingu/PA
Foi uma experiência ímpar e agradeço a Deus por poder participar desse evento. Foi uma sintonia impressionante entre os participantes. O que me impressionou demais foi a presença do papa, silencioso. Ele só falou no final. Ele disse que veio simplesmente para ouvir, escutar. Então nós experimentamos e vimos um papa ouvinte, não apenas falante. O documento que elaboramos vai ser guia para as nossas reuniões, nossos encontros, para aprofundar todos esses temas. Eu estou muito feliz com o resultado que alcançamos, cada um podia dizer o que achava. O Cardeal Baldissere me impressionou também, pela abertura e pela facilidade com que a gente podia relacionar os diversos temas.
Padre Justino Rezende, assessor da REPAM
Minha experiência aqui, nessa assembleia pré-sinodal foi muito importante para mim, para a minha vida pessoal, para a minha vida de religioso e de padre. Experimentar a abertura dos bispos, dos assessores e principalmente do papa Francisco, que estava presente com o coração muito aberto, como ele mesmo disse, para ouvir, escutar e sentir com o coração aquilo que nós estamos sonhando como Igreja Católica para a Amazônia. Eu estou bastante ansioso para ver como as comunidades vão trabalhar esses temas e, com certeza, eles estão esperando para contribuir com todos os saberes, experiências, práticas pastorais, que para cá (Europa) não se conhece, mas virão muitas coisas boas que irão enobrecer e enriquecer a nossa Igreja. E nós, como assessores, estamos aqui ouvindo dos bispos e do próprio papa para levar essa mensagem de alegria e esperança e dizer para todos que temos um caminho aberto para novas coisas que virão da nossa Amazônia. É o Espirito Santo que irá iluminar. E como o papa Francisco disse, entreguemos nossos trabalhos nas mãos de Deus.
Aprovado documento de trabalho do Sínodo para a Amazônia
O Documento Preparatório do Sínodo para a Amazônia foi apresentado pela Rede Eclesial Pan-Amazônica (REPAM), juntamente com a Comissão Episcopal para a Amazônia, instituições parceiras e pastorais para divulgar o material que já está disponível.
Dom Leonardo Steiner, secretário-geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), presidiu a celebração de abertura do evento na sexta-feira, 8 de junho de 2018, no auditório da CNBB, em Brasília e em seguida falou da importância da realização do Sínodo para a Amazônia. Para ele, é vital que seja realizada essa Assembleia Sinodal, já que a realidade da Amazônia é de sofrimento.
“Realidade sofrida significa os povos estão sofridos, e não apenas os indígenas, mas os ribeirinhos, os povos que vivem do extrativismo, grupos isolados que não têm contato com os brancos”, lembrou Dom Leonardo. “É muito importante a Igreja refletir essa realidade, e, por isso, o papa está chamando para Roma”, destacou o secretário-geral da CNBB.
Amazônia: novos caminhos para a igreja e para uma ecologia integral é o tema do Sínodo que será realizado em outubro do ano que vem, mas que, de acordo com papa Francisco, em janeiro desse ano, na visita ao Peru, em Porto Maldonado, já iniciou.
Irmã Maria Irene Lopes, assessora da Comissão Episcopal para a Amazônia, secretária executiva da REPAM-Brasil, Delegada da Confederação Latino-Americana e Caribenha de Religiosos e Religiosas (CLAR) na Comissão Preparatória do Sínodo e única mulher da equipe, apresentou o Documento e os passos que serão realizados a partir de agora.
“O material tem três fases, o ver, o discernir e o agir, e nos propõe a fazer isso a partir da Amazônia, das pessoas que estão lá”, frisou irmã Irene.
O objetivo do material é preparar as comunidades para o Sínodo e ouvi-las, para que essa grande assembleia repercuta, de fato, os clamores que saem das bases, o que é um desejo expresso do papa Francisco. De acordo com a religiosa o material precisa chegar a todas as pessoas do território amazônico para contribuírem no processo.
“O Documento será utilizado nas assembleias territoriais, realizaremos cerca de 40 ao longo dos próximos meses, e esse momento será de escuta das bases: os indígenas, os quilombolas, os ribeirinhos, as pessoas das cidades, os jovens… esse documento vai para as mãos das pessoas que estão na Amazônia”, reforçou irmã Irene.
Após esse período de escuta, os questionários serão retomados pela equipe de assessores, sintetizados e transformados no Documento de Trabalho, que deverá ser encaminhado aos participantes do Sínodo.
Documento preparatório
O material foi construído por uma equipe de assessores e foi aprovado pelo Vaticano, em abril desse ano, quando houve a primeira reunião do Conselho Pré-Sinodal. O Documento Preparatório é composto por um texto-base, que oferece uma análise da conjuntura atual da Amazônia e aponta percursos e novos caminhos para a Igreja a serviço da vida nesse bioma.
Dos 13 expertos que auxiliaram na escrita do Documento Preparatório, 3 são brasileiros e membros da REPAM-Brasil. O texto está dividido em três partes, segundo o método ver,discernir e agir. Ao final do material estão algumas questões que permitem um diálogo e uma progressiva aproximação da realidade para que as populações da Amazônia sejam ouvidas.
A primeira parte, o VER, é um convite a olhar a identidade e os clamores da Pan-Amazônia. Território, diversidade sociocultural, identidade dos povos indígenas, memória histórica eclesial, justiça e direitos dos povos, espiritualidade e sabedoria, são os pontos apresentados nessa parte do texto. Segundo o documento preparatório,
“em sua história missionária, a Amazônia tem sido lugar de testemunho concreto de estar na cruz, inclusive, muitas vezes, lugar de martírio. A Igreja também aprendeu que neste território, habitado por mais de 10 mil anos por uma grande diversidade de povos, suas culturas se construíram em harmonia com o meio ambiente”.
A segunda parte, o DISCERNIR, é o que ilumina as reflexões para uma conversão pastoral e ecológica. O anúncio do Evangelho de Jesus na Amazônia é apresentado a partir das dimensões bíblico-teológica, social, ecológica, sacramental e eclesial-missionária.
“Hoje o grito da Amazônia ao Criador é semelhante ao grito do povo de Deus no Egito (cf. Ex 3,7). É um grito de escravidão e abandono, que clama pela liberdade e o cuidado de Deus. É um grito que anseia pela presença de Deus, especialmente quando os povos amazônicos, por defender suas terras, são criminalizados por parte das autoridades; ou quando são testemunhas da destruição do bosque tropical, que constitui seu habitat milenar; ou, ainda, quando as águas de seus rios se enchem de espécies mortas no lugar de estarem plenas de vida”, afirma o texto de preparação.
Por fim, o documento, na última parte, provoca a ação, a AGIR: novos caminhos para uma Igreja com rosto amazônico. O texto reflete o que seria esse rosto, a dimensão profética, os ministérios e os novos caminhos.
“No processo de pensar uma Igreja com rosto amazônico, sonhamos com os pés fincados na terra de nossos ancestrais e com os olhos abertos pensamos como será essa Igreja a partir da vivência da diversidade cultural dos povos. Os novos caminhos terão uma incidência nos ministérios, na liturgia e na teologia (teologia indígena)”, destaca o texto.
Após as reflexões realizadas pelo documento, uma série de questões são apresentadas para contribuir com a escuta das realidades da Pan-Amazônia. O questionário está dividido, metodologicamente, de acordo com as partes do documento para facilitar os trabalhos que serão realizados pelas comunidades e grupos que responderão as perguntas.
O documento preparatório termina com as palavras de Francisco em Porto Maldonado, no momento em que abre, oficialmente, o Sínodo especial para a Amazônia:
“Ajudai os vossos Bispos, ajudai os vossos missionários e as vossas missionárias a fazerem-se um só convosco e assim, dialogando com todos, podeis plasmar uma Igreja com rosto amazônico e uma Igreja com rosto indígena. Com esse espírito, convoquei um Sínodo para a Amazônia no ano de 2019”.
Sínodo para a Amazônia
O Sínodo para Amazônia foi uma resposta do Papa Francisco à realidade da Pan-Amazônia. De acordo com Francisco,
“o objetivo principal desta convocação é identificar novos caminhos para a evangelização daquela porção do Povo de Deus, especialmente dos indígenas, frequentemente esquecidos e sem perspectivas de um futuro sereno, também por causa da crise da Floresta Amazônica, pulmão de capital importância para nosso planeta. Que os novos Santos intercedam por este evento eclesial para que, no respeito da beleza da Criação, todos os povos da terra louvem a Deus, Senhor do universo, e por Ele iluminados, percorram caminhos de justiça e de paz”.
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