Igreja Episcopal Anglicana do Brasil toma decisão histórica, no Sínodo Geral de 31/05 a 03/06/2018: aprova a celebração matrimonial, portanto, o caráter sacramental casamento civil, reconhecido no Brasil desde 2012, entre pessoas do mesmo sexo.
IEAB emenda cânones e permite o matrimônio entre pessoas do mesmo sexo
Num momento histórico, a Igreja Episcopal Anglicana do Brasil (IEAB) votou a favor de estender o matrimônio a casais do mesmo sexo por uma grande maioria de votos – 57 a favor, 3 contra e 2 abstenções. Esta é a terceira vez que o assunto é trazido à consideração do Sínodo Geral – que este ano começou no dia 31 de maio e segue até o dia 3 de junho, com diversas atividades.
A mudança canônica foi aprovada num ambiente pleno do Espírito Santo, amor mútuo e respeito. Foi precedida por um diálogo longo, profundo e espiritual. Esse diálogo formalmente iniciou em 1997, embora tenha um histórico informal muito mais antigo. Atingiu toda a província desde então, através da metodologia indaba, conferências, consultas, orações e publicações bíblico-teológicas.
Segundo o teólogo Daniel Sousa, o cânone reformulado e aprovado ficou assim:
Art. 185 – o matrimônio cristão é um pacto solene e público de uma união espiritual e física entre duas pessoas, independente do gênero e orientação sexual, na presença de Deus, celebrado diante da comunidade de fé, por consentimento mútuo e íntimo e com a intenção de que seja por toda a vida.
O Serviço Anglicano de Diaconia e Desenvolvimento (SADD) e o Centro de Estudos Anglicanos (CEA) receberam a comissão do Sínodo Geral de 2013 (o primeiro a receber tal pauta formalmente) de modo a aprofundar o diálogo entre as dioceses da província. É digno de nota que o casamento civil entre pessoas do mesmo sexo é legal no Brasil inteiro desde 2012.
Recebemos representantes internacionais como o Primaz da Igreja Episcopal Escocesa, Bispo Mark Strange, e da Bispa Linda Nichols, da Diocese de Huron (Igreja Anglicana do Canadá). Ambos partilharam com o Sínodo Geral suas experiências provinciais relativas ao tema.
Reafirmamos nosso compromisso com o Evangelho de Jesus e a pertença à Família Global Anglicana, à medida que buscamos continuar a caminhar conjuntamente com aquelas pessoas de quem discordamos e responder aos desafios à nossa frente, dentro de nossos contextos.
“Senti a decisão como resultado da presença e trabalho do Espírito Santo. Isso amplia nossas fronteiras, permitindo que nós possamos ser mais acolhedoras(es) à diversidade no nosso país”, disse o Primaz do Brasil, Bispo Francisco de Assis da Silva.
O Secretário Geral da IEAB, Rev. Arthur Cavalcante, deu seu testemunho ao Serviço de Notícias:
“Como membro da comunidade LGBT, acompanhei esse debate desde seu início, primeiramente como leigo e depois como clérigo ordenado. Senti na pele a discriminação e a perseguição quando me assumi na Diocese do Recife, e vi colegas terem lutas similares. Algumas pessoas deixaram a Igreja, outras perderam fé nas suas estruturas. Quando fui escolhido Secretário Geral em 2011, a Igreja estava ciente de minha orientação sexual e do fato de que estava em união estável com meu companheiro, Dr. David Morales. Isso não foi impedimento a tal função crucial. Em 2016, tivemos um sínodo extraordinário de modo a discutir nossos cânones como um todo. A discussão acerca do Santo Matrimônio foi muito desafiadora porque convidou a Igreja a falar sobre o tema mais abertamente. Permitiu às dioceses participar de discussões aprofundadas num tópico que não tinha sido plenamente debatido em todas as partes da Igreja até então. Sinto-me orgulhoso em testemunhar esse dia histórico para a Igreja brasileira, que é também o dia em que celebramos o 128º aniversário de sua fundação pelos nossos pioneiros e pioneiras. Nos posicionamos como um farol num momento em que este país (e o mundo) encontram tamanhas dificuldades, como o fundamentalismo religioso e as intolerâncias. Termino meu mandato como secretário geral plenamente realizado.”
Não serão necessárias mudanças litúrgicas, visto que o rito matrimonial do Livro de Oração Comum de 2015 foi adequado à neutralidade de gênero e deverá ser usado para a celebração do matrimônio entre duas pessoas de quaisquer gêneros.
Fonte: IEAB
Foto: Reprodução
“O Senhor Deus disse: ‘Não é bom que o homem esteja só; vou dar-lhe uma ajuda que lhe seja adequada’ .” (Gênesis 2,18). “Por isso o homem deixa seu pai e sua mãe para se unir à sua mulher; e já não são mais que uma só carne” (IGênesis 2,24). “Deus criou o homem à sua imagem ; criou-o à imagem de Deus, criou o homem e a mulher. Deus os abençoou: “Frutificai, disse Ele,, e multiplicai-vos, enchei a Terra e submetei-a”( Gen 1,27-28 ). Não entendo como uma Igreja Cristã possa tomar tal atitude totalmente contra a orientação de Deus. “Por isso Deus os entregou às suas paixões vergonhosas: as suas mulheres mudaram as relações naturais em relações contra a natureza. Do mesmo modo também os homens , deixando o uso natural da mulher, arderam em desejos uns para com os outros, cometendo homens com homens a torpeza, e recebendo em seus corpos a paga devida ao seu desvario. Como não se preocupassem em adquirir o conhecimento de Deus, Deus entregou-os aos sentimentos depravados, e dai o seu procedimento indigno…Apesar de conhecerem o justo decreto de Deus que considera dignos de morte aqueles que fazem tais coisas, não somente as praticam, como também aplaudem os que as cometem( Romanos 1, 26-32). Com base na Sagrada Escritura confesso que se este posicionamento fosse tomado pela Igreja Católica Apostólica Romana , à qual pertenço pelo Santo Batismo, seria forçada a me afastar, na esperança de que o Espírito Santo viesse ao seu socorro…