As experiências que marcaram a infância e as várias outras etapas na vida de Jorge Bergoglio, hoje o Papa Francisco, ajudam-nos a compreender as razões de suas atitudes e posturas como aquele que marca uma virada profética na vida da igreja. “Quanto mais soubermos sobre a sua vida, mais entendemos suas ações como Papa”, assim disse Dr. Austen Ivereigh – Catholic Voices – CV – Inglaterra, na manha do dia 23 de Maio no terceiro dia da realização do Simpósio: A virada profética de Francisco: possibilidades e limites para o futuro da Igreja no mundo contemporâneo.
Muitas experiências pelas quais Jorge Bergoglio passou em sua infância, nos ajudam a entender a focalização de sua atenção e a razão de seus discursos e, muito mais, de seus comportamentos e gestos. Aqui destacamos alguns dos momentos da vida de Jorge Bergoglio que o conferencista Dr. Austen destacou, dentre outros, como temas prioritários de Francisco tais como: a cultura do encontro, os desafios da polarização, o exílio em Córdoba e suas situações de desolações. Cada experiência vivida quando conhecida por nós, ajuda-nos a entender as razões pelas quais hoje, o Papa Francisco não só fala, mas busca agir noutra direção que não estamos acostumados a encontrar.
Uma das suas primeiras experiências marcantes, considerando seu contexto familiar, foram os momentos de brigas e desencontros presenciados na infância, as intensas situações de polarizações. Destas experiências é possível compreender a proposta de Francisco no que se refere à cultura do encontro e o enfrentamento das polarizações, que vivenciou não só na infância, mas também como líder jesuíta na própria congregação dos Jesuítas. Francisco buscou e busca sempre valorizar a centralidade da pessoa concreta em suas necessidades. Neste sentido ganha destaque a importância do acompanhamento e discernimento. Isto explica certamente porque ele tanto menciona ser a meta da Igreja, o discernimento permanente.
Outra experiência marcante na vida de Jorge Bergoglio, e que definiu o processo de sua vocação, foi o dia em que indo para um encontro com sua namorada, viu uma Igreja e ao nela entrar, encontrou um confessionário aberto. Passando por ele, compreendeu a importância de uma Igreja sempre de portas abertas. A experiência da misericórdia marcou profundamente aquele que hoje é o Papa Francisco e que insistentemente faz referência à misericórdia. Associada a esta experiência e o acompanhamento de um sacerdote, Jorge Bergoglio iniciou o seu processo vocacional.
Na década de 70, ganha destaque sua compreensão acerca da teologia do povo. O santo povo de Deus, como tanto gosta de dizer, tem um jeito próprio de ser Igreja e entender a Deus. É um modelo não clerical. Isto está destacado em Lumem Gentium e Evangelli Gaudium. Esta é a focalização de Francisco. Proximidade e concretude, este é o mistério da encarnação.
Outro período que marcou profundamente e existencialmente a vida do então Papa Francisco, foi o seu exilio em Córdoba. Foi um período de grande mudança em que passou a exercer uma liderança na companhia de Jesus de forma mais humilde adotando uma política de consenso. Neste momento em sua vida, o da desolação, aprendeu muito sobre a graça de Deus e a forma adequada de enfrentar o conflito através da pacificação. Dizia ele que a tarefa da Igreja é a de manter as contradições reunidas, a fim de que o Espírito trabalhe. Ele nomeava esta situação de política grande. Neste contexto, teve peso em sua vida a Teologia de Gardini, em que se encontram os critérios para o adequado discernimento no enfrentamento dos contrastes a partir destas premissas: o tempo é maior que o espaço, a unidade prevalece sobre o conflito, a realidade é mais importante que as ideias, o todo é superior à parte. Neste horizonte percebe-se que a grande preocupação do Papa é com o pelagianismo, isto é, fugir da encarnação, da realidade humana de carne e osso. Daí se entende a razão pela qual o Papa Francisco faz frequentemente referências às realidades das pessoas, o que para ele é básico e fundamental. Temos aqui uma virada hermenêutica.
O caminho da reforma de Francisco tem sido, sem desconsiderar outras questões, o de propor uma Igreja que saia de si mesma, que deixe de seguir a sua luz própria, que vai ao encontro das periferias existenciais, que possa ir aos lugares em que as pessoas vivem suas experiências de dores e angústias, e aí ser sinal da presença misericordiosa amável de Deus. Esta experiência o Papa Francisco não simplesmente propõe à Igreja, mas, ele mesmo, estando em Buenos Aires e agora em suas viagens apostólicas, acaba priorizando, chegando a alterar rotas definidas em suas viagens anteriormente pela sua comitiva.
Portanto, embora tenha tido uma vida complexa, nota-se em que o Papa Francisco investe a sua vida, tempo, dedicação e empenho. Aliás, conhece-se um bispo a partir daquele que é o seu investimento maior. De fato, vivemos hoje com o Papa Francisco uma chave hermenêutica radicalmente diferente de até então.
Joel Maria dos Santos
Membro da Equipe Executiva
Observatório da Evangelização
O Papa Francisco, com seu modo simples, comunicativo, afetuoso, está cativando a todos. Até Evangélicos. Ele sempre pede que oremos por ele. Que Deus lhe conceda saúde e muitos anos para dedicar-se à nossa amada e Santa Igreja Católica.