Evento foi precedido por dois dias de reunião do Conselho Internacional do FSM. A etapa é considerada decisiva no processo de construção coletiva da próxima edição mundial do FSM, que acontece em março de 2018, na Bahia
Por Felipe Sakamoto, do Observatório da Sociedade Civil
A Universidade Federal da Bahia (UFBA) recebeu, nos últimos dois dias (17 e 18 de outubro de 2017), o Seminário Internacional – Resistir é Criar, Resistir é Transformar. Uma iniciativa do Coletivo Brasileiro do Fórum Social Mundial (FSM) em parceria com a UFBA e o Governo do Estado da Bahia, o evento reuniu lideranças de movimentos sociais e organizações da sociedade civil nacionais e internacionais – de países da Europa, África, América do Sul e Canadá – para etapa preparatória decisiva no processo de construção coletiva da próxima edição mundial do FSM, que acontece em março de 2018, em Salvador (BA).
Articulado junto às atividades do Congresso de Pesquisa, Ensino e Extensão da Universidade Federal da Bahia, o seminário teve como objetivos
- fortalecer a mobilização e a articulação entre os movimentos brasileiros de resistência com a dinâmica da sociedade civil planetária;
- aprofundar o entendimento da conjuntura das resistências no Brasil, na América Latina e no mundo;
- apontar as possibilidades de incidência coletiva articulada por meio do FSM 2018 e indicar os eixos orientadores de resistências presentes no FSM 2018.
O lançamento oficial do evento aconteceu na tarde do dia 16 de outubro, no ato de abertura do Congresso da UFBA, na Reitoria da Universidade. O ato reuniu representantes do Conselho Internacional do FSM, da sociedade civil organizada, estudantes, pesquisadores/as, professores/as, artistas, parlamentares e intelectuais. Segundo a organização do evento, ao menos três mil pessoas passaram pelo seminário.
Como o foco do evento é discutir alternativas para os problemas sociais ao redor do mundo, durante dois dias, a programação do seminário contemplou sete mesas temáticas que fomentaram o debate sobre temas tais como:
- desafios da integração regional latinoamericana e africana;
- democracia e comunicação;
- intolerância e discriminações;
- revolução dos gêneros e seu impacto sobre a cultura dominante;
- culturas de resistência;
- precarização do trabalho;
- o papel do FSM na construção das convergências dos movimentos sociais no mundo.
No painel “Terras, territórios e a justiça social e ambiental”, o sociólogo e secretário executivo do Iser Assessoria Ivo Lesbaupin afirmou que é necessário pensar em um novo paradigma de desenvolvimento para o mundo.
“Se quisermos salvar a humanidade, evitar o desastre ecológico, é preciso mudar esse modelo, pensar em superar esse modelo. Não é o desenvolvimentismo, nem o neodesenvolvimentismo. Nós temos que pensar outro modelo de economia”.
Para isso, segundo ele, é necessário uma mudança em diversos setores da sociedade. O incentivo ao uso de energias sustentáveis é fundamento em um mundo onde a poluição do ar mata 7 milhões de pessoas a cada ano, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS).
Quanto ao direito à alimentação, uma alternativa possível apontada por Lesbaupin é a prática da agroecologia em contraponto ao uso intensivo de agrotóxico, que saltou de 2,7 quilos para 6,9 quilos por hectare entre 2002 a 2012, segundo levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Outros pontos apontados foram o acesso à água, ao transporte público e a defesa à Amazônia e ao Cerrado que correm riscos de serem exterminados em detrimento do capital.
“Precisamos construir outra concepção de desenvolvimento e de economia que permita as pessoas bem viver em harmonia com a natureza e em colaboração com os demais seres humanos”, finaliza Ivo.
Criado em 2001, o Fórum Social Mundial é organizado por movimentos sociais e organizações da sociedade civil do mundo todo com o objetivo de elaborar alternativas para os problemas globais. Países como Brasil, Canadá, Quênia, Senegal e Índia já foram sede de edições mundiais do evento pela justiça global, que conta com um processo que também contempla edições temáticas locais.
Sob o lema “Resistir é Criar, Resistir é Transformar”, a próxima edição mundial do FSM acontecerá entre 13 e 17 de março de 2018, em Salvador, na Bahia.
Segundo Damien Hazard, membro da Direção Estadual da Associação Brasileira de Organizações Não Governamentais (Abong) na Bahia e integrante do Coletivo Brasileiro do FSM, durante reunião do Conselho Internacional (CI) do FSM que precedeu o seminário internacional nos dias 15 e 16 de outubro:
“Todos estamos aqui para cuidar de um bem comum que é o Fórum Social Mundial e através dele cuidar do mundo. O mundo está sendo captado pelo capitalismo que, na crise, busca novas formas de se renovar. O fundamentalismo e a extrema direta estão se fundindo e ocupando espaço nas narrativas do mundo. A evolução da economia global está cada vez mais entrando em certa incompatibilidade com a manutenção dos sistemas democráticos, o Brasil é um exemplo disso. E isso contribuiu com o desmantelamento de políticas sociais nas últimas décadas. A responsabilidade do Fórum Social Mundial é grande. O mundo precisa urgentemente de reações e de transformações.”
A reunião do CI foi norteada por uma pauta que contemplou a mobilização e a comunicação do FSM 2018, proposta de calendário até março de 2018, bem como a agenda de finanças. O grupo realizou ainda uma Oficina de Metodologia com o objetivo de contribuir para as convergências entre movimentos e lutas de resistências; refletir sobre as metodologias já utilizadas nas edições anteriores do FSM; e apontar eixos orientadores para o FSM 2018.
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