Projeto de Evangelização “Proclamar a Palavra”: OPÇÃO PREFERENCIAL PELOS JOVENS – Reflexões catequéticas VII

Entre os grandes desafios da ação evangelizadora da Igreja está a opção preferencial pelas juventudes. Assumir as juventudes como compromisso preferencial na ação evangelizadora não é tarefa simples. Desde 1979, na Conferência Episcopal de Puebla, a Igreja tem colocado como opção preferencial os pobres e os jovens. Agora a Igreja Particular de Belo Horizonte, assume publicamente, em sua 5ª Assembléia do Povo de Deus – APD, uma opção preferencial pelas juventudes. O que isso significa? Que impactos trará para a catequese? Que exigências pastorais tal opção exigirá?

Vejamos a reflexão catequética da teóloga Neuza Silveira de Souza, a partir do sétimo compromisso do Projeto de Evangelização “Proclamar a Palavra”: a “Opção preferencial pelas juventudes“:

 

Proclamar a Palavra – Opção preferencial pelas Juventudes

Ser jovem no contexto atual tem suas singularidades. É estar inserido numa sociedade que sofreu profundas mudanças e que se apresenta numa dinâmica acelerada com profundas transformações. Uma sociedade marcada pelo predomínio crescente do neoliberalismo, da tecnociência, da midiatização, da urbanização assimétrica, desenhada pelo fosso da desigualdade social e tão pouco planejada para a mobilidade e a inclusão de todos nas grandes cidades. Surgem, a cada dia, novos valores e conceitos, enquanto outros, por serem julgados desagastados e obsoletos, são descartados. O mesmo pode ser dito dos desafios seja de encontrar o seu lugar ao sol numa cultura da competição seletiva selvagem, seja diante das trágicas situações criadas pela vergonhosa desigualdade social, a condenar milhares de pessoas, desde o nascimento, às novas senzalas das periferias, aglomerados, vilas e favelas. Inseridos no âmbito de uma nova conjuntura familiar, sociopolítica, econômica, cultural, tecnológica e ambiental trazem consigo novos valores, comportamentos, interesses e novas visões de mundo.

A realidade atual, principalmente a social, minada pela injustiça, atingida pela corrupção, particularmente no campo ético-político, causa no jovem atitude de descrédito, de decepção, de melancolia. Há uma diversidade de informações que geram inúmeros conceitos e, diante da complexidade presente, eles passam a conviver com a realidade de maneira virtual. Vivem um mundo virtual de maneira real. São tantas as informações colocadas à disposição de todos, e de qualquer jeito, que as pessoas, principalmente os jovens, acabam se perdendo nesse emaranhado de informações e, muitas vezes, ficam sem saber o que fazer com elas.

Para muitos jovens que não têm acesso às orientações adequadas de suas famílias, não recebem uma educação adequada sobre formas de vida na sociedade, têm se jogado às aventuras e riscos, com amizades não confiáveis, namoros e vida sexual muito cedo e sem cuidados, namoros e amizades virtuais, envolvimento com drogas, violências nas escolas etc.

Torna-se urgente caminhar junto e ajudar aos jovens na busca de sua identidade e no reconhecimento da importância de seus direitos, deveres, limites e consequências. Juntos trabalhar para a construção de um esperançado projeto de vida, capaz de repensar e descobrir a grandeza de decidir sobre a própria existência com liberdade, responsabilidade e compromisso.

Promover a possibilidade de uma vida familiar saudável e uma sociedade mais justa. Uma sociedade que ofereça espaços para a participação, inserção e aproveitamento dos talentos e ideias dos jovens que pode contribuir para uma cidadania mais justa e equitativa.

O Projeto de Evangelização “Proclamar a Palavra”, da Arquidiocese de Belo Horizonte, ao reafirmar a opção preferencial pelas juventudes, coloca em evidência a importância das juventudes como membros imprescindíveis para ajudar a Igreja a se abrir a novos horizontes, na vivência de sua fé e missão. Ao mesmo tempo, a Igreja sente chamada a contribuir para que os jovens façam sua escolha pela busca da vida plena.

No caso de aderirem a fé cristã, a Igreja é chamada a favorecer o encontro com Jesus Cristo e a anunciar a beleza encantadora do Reino de Deus e suas exigências para uma vida nova, na experiência comunitária de amadurecimento da fé, com efetiva participação e reconhecimento.

A Igreja, ao anunciar o Evangelho e fazer um convite pessoal e comunitário para os jovens, precisa testemunhar a beleza da vida nova. Assim, quando lançar o chamado aos jovens para que olham a realidade na qual vivemos, reconhecendo nela as pegadas do Senhor da Vida e da História, ela terá autoridade e atrairá as juventudes, como Jesus, por sua fidelidade. Nesse sentido, todos somos chamados, ao fazer a opção preferencial pelas juventudes, analisar a nossa realidade e, à luz da Palavra de Deus, discernir os desafios e urgências para assumirmos os conflitos e darmos respostas transformadoras que façam, dessa realidade, um lugar de vida abundante para todos. Que possamos dizer como Jesus no Evangelho de João: “Eu vim para que todos tenham vida, e a tenham em abundancia” (Jo, 10, 10b).

Nesse sentido, a Igreja convida os jovens a pensar. E pensar é captar na e da realidade o sentido que a transcende e que, portanto, arranca o sujeito do horizonte fechado e pequeno dos interesses subjetivos, e o transporta para além de si mesmo, ampliando seu olhar para outros aspectos da vida e de sua vocação: solidariedade e felicidade,  prazer e questionamento, capacidade de contemplar e de desfrutar da beleza da vida e de cuidar do universo… e tudo isso contribui para que eles, os e as jovens, recuperem a auto estima e a coragem de sonhar e lutar por seus sonhos.

 

O trabalho pastoral com as juventudes

O cristianismo, ao se aproximar dos jovens, não lhes oferece receita pronta, nenhuma terapia astral, nenhuma panaceia – uma espécie de solução única e imediata para todos os males. Muito menos quer apresentar-lhes uma instituição, um sistema, uma ideologia. Os jovens pós-modernos estão saturados desse tipo de ofertas. É chamado a apresentar, mais pelo testemunho e pelas atitudes que pelas belas palavras, a pessoa de Jesus e seu projeto do Reino de Deus como horizonte de sentido para a vida.

A pastoral necessita estar atenta às suas propostas, procurando acolher e ouvir antes de apresentar qualquer proposta aos jovens. Depois de acolher e ouvir os jovens com seus clamores, alegrias e sonhos, mas também seus medos e dores, a pastoral é chamada a apresentar de modo muito especial a pessoa de Jesus Cristo. Deixar que os jovens percebam que Jesus viveu a aventura humana sendo fiel ao seu projeto de vida até as últimas consequências. Assim, eles perceberão que Jesus não só teve um entusiasmante projeto de vida. Viveu-o. E essa vivência caracterizou-se pelo diálogo e pela relação com o Pai, aquele ele chamava de Abbá (Paizinho querido), atento aos desafios de seu tempo, identificando-se com as dores e esperanças de seu povo, especialmente dos esquecidos, desimportantes e invisibilizados. Mostrou, com palavras e obras, que Deus era amor e estava, com seu amor, no meio dos pobres para fortalecer a sua luta por vida plena.

Jesus não só viveu, nem só anunciou o Reino de Deus. Ele testemunhou o projeto de Deus por palavras e ações e hoje, Ressuscitado, convida-nos a fazer o mesmo: segui-lo. É isso que define o ser cristão: seguir a Jesus Cristo nos desafios do tempo em que vivemos. Aceitar o seu convite passa pela decisão pessoal de ir ao encontro do Senhor Ressuscitado e irmanar-se com outros para juntos, movidos pela fé, enfrentarmos os desafios da vida, confiantes de que a nossa meta é a comunhão com Deus.

Colocar-se no caminho, no seguimento, é um compromisso que entusiasma, pois se descobre que Deus ama as pessoas não pelo que aparentam, mas pelo que são. Descobre-se que não há limites na doação gratuita do amor. Para os jovens e adolescentes, abraçar o projeto de vida de Jesus é certamente maravilhoso porque ele traz consigo o desejo de viver em plenitude e a vontade de aceitar-se e ser aceito gratuitamente. Trata-se de um projeto que responde aos anseios mais profundos do coração humano.

(os grifos são nossos)

Neuza

Neuza Silveira de Souza

Teóloga leiga, com especialização em teologia pastoral voltada para a catequese, objeto de  sua especialização e pesquisa de mestrado. Atualmente, coordena da Comissão Arquidiocesana Bíblico-Catequética da Arquidiocese de Belo Horizonte.