Evangelizar implica que a pessoa que recebe o anúncio da boa notícia do Reino de Deus perceba e reconheça na pessoa e na vida do evangelizador alguém que experimenta, com entusiasmo, o sabor do que é anunciado.
A espiritualidade cristã, por ser aquilo que faz chegar ao coração ou que favorece o toque da graça no mais profundo de nosso ser, é um dinamismo vital criado pelo cultivo diário da experiência da presença amorosa de Deus na concretude real de nossa vida.
Espiritualidade é aquilo que ajuda a pessoa a viver na presença de Deus, a saborear o amor divino que nos sustenta em nossa autonomia e nos promove a ser a cada dia uma pessoa melhor.
Neste sentido, vale a pena ler o texto da Lucimara Trevisan, que escreveu para catequistas, mas que pode ajudar a cada um de nós a se enamorar do mistério divino e deixar-se penetrar pela luz do amor de Deus.
O cultivo da Espiritualidade do catequista
O cuidado com a espiritualidade do catequista se faz prioridade. É a espiritualidade que mantém acesa a chama do Amor-Encontro com Deus e da missão do catequista. Sem espiritualidade o cansaço, o desânimo, o ativismo, tomam conta.
O que é Espiritualidade?
A espiritualidade é como o oxigênio do coração. É o que nos faz viver segundo o Espírito. É uma maneira determinada de viver a globalidade da vida, com seus afazeres, dificuldades, objetivos e desafios, orientando-a pela luz da nossa fé cristã. Espiritualidade é nossa dimensão divina em tudo o que é humano.
Numa bela definição, Pe. Adroaldo Palaoro sj, nos diz:
“É a espiritualidade que reacende desejos e sonhos, que desperta energias em direção a algo ‘mais’; é a espiritualidade que faz descobrir, escondida no cotidiano, a presença amorosa do Deus Pai-Mãe que nos envolve; é a espiritualidade que projeta a vida a cada instante, abre espaço à ação do Espírito, nos faz ser criativos e ousados em tudo o que fazemos e dá sentido e inspiração a cada ação humana, por mais simples que seja; é a espiritualidade que nos desperta e nos faz descobrir que nossa vida cotidiana guarda segredos, novidades, surpresas… que podem dar novo sentido e brilho à vida.
É um modo de ‘ler’ e interpretar a mensagem que cada experiência de vida pode nos comunicar. Essa dimensão espiritual se revela pela capacidade de diálogo consigo mesmo e com o próprio coração, se traduz pelo amor, pela sensibilidade, pela compaixão, pela escuta do outro, pela responsabilidade e pelo cuidado como atitude fundamental”.
Espiritualidade consiste primariamente não na recitação piedosa e humilde de determinados exercícios devocionais religiosos…, mas num modo de se posicionar na vida e ver todas as coisas. Olhar o mundo com os olhos do coração, ver o sagrado mistério da realidade… Então, espiritualidade não é momentos de oração. Esta seria uma definição muito capenga. Nem se reduz a sacramento, retiro, silêncio…
Espiritualidade é o cultivo das coisas do Espírito. A palavra espiritualidade vem de espírito. Na Bíblia, “espírito” quer dizer vida, movimento, força, presença, sopro, ardor. Espírito é a força que leva a agir. Espiritualidade é uma força que nos anima, inspira. Ela vem de dentro de nós e nos impulsiona para a ação. Na vida do cristão, esta força vem do e é o próprio Espírito Santo em nós. Este acende em nós o fogo do amor: amor a Deus, amor aos irmãos, amor a catequese. E o amor nos faz atuar, agir.
Quem experimenta o encontro com Deus-Amor deseja estar com Ele. A oração é a conversa mais particular e íntima com Deus, que realimenta e fornece combustível para a dinâmica do encontro permanente com Ele e da leitura da sua presença na vida. Pondo diante de Deus o que somos e vivemos, ele nos ajuda a ver mais claramente, a identificar seu apelo nos chamados sinais dos tempos, que estão aí na nossa história pessoal e na sociedade. A oração mais do que palavras é estar com Deus. Como diz Santa Tereza é “querer estar a sós com aquele que sabemos que nos ama”.
Sem espiritualidade a catequese perde o rumo
Sem o cultivo da espiritualidade é muito difícil a catequese caminhar bem. As coisas se transformam em rotina, o desânimo vai minando o trabalho, os conflitos tumultuam o grupo. Sem espiritualidade as pessoas vão ficando endurecidas, descrentes, desgastadas. A espiritualidade mantém viva o “porquê” e o “para que” somos catequistas. A causa (a paixão por Jesus e pelo Reino de Deus) nos mantém no caminho do seguimento e da paixão pela educação da fé da comunidade cristã.
Quem cultiva a espiritualidade, sente-se habitado por uma Presença Maior, que irradia ternura e amor, mesmo em meio à maior dor. Tem entusiasmo porque sabe que carrega Deus dentro de si. Mesmo com desafios, dores, sofrimentos, um catequista assim sabe-se a caminho e um eterno aprendiz do Amor.
Dicas para o cultivo da espiritualidade cristã
– Pode ser preciso realizar algum tipo de formação sobre espiritualidade (o que é e o que não é; o que é experiência de Deus; a oração cristã…). Mas, é importante ter presente que um curso sobre espiritualidade não irá resolver o cultivo da espiritualidade do grupo de catequistas.
– Iniciar todas as reuniões com o grupo de catequistas (da paróquia, da comunidade) com um belo tempo de oração-celebração. Para isso, é importante preparar com antecedência o ambiente e a celebração. O site “Catequese Hoje” tem postado muitas sugestões em “Tempo da Delicadeza” (Acesse: www.catequesehoje.org.br).
– Organizar manhãs ou tardes de espiritualidade, de maneira bem catequética, cuidando da centralidade da Palavra de Deus. Cuidar para ter espaço de silêncio e oração pessoal. É possível convidar alguém para ajudar na reflexão, mas cuidado para não transformar tudo em palestra e lição de moral. Seria bom se fosse planejado uma vez por semestre, pelo menos.
– Organizar retiros (um dia, um final de semana) com o grupo de catequista. O catequista precisa sair da rotina diária, ter espaço para saborear o encontro com Deus e consigo mesmo. Retiro não é curso ou palestra. Podemos pedir ajuda de algum pregador. Pode ser agendado uma vez ao ano. Quem experimenta o gosto bom de um retiro não irá fugir dele.
– Cuidar especialmente da acolhida dos catequistas, catequizandos, famílias. Isto é parte integrante do cultivo de uma espiritualidade da comunhão fraterna.
– Desenvolver o cuidado e a atenção com cada catequista e também catequizando, percebendo cada um como uma delicada obra de arte de Deus. Escutar as pessoas, ser sensível ao que estão passando.
– É necessário aprender a “gastar tempo” diante do Senhor e de sua Palavra. Podemos cultivar a espiritualidade através de pequenas coisas:
a) A oração ao amanhecer e ao dormir;
b) A leitura cotidiana de trechos da Bíblia,
c) Leitura orante da Bíblia;
d) Ofício divino das comunidades;
e) A contemplação e a adoração silenciosa ao Santíssimo;
f) Os momentos de silêncio interior para escutar os apelos de Deus;
g) A escuta de músicas, filmes, orações ou reflexões de um CD de meditação;
h) A participação na celebração eucarística;
i) Dentre muitas outras;
Temos que ter o cuidado para não cair na rotina de usar somente as orações “decoradas” ou simplesmente lidas. É importante rezar a vida e rezar com a vida, trazendo para o nosso interior, portanto, a realidade em que vivemos. Perceber a presença e atuação de Deus na vida, no mundo.
– A oração em comum alimenta em todos a comunhão na vivência em comunidade. A celebração eucarística é uma das que mais expressa e realiza a comunhão com Deus e com os irmãos. Mas a espiritualidade da comunidade não se reduz à participação na missa. Toda a vida do cristão deve ser um culto agradável a Deus.
Lucimara Trevizan
Comissão Regional Bíblico-Catequética do Leste 2
Colaboradora do Observatório da Evangelização – PUC Minas
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